Se não assistiu ainda, procure agora no YouTube algum vídeo que mostre como iPhones e iPads são montados nas fábricas da FoxConn na China. Preste atenção às tarefas de cada um dos chineses e reflita: não poderiam ser todos substituídos por robôs? Terry Guo, presidente da empresa, recentemente afirmou que é isso mesmo o que pretende fazer nos próximos três anos.
Em 2011, o McDonald's decidiu instalar 7 mil totens com os menus em telas sensíveis ao toque e pagamento via cartão de crédito para substituir atendentes humanos na Europa. O design é semelhante aos dos equipamentos instalados por companhias aéreas nos aeroportos para agilizar o check-in, reduzindo tanto as filas quanto o número de funcionários envolvidos no processo de embarque de passageiros.
Basta olhar ao redor para perceber que a automação engloba cada vez mais atividades e traz uma tendência óbvia: a redução do número de empregos. Incomum é a visão do cientista italiano Federico Pistono sobre o assunto. Pistono esteve em Porto Alegre na última semana para divulgar seu livro Robots Will Steal Your Job, But That's Ok: How to Survive the Economic Collapse and Be Happy (Os Robôs Vão Roubar Seu Emprego, Mas Está Tudo Bem: Como Sobreviver ao Colapso Econômico e Ser feliz). Aos 26 anos, o italiano está sendo cotado para palestrar no TED Global, evento internacional que reúne pensadores influentes com ideias inovadoras.
- Imagine que um extraterrestre chega ao nosso planeta e nos pergunta o que fazemos: vivemos em caixas gigantes, acordamos e dirigimos no ar-condicionado até outra caixa gigante. Ficamos lá por oito horas fazendo algo de que especialmente não gostamos. Pegamos o dinheiro que ganhamos com isso, compramos coisas que não precisamos, voltamos para a casa e estamos cansados demais para ficar com nossas famílias. Aí assistimos TV. O que os aliens pensariam da nossa sociedade? - questiona Pistono.
Apesar de reconhecer a possibilidade de um futuro sombrio decorrente da redução radical do número de postos de trabalho, o italiano aposta em um cenário otimista. Para ele, a mesma automação que é responsável pelo fim dos empregos poderia ser capaz de produzir tudo o que precisamos para satisfazer às necessidades básicas humanas: alimentos, energia, segurança e transporte. Com isso, caberia às pessoas decidir o que fazer com o próprio tempo. Estariam livres para se dedicar as suas paixões verdadeiras.
E, se você acha que tem um trabalho que não poderia ser automatizado, pode estar equivocado. Motoristas, vendedores, garçons, enfermeiros, professores e jornalistas estão na lista de profissionais com os dias contatos, de acordo com Pistono. Criatividade não é mais uma fronteira para os robôs. Na verdade, por que não imaginar que o próximo livro sobre automação está sendo escrito agora mesmo por uma máquina?
Além da indústria, há outras áreas em que os robôs podem trabalhar. Em muitas delas, o avanço tecnológico é muito mais rápido do que a maioria das pessoas imagina. Veja alguns exemplos:
Jornalismo automatizado
Reunir uma série de informações, comparar com dados históricos, organizar tudo em forma de um texto interessante e compreensível. A descrição para o trabalho de muitos jornalistas e escritores agora também pode ser aplicada à tarefa executada pelo software da empresa Narrative Science. E o resultado surpreende: não é um amontoado de palavras desconexas. Pelo contrário, pode ter um estilo muito mais agradável do que o de muita gente. Tanto que a revista Forbes, uma das mais reconhecidas do mundo, decidiu empregar o sistema para gerar textos em uma das seções de análise financeira do site. Para boa parte dos leitores, a diferença pode ser imperceptível.
Inspiração tecnológica
Nas artes visuais, são inúmeras as experiências. Pindar van Arman construiu robôs para pintar telas a partir da imagem criada com um software que opina sobre o resultado. A música também não é exclusividade humana. A robô Emily Howell ganhou fama após criar uma interessante melodia. O processo envolveu a análise de peças clássicas em busca de padrões, gerando uma obra original.
Máquinas que salvam vidas
A causa é inquestionável: diminuir a exposição de seres humanos a situações de risco. Essa é uma das finalidades das pequenas máquinas voadoras criadas pela equipe do professor Vijay Kumar. Prédios com estruturas abaladas ou com vazamentos químicos são alguns dos lugares em que os robôs poderiam atuar. Há projetos semelhantes - mais ou menos complexos - sendo desenvolvidos em diversos países. O interessante é que são os robôs que decidem como vão se movimentar e quais formações irão compor no caminho. Se estão em um corredor e precisam passar por uma janela estreita, por exemplo, não precisam de comando externo para formar uma fila.
Robôs ao volante
Desde que o projeto do Google de um carro sem motorista entrou em fase de testes, a expectativa de um trânsito sem acidentes só cresceu. Com sensores capazes de calcular a distância de outros automóveis, reconhecer a sinalização e descobrir o melhor percurso, o veículo percorre alguns trechos em segurança. Federico Pistono prevê que não está longe o futuro em que a profissão de motorista será extinta. O cientista italiano ressalta que os robôs não sentem sono, não se distraem e não ficam bêbados: seria o fim de parte das causas de tragédias no trânsito.