Em tempo de pressão por redução do juro no Brasil, que nasceu e ganhou corpo no Palácio do Planalto, o tema antes confinado ao crediário das lojas e aos guichês bancários ameaça ganhar as ruas. Amanhã, no dia de Santa Edwiges, padroeira dos endividados, protestos convocados por uma central sindical devem se multiplicar por várias capitais, retrato de uma nova investida contra o alto custo financeiro no país.
O clima de "todos contra o juro alto" tem uma explicação matemática. Somente neste ano, os brasileiros gastaram R$ 23,34 bilhões com pagamentos de empréstimos bancários. Isso significa que, dos R$ 68,5 bilhões concedidos em linhas pessoais de crédito, 34,1% são referentes a juros. O cálculo da despesa foi feito pela empresa de classificação de risco Austin Rating, especializada no segmento financeiro, com base nos saldos e nas respectivas taxas de juro cobradas em cada linha, conforme relatório de crédito de agosto do Banco Central (BC).
- Os juros rotativos do cartão de crédito e do cheque especial saltam aos olhos em qualquer comparação internacional - aponta Luis Miguel Santacreu, analista de instituições financeiras da Austin Rating.
Considerada "exorbitante" até pela presidente Dilma Rousseff, a taxa média do rotativo do cartão de crédito passa de 238% ao ano - quase 33 vezes maior do que a taxa básica de juro (Selic).
- Há 10 anos, a taxa Selic era de 22% e agora baixou para 7,25% ao ano. Essa redução não foi nem de perto acompanhada pelos juros cobrados em empréstimos para os clientes - compara Miguel José Ribeiro de Oliveira, presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Se restrita aos financiamentos bancários a conta já tem um resultado exorbitante, é preciso considerar ainda que os consumidores têm consciência de apenas uma pequena parcela do que efetivamente pagam em juros, incluídos aí os custos no comércio.
Estudo feito pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República com base em cruzamentos de dados do BC e do IBGE apontou que as famílias só percebem 1,9% do que realmente desembolsam com esse tipo de pagamentos - o restante é o que se chama de taxas invisíveis.
Amanhã, a União Geral dos Trabalhadores (UGT) lançará campanha nacional para conscientizar a população sobre o tamanho das taxas cobradas.
- Isso não existe em nenhum lugar do mundo. É um assalto contra a população que tem salário limitado e recorre ao financiamento dos cartões - critica o presidente nacional da UGT, Ricardo Patah.