Sequência do filme de 1987, Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme é uma das primeiras produções sobre a megacrise de 2008. A história original, que se chamava apenas Wall Street, e no Brasil ganhou o adendo Poder e Cobiça, havia sido justificada pelo diretor Oliver Stone como homenagem ao pai, que trabalhou na indústria financeira americana.
A continuação foi decorrência da história e da oportunidade. Como nem livros de 500 páginas deram conta de explicar a primeira crise do século 21, Stone não se propõe a fazer um filme de negócios. Wall Street e seus personagens compõem um drama familiar hollywoodiano, mas a primeira parte evoca fatos que ainda ardem na memória de quem acompanha a economia.
QUEM É GORDON GEKKO
Gordon Gekko (Michael Douglas), personagem que protagoniza o primeiro filme, foi inspirado em Michael R. Milken - daí as iniciais iguais (MM e GG). Milken é considerado o "inventor" dos papéis podres (junk bonds) e disseminador da securitização (conversão de dívida com recebimento futuro em títulos negociáveis à vista, com pagamento imediato).
Nos anos 1980, Milken foi réu confesso em seis acusações de fraude e conspiração, pagou multas de US$ 600 milhões e passou 22 meses preso.
Em 2008, quando o sistema financeiro mundial necessitou de trilhões de dólares de resgate público para se manter em pé, voltara a circular em Wall Street como sócio da Knowledge Universe, uma empresa de educação.
PRIMEIRA EMPRESA DE JAKE
A Keller Zabel, onde trabalha Jake Moore (Shia LaBoeuf), representa o primeiro grande banco a desmoronar em Wall Street no fatídico 2008, o Bear Stearns (edifício-sede acima). Antes um sólido gigante financeiro, a instituição teve de aceitar a proposta de compra do JP Morgan de US$ 2 por ação, cujo preço era de US$ 30 apenas 48 horas antes. Na cena em que se discute o preço das ações da Keller Zabel, Bretton James (Josh Brolin) - um dos vilões da história - oferece exatamente US$ 2 por ação.
BILL CLARK, O MANDACHUVA
Na reunião que decreta o destino de Zabel, quem toma as decisões é um sujeito careca chamado Bill Clark. Mais adiante no filme, quem ouve dos executivos que a necessidade de resgate se eleva a US$ 700 bilhões ou US$ 800 bilhões é o mesmo Bill. A referência é o secretário do Tesouro no governo Bush, Henry Paulson (foto ao lado), que montou o pacote de socorro ao sistema financeiro de mesmo valor.
SUBPRIME E A BOLHA IMOBILIÁRIA
Gênese da crise, hipotecas de alto risco e especulação com imóveis são simbolizadas pela mãe de Jake, vivida por Susan Saradon. Gekko também comenta, em palestra, que um garçom comprara três casas pelas quais não podia pagar. É uma referência ao administrador de hedge fund Steve Eisman, que apostou contra a bolha imobiliária ao descobrir que a babá da casa comprara cinco casas de luxo.
PRESIDENTE DO BEAR STEARNS
A caracterização de Louis Zabel (Frank Langella) remete à aparência de Alan "Ace" Greenberg, presidente (chairman) do Bear Stearns, que se descrevia como "um sujeito careca de gravata borboleta" e costumava atuar na mesa de operações em mangas de camisa, exatamente como Zabel é retratado.
LEHMAN BROTHERS
Embora tanto a Keller Zabel quanto a Churchill Schwartz sejam baseadas no modelo do Lehman Brothers - exclusivamente de investimento -, o filme não põe foco no banco cuja falência precipitou o auge da crise, em 15 de setembro de 2008. A quebra e seus efeitos são simbolizados por uma imagem um tanto óbvia de peças de dominó caindo em sequência.
SEGUNDA EMPRESA DE JAKE
Bretton James faz a oferta à Keller Zabel em nome da Churchill Schwartz. Isso poderia sugerir que a companhia fictícia representa o JP Morgan, que comprou o Bear Stearns. No entanto, a evolução da história aponta para a identificação da Churchill Schwartz com a Goldman Sachs, que chegou a ser investigada por disseminar rumores sobre o Bear. O logotipo CS no helicóptero negro - faltando um traço para GS - reforça a associação.
Notícia
Filme Wall Street evoca crise de 2008
Diretor Oliver Stone homenageia o pai, que trabalhou na indústria financeira
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