Segurança para os negócios, ampliação do crédito, confiança em relação às perspectivas de consumo. Esse é o cenário ideal para desenvolvimento de um bom ambiente econômico. No entanto, as boas práticas, muitas vezes, esbarram em dificuldades financeiras de várias ordens, sendo a inadimplência um dos problemas mais recorrentes.
Atentos à alta de dívidas em aberto nos últimos anos e buscando garantir a dinâmica do mercado, a Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL POA) e seus especialistas trabalham na elaboração de estratégias para conter danos e corrigir rumos. Com isso, a entidade visa auxiliar no progresso econômico e garantir aos seus associados não somente o acesso ao crédito, mas diversas outras formas de reverter a inadimplência.
Na entrevista a seguir, o gestor de Crédito e Cobrança da CDL POA, Diego Ramos, e o economista-chefe da entidade, Oscar Frank, comentam esse complexo e desafiador cenário. Confira:
Como as empresas foram impactadas pelo aumento da inadimplência nos últimos anos?
Economista-chefe da CDL POA, Oscar Frank – Conforme dados da CDL POA, o percentual de pessoas físicas adultas com restrição em crédito, cheque ou protesto apresenta trajetória ascendente. Nossa série histórica mostra que o índice do Rio Grande do Sul saiu de 28,8% em fevereiro de 2022 para 30,8% em julho de 2023. Quanto maiores os números, menor tende a ser a disposição para gastos com bens e serviços. A recuperação da economia propiciada pela injeção sem precedentes de estímulos do Poder Público legou um cenário de inflação e juros altos, somados a problemas na cadeia de insumos e suprimentos. Apesar dos sinais de progresso, o panorama adverso pós-pandemia prejudicou a atividade empresarial.
Quais caminhos as empresas podem adotar para minimizar os riscos da inadimplência?
Gestor de Crédito e Cobrança da CDL POA, Diego Ramos – Existem alguns fatores importantes e que as empresas precisam estar atentas. O primeiro é entender se há uma área robusta com profissionais qualificados para gerir a concessão do crédito, tendo cuidado com fraudes, além de medidas, como apresentar um leque de ofertas aos clientes inadimplentes, estar atento a indicadores sazonais e delimitar investimentos, acompanhando de perto suas performances. Caso a empresa não conte com tal estrutura, a solução pode ser a terceirização desta área.
Programas como o Desenrola Brasil conseguem impactar positivamente a confiança do consumidor e dos empresários, com perspectiva de aumentar o volume de negócios ao limpar o nome de quem estava com restrições?
Oscar Frank – Alguns levantamentos evidenciam que as renegociações da Faixa 2 beneficiaram cerca de 3,5 milhões de pessoas, cujos nomes foram retirados das bases de negativados. Mas, cabe lembrar, que a parcela expressiva das dívidas em atraso está abarcada pela Faixa 1, com início previsto para setembro. A despeito do efeito positivo sobre a confiança no curto prazo, tenho ceticismo sobre as consequências a médio e longo prazo. De um lado, os consumidores podem esperar que ações semelhantes sejam recorrentes, incentivando a tomada de riscos desnecessários no mercado de crédito, na expectativa de novas rodadas vantajosas. Por outro lado, a medida não ataca as causas estruturais da inadimplência, incluindo os desequilíbrios fiscais e a falta de educação financeira da população.
Como a recuperação do crédito pode beneficiar as empresas e dinamizar o mercado consumidor?
Diego Ramos – A recuperação do crédito é a segunda linha de defesa contra a inadimplência. É de suma importância para as empresas manter um ambiente saudável. Com uma recuperação assertiva elas são capazes de aumentar seu fluxo de caixa e recuperar valores em prejuízo. Já o consumidor que é "resgatado" e consegue zerar suas dívidas no mercado se torna um novo potencial comprador e, muitas vezes, recupera a possibilidade de tomar crédito, o que auxilia a movimentar a economia e dinamiza o mercado.
Quais as perspectivas econômicas para o segundo semestre deste ano?
Oscar Frank – A conjuntura deve ser um pouco melhor, mas não exuberante, diante de preços mais comportados, do barateamento do custo do crédito e de um possível ganho de tração da retomada global. O mundo provavelmente continuará crescendo de forma moderada, na esteira da sustentação de juros elevados para frear a deterioração do poder de compra das moedas. O impacto do atual ciclo de queda da taxa SELIC deve ocorrer somente em meados de 2024.