O saldo negativo deixado pela Operação Leite Compen$ado se reflete até hoje na conta bancária de milhares de pecuaristas gaúchos que deixaram de receber valores devidos por empresas envolvidas no crime de adulteração do produto.
— Apesar de não ter tido nada a ver com a fraude, foi o produtor quem pagou a conta — lamenta o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag), Carlos Joel da Silva.
Segundo a entidade, aproximadamente 10 mil fornecedores gaúchos de leite ainda têm dinheiro a receber de empresas, muitas inclusive fecharam as portas após investigação do Ministério Público. Os processos estão na Justiça, mas algumas indústrias decretaram falência, o que dificulta ainda mais o pagamento.
Apesar do prejuízo financeiro, e do desgaste da imagem da bebida na época, o dirigente acredita que o escândalo também deixou saldo positivo:
Apesar de não ter tido nada a ver com a fraude, foi o produtor quem pagou a conta.
CARLOS JOEL DA SILVA
Presidente da Fetag
— No fim foi benéfico, pois excluiu do setor os infratores e fez o Estado acordar para a necessidade de fiscalização e controle mais eficientes de toda a cadeia do leite.
Presidente do Conselho Brasileiro de Qualidade do Leite (CBQL), o professor universitário André Thaler Neto também vê lições deixadas pela Operação Leite Compen$ado.
— Foram tirados ensinamentos desse problema, como a não aceitação de práticas incorretas e maior cuidado e valorização da qualidade do leite, fator determinante para um mercado gigante como o brasileiro — avalia Thaler Neto, professor da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).
Controle migra para outros alimentos
A descoberta da fraude de adulteração de leite acabou se desmembrando para o controle e fiscalização de outros alimentos no Rio Grande do Sul. Em 2015, dois anos após a primeira Operação Leite Compen$ado ter sido deflagrada, o Ministério Público criou o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado – Segurança Alimentar (Gaeco).
— Encontramos problemas em diversos produtos, como carnes, embutidos, palmito e água mineral — exemplifica o promotor de Justiça Alcindo Luz Bastos da Silva Filho, um dos coordenadores do Gaeco e também da Operação Leite Compen$ado nas investigações envolvendo a defesa do consumidor.
Em pouco mais de três anos, o Gaeco vem atuando na fiscalização e interdição de estabelecimentos comerciais com produtos fora da validade, mal armazenados, sem procedência, em péssimo estado de conservação e fora da temperatura ideal. De lá para cá, foram mais de 900 mil quilos de alimentos descartados em diversas regiões do Estado.
— Temos um trabalho integrado forte, entre diversos órgãos de fiscalização. Muitas ações começam pelo nosso grupo de WhatsApp, onde suspeitas são imediatamente investigadas para conter práticas ilegais o mais rápido possível. Os órgãos atuam de forma conjunta — explica o promotor.
A investigação do Gaeco Segurança Alimentar é feita em parceria com Procon-RS, Polícia Civil, Centro Estadual de Vigilância em Saúde, Secretaria Estadual da Agricultura e Ministério da Agricultura.