Boa parte do que os produtores João Benicio Zwirtes, 53 anos, e Flavia Teresinha Zwirtes, 51 anos, conquistaram ao longo de três décadas deve-se ao leite. A recente crise no setor, entretanto, levou o casal de Estrela, no Vale do Taquari, a repensar o trabalho. A intenção é de, em até dois anos, deixar totalmente a venda do produto, que hoje chega a 600 litros por dia. Nesse intervalo, João e Flavia buscarão negociar suas vacas e investir na pecuária de corte.
– Nossa produção já alcançou 900 litros por dia. Mas o problema é que o trabalho não dá liberdade – menciona João.
Além da queda no preço do leite, a obrigação diária com a atividade e a falta de sucessão familiar – nenhum dos quatro filhos deverá seguir no ramo – fizeram o casal buscar outro caminho.
– Não tem férias, nem sábado e domingo – acrescenta Flavia.
Apesar das dificuldades atuais apontadas por produtores, a redução no número de quem vende para a indústria já estava acontecendo antes de 2015, segundo o coordenador da área de leite da Emater, Jaime Ries. Na visão dele, a atividade ainda pode ser bastante lucrativa:
– É algo natural. A diferença é que agora passamos a fazer a medição do movimento. Essa redução já ocorreu em outras atividades. Existe um processo de especialização no campo. Há muita gente ganhando bem com o leite. É preciso buscar conhecimento e investir de maneira correta.
Reação do mercado depende da economia
Presidente do Conselho Estadual do Leite (Conseleite) e do Sindilat, Alexandre Guerra também avalia que o aumento da especialização no campo pode trazer avanços à atividade. Entre 2015 e 2017, enquanto o número de produtores gaúchos caiu 22,6%, a produtividade das vacas cresceu 7,5% e a das propriedades, 24,9%, conforme a Emater.
– Em números, o setor ficou mais concentrado. Isso é algo muito natural. Para o Estado ser mais competitivo e concorrer com mercados como o argentino e o uruguaio, precisamos produzir mais – frisa Guerra.
Para o assessor de política agrícola da Fetag, Márcio Langer, os preços pagos no campo poderão avançar em 2018. A reação no setor leiteiro, pondera, dependerá da confirmação de retomada mais consistente e robusta da economia nacional.
– A tendência é de que a atividade volte a crescer. Se houver melhora econômica, o poder aquisitivo do consumidor aumentará – resume.