Após o fim da nossa palestra no Fórum Nacional do Milho, na Expodireto 2017, veio a já esperada pergunta de um agricultor: "O preço do milho pode melhorar ou ainda cairá mais?" Como sempre, devolvo esse tipo de pergunta: "Melhorar para quem? Para você, que é produtor de milho, ou para suinocultores, avicultores e produtores de leite, que amargaram prejuízos com os valores recordes de 2016?".
Não há preço melhor ou pior. Isso depende da ponta da cadeia produtiva em que você está. Os preços sobem e descem, de acordo com as inúmeras variáveis que interferem nos mesmos: clima, câmbio, estoques de passagem, exportações, importações, cotações futuras etc. Sempre afirmo que preços baixos demais para quem produz trazem efeitos danosos tanto quanto preços muito acima das médias históricas o fazem. Explicaremos melhor o que ocorreu.
Em 2016, o recorde foi resultado de uma combinação inédita de fatores que, em sequência, criaram uma pressão altista acentuada. Puxadas pela forte alta do dólar ante o real, em apenas seis meses - setembro/2015 a fevereiro/2016 - as exportações brasileiras atingiram 30 milhões de toneladas. Isso é o que, normalmente, exportamos, em um ano inteiro. Os estoques caíram rapidamente em todo país. Esse expressivo volume exportado em tão pouco tempo, associado a uma redução de 14% na produção da 1ª safra de 2016 (verão), foi o propulsor inicial para a disparada. Posteriormente, veio a quebra de 30% na 2ª safra de 2016 (inverno), afetada pelo "El Niño". A quebra da 2ª safra reforçou a pressão altista e o preço atingiu o recorde histórico de R$ 53,90 por saca de 60 quilos CIF (inclui produto, seguro e frete) São Paulo em junho/2016.
A alta prolongada dos preços domésticos fez com que as exportações perdessem fôlego, enquanto as importações foram crescendo e atingiram um recorde de 3,3 milhões de toneladas em 2016. Com preços no Interior acima da paridade de exportação (preço nos portos para embarques ao Exterior), as exportações começaram a cair, somando 21,8 milhões de toneladas em 2016, queda de 24% frente ao ano anterior. Os estoques internos voltaram a crescer e os preços começaram a recuar no final de 2016. E seguem caindo em 2017.
Com safra recorde prevista em 91,5 milhões de toneladas no Brasil em 2017, maior concorrência da Argentina - que também deve colher um recorde de 37,5 milhões de toneladas e disputa os mesmos mercados que o Brasil -, os preços precisarão se alinhar às cotações nos portos, para alavancar as exportações e desafogar o excedente de 43 milhões de toneladas que serão gerados neste ano. Esse alinhamento já está ocorrendo e trará um piso para os preços domésticos, próximos dos praticados atualmente.
Carlos Cogo é consultor em agronegócio, especializado em análises,tendências e estatísticas dos mercados agrícolas
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