Com linhas de financiamento para investimento a juros fixos, por meio do Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras (Moderfrota), as vendas médias anuais de tratores no Brasil dobraram, de uma média de 18,8 mil unidades nos anos 1990, para 38,7 mil entre 2000 e 2016. Da mesma forma, as vendas de colheitadeiras também dobraram, passando de uma média anual de 2,2 mil unidades nos anos 1990, para 4,5 mil entre 2000 e 2016.
Desde o lançamento do Moderfrota, no ano 2000, foram vendidos 659 mil tratores e 77 mil colheitadeiras no Brasil. Diante destes números robustos, poderíamos imaginar que nossa frota de máquinas está renovada e bem dimensionada para atender à crescente demanda por alimentos produzidos no Brasil. Será verdade? Não. A frota nacional de máquinas agrícolas segue necessitando de renovação. No mesmo período, ocorreu aumento expressivo de 54% na área plantada com grãos no país, com a incorporação de mais de 20 milhões de hectares – taxa média anual de incremento de 2,6%. A produção de grãos deu um extraordinário salto de 150%, ultrapassando a casa de 200 milhões de toneladas, com taxa média de incremento de 5,7% ao ano.
Mesmo que as vendas de máquinas agrícolas tenham dobrado com o programa de financiamento, a expansão ainda mais acelerada de áreas de cultivos e os ganhos tecnológicos que puxam a produtividade para cima não permitiram que a renovação das máquinas se concretizasse. Da frota atual de 1,266 milhão de tratores, 44% têm mais de 20 anos de uso. São mais de 560 mil unidades que necessitam ser repostos apenas para manter a frota economicamente viável. No caso das colheitadeiras, a situação parece ainda pior. Das 162 mil máquinas no país, quase metade (49%) têm mais de 20 anos de uso.
No Plano Safra 2016/2017, foram alocados R$ 5,05 bilhões para o Moderfrota. Os agricultores voltaram a investir e, até 31 de janeiro, já haviam tomado 94% destes recursos. Mas ainda temos mais cinco meses até o novo Plano Safra 2017/2018. O programa, então, recebeu mais R$ 2,5 bilhões de reforço. Mesmo assim, o próprio governo afirma que a expectativa é de que os R$ 7,55 bilhões sejam tomados até abril, o que exigiria, portanto, mais dinheiro. O Ministério da Agricultura já afirmou que poderá haver novo remanejamento, de mais R$ 1,5 bilhão. Em recente reunião com executivos do setor, um representante do ministério afirmou que a demanda considerada para o Moderfrota no Plano Safra 2017/2018 é da ordem de R$ 11 bilhões. Se confirmados, os recursos permitirão manter o patamar mínimo de vendas necessárias para, pelo menos, manter a frota. Mas será preciso muito mais do que isso nos próximos anos, se quisermos renová-la!
Carlos Cogo é consultor em agronegócio, especializado em análises,tendências e estatísticas dos mercados agrícolas
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