*Por Rossana Silva, especial
Dizer com todas as letras, sugerir, mostrar. Falar sobre seus gostos para o parceiro ou a parceira pode fazer a diferença na sua vida sexual. Isso inclui comunicar a posição, o ritmo e os movimentos preferidos – e também aquilo de que você não gosta. Um tipo de conversa que pode ser mais fácil na teoria do que na prática, pois mesmo a intimidade das relações duradouras não pressupõe, necessariamente, sinal verde para dizer em voz alta tudo o que você deseja em pensamento.
– É inacreditável como as mulheres são pouco estimuladas, principalmente as com mais de 50 anos. E, muitas vezes, elas têm dificuldade de mudar essa situação, falando o que lhes agrada. Mas, conforme o tempo vai passando no relacionamento, é preciso renovar-se e conversar sobre novos hábitos. Se não dizemos do que gostamos, o sexo se torna algo sem prazer, levando a um afastamento do casal – afirma a consultora sexual e fisioterapeuta especializada na área pélvica Fabiane Dell’Antônio.
Para quem tem um parceiro fixo (ou parceira), o silêncio sobre o que acontece na cama pode tirar a graça do momento e interferir em outros fatores da relação. Já no sexo casual, a comunicação serve para apontar o caminho a alguém que não lhe conhece tanto assim. E sempre buscando um equilíbrio por meio do diálogo, como explica a ginecologista Caroline Chiarelli:
– Infelizmente, a mulher ainda é rotulada para fazer o sexo perfeito respondendo a todas as expectativas do homem. Nada impede que o sexo sem compromisso seja norteado por um ou pelos dois parceiros. Afinal, ambos estão em busca do prazer e por livre escolha.
Além das preferências, aquilo de que você não gosta – e o que não fará de jeito nenhum – também precisa estar claro para a pessoa com quem está se relacionando.
– Ninguém deve se submeter a posições ou práticas dolorosas sem seu consentimento. Aquilo que não é bom para um deveria ser deletado do plano de sexo do outro – explica Caroline.
Veja algumas dicas da ginecologista e das consultoras Cátia Damasceno e Fabiane Dell’Antônio para falar com naturalidade sobre as suas preferências na hora da transa.
Comece antes da hora H
Não é preciso esperar pelas preliminares para falar sobre sua expectativa no momento da transa. Fabiane Dell’Antônio sugere levar a conversa até para fora do quarto. Aborde o tema a partir dos pontos altos do seu par, reconhecendo o que faz de melhor e elogiando quando o estímulo é gostoso. Depois, aponte o que ainda é necessário para o sexo melhorar para você: sugira carícias, atenção àquela parte do corpo que mais a excita ou posições específicas.
– Recebo mulheres no meu consultório que dizem que não tiveram um orgasmo em 20 anos. “Eu fingi a vida inteira, e agora?”, elas perguntam. Não as aconselho a dizer que mentiram todo esse tempo. É melhor explicar que, por causa da idade, notou uma demora a mais para entrar no clima e, a partir disso, sugerir mudanças no estímulo e adotar novas práticas.
O momento também é de compartilhar a responsabilidade. Esteja aberta a aproveitar a conversa para perguntar se o sexo está legal para o parceiro e o que você pode fazer para melhorar a transa. A mesma lógica se aplica quando a sua parceira é outra mulher. Diferentemente do que algumas pessoas acreditam, as relações homoafetivas não são imunes aos descompassos na cama.
– Tanto mulheres quanto homens homossexuais e transexuais podem ter sensações ou viver situações que não desejam na transa. E, como em qualquer caso, isso deve ser discutido com o parceiro ou parceira para tentar resolver. Afinal, o prazer deve ser mútuo – diz a ginecologista Caroline Chiarelli.
Conheça o seu corpo
Contar ao companheiro ou à companheira o que mais a faz sentir prazer durante o sexo pressupõe que você já tem essas informações para si. E tanto para quem sabe quanto para quem ainda precisa descobrir, estimular a si mesma é essencial para conhecer seu corpo.
– A mulher precisa se permitir experimentar, e a masturbação é fundamental. É como se você estivesse aprendendo a andar de bicicleta, e a masturbação equivalesse às rodinhas extras, é o que vai lhe dar liberdade para experimentar – compara a especialista em sexualidade Cátia Damasceno.
Mais tarde, as descobertas da masturbação podem ser levadas para a relação com seu par. Se você ainda tem receio de explorar essa possibilidade, conversar sobre o tema com um ginecologista de confiança pode ajudar.
– A masturbação auxilia nesse mapeamento da anatomia e da fisiologia de uma região do corpo feminino cheia de tabus que impregnam o psicológico das pessoas muito precocemente na vida. Podemos, como profissionais em ginecologia, instruir e orientar adolescentes e adultas a localizar e explorar as zonas erógenas para melhorar o prazer sexual – destaca a médica Caroline Chiarell.
Fingir orgasmo não vale a pena
Não está legal, não está agradável? Então, por que demonstrar o contrário? Cátia Damasceno e Fabiane Dell’Antônio afirmam que algumas mulheres ainda preferem simular um orgasmo a explicar por que não está legal. Muitas vezes, essa prática pode levar a um ciclo no qual a mulher perde o prazer e finge o gozo para abreviar a relação, enquanto a melhor opção é ser sincera com seu par e dizer como ele ou ela pode estimulá-la para realmente chegar lá.
– “Não está bom, não gosto assim, vamos tentar de outra maneira?” – sugere Cátia.
Fingir o orgasmo também costuma levar o parceiro a cumprir sempre o mesmo roteiro, sem apostar em novas possibilidades ou usar a criatividade.
– Se ela fingir o tempo todo, o outro vai achar que está abafando e o sexo não evolui – diz Fabiane.
Não se culpe se você não teve orgasmo na relação – mas lembre-se de que deve ser prazerosa para você.
– As mulheres não precisam, necessariamente, ter orgasmo. Mas se acharem que gozar é indispensável na vida, então, sim, devem buscar esse prazer – recomenda Caroline Chiarelli.
E sempre é tempo de acessar novas sensações: Cátia Damasceno conta que, ao ser estimulada de maneira correta, uma paciente sentiu orgasmo pela primeira vez aos 70 anos.
Com a experiência do consultório, Caroline explica que, desde quem sente pouco ou nenhum desejo por sexo a quem não pode passar um dia sem transar, diferentes perfis e suas polaridades fazem parte da natureza feminina. E tudo pode ser ajustado, destaca a médica:
– Apoio do ginecologista, informação e terapia são pilares que melhoram a vida sexual.
Humor pode ajudar
Na cama, tudo o que é levado de maneira lúdica e divertida tende a ter um desfecho melhor do que se entrarem em cena cobranças e apontamentos de erros. As conversas – pelo menos as durante o sexo – têm de ser permeadas por humor, sugere Cátia Damasceno:
– Se não está dando muito certo, tome a iniciativa e diga: “E que tal se nós tentarmos de uma maneira diferente?”. Usar a palavra “nós” diminui muito o peso que a gente joga sobre o outro. Quando levamos com humor, fica mais leve e mais tranquilo para a relação.
Mais do que em palavras, o senso de humor pode ser demonstrado com atitudes. Por exemplo: mandar, ao longo do dia, o link de um conto erótico para o parceiro dando o recado de que você também quer experimentar algo semelhante ao que está descrito ali, ou permitir-se enviar a foto de uma lingerie com um recado insinuante. Visitar uma sex shop é um passo mais adiante. Géis, fantasias, vendas e outros objetos podem ajudar a levar para a relação novidades sobre as quais você ainda não conseguia conversar.
– Esses brinquedinhos são uma boa forma de propor que se experimentem coisas novas na relação. Toda vez que a gente experimenta algo diferente, tem a possibilidade de acessar novas sensações. Se gostou, continua. Se não, para por ali mesmo – diz Cátia.
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