Entre especialistas que falam ou escrevem sobre o assunto, a unanimidade é que se trata de um visitante ao mesmo tempo discreto e inconveniente. Quando o casal finalmente se dá conta da sua presença e falar sobre ele se torna algo inadiável, o fim do relacionamento já está aboletado há um bom tempo no sofá da sala.
Segundo Marlei Bonissoni, da coordenação do Domus – Centro de Terapia de Casal e Família, ignorar o fato de que um relacionamento está chegando ao seu final é um processo natural. Uma reação de negação à necessidade de passar por um processo dolorido, ainda que necessário.
– Os casais costumam chegar ao consultório no ponto em que é a última chance para um relacionamento. Então, é claro que ocorre de alguns deles já terem terminado sem que tenham se dado conta. Às vezes, há algum tempo. Mesmo assim, é preciso que eles mesmos cheguem a essa conclusão. Até para que esse entendimento torne o processo menos doloroso. Sem que haja um sentimento de injustiça de uma das partes, por exemplo – declara a terapeuta.
Para se chegar a essa conclusão, há uma série de indícios a serem observados no dia a dia (observe a lista abaixo), mas os terapeutas costumam observar ainda outros fatores mais profundos. Um dos principais deles é medir as expectativas. Verificar se alguma das partes do casal (ou ambas) não criou expectativas irreais sobre o relacionamento. Não vislumbrou no outro algo que ele não é capaz de dar. Ou que deixou de ser capaz de dar, porque um relacionamento, conforme o tempo, exige renegociações.
– É muito difícil assimilar que a outra pessoa não é, ou deixou de ser, como a gente espera. As pessoas mudam ao longo do tempo, e essas mudanças exigem repactuações – avalia a psicanalista Ariane Severo, autora de Encontros e Desencontros: A Complexidade da Vida a Dois (Editora Casa do Psicólogo, 2010).
O que Ariane chama de repactuações, Marlei compara a uma corrida de obstáculos. Desde os principais marcos de um relacionamento jovem – o morar juntos, o planejamento das carreiras ou da constituição de família – até os de um relacionamento maduro – a chegada dos filhos, a adolescência destes, o planejamento da aposentadoria –, cada desafio novo exige que o casal observe suas diferenças e reavalie a sua compatibilidade.
Via de regra, a mulher, quando manifesta a sua vontade de romper, traz uma decisão mais consolidada. Se ela decide é porque na cabeça dela já não há outra saída. Nesse sentido, observo o homem um pouco mais passivo. Tem uma tendência maior a ir levando e tentar que o tempo ajude a resolver.
MARLEI BONISSONI
coordenadora do Centro de Terapia de Casal e Família
Ariane observa ainda que é comum um casal iniciar uma terapia apenas para que uma parte entenda uma decisão pela separação que já está tomada pelo outro. Uma forma de “encaminhar o parceiro” para tratamento mesmo antes do rompimento. Sobre a diferença entre os gêneros, não há percepção de que os homens ou as mulheres sejam os que mais terminam relacionamentos. Porém, Marlei observa, sim, uma diferença entre os dois:
– Via de regra, a mulher, quando manifesta a sua vontade de romper, traz uma decisão mais consolidada. Se ela decide é porque na cabeça dela já não há outra saída. Nesse sentido, observo o homem um pouco mais passivo. Tem uma tendência maior a ir levando e tentar que o tempo ajude a resolver.
Por fim, outro aspecto que salta aos olhos dos especialistas é a comunicação entre o casal. Tanto a sua dinâmica quando os sentimentos que ela revela. Se há uma completa desconexão entre o que um fala e o que o outro entende, é sinal de problema. Outro é se a comunicação deixa de demonstrar afeto ou respeito mútuo. E para avaliar isso, Ariane revela uma técnica interessante:
– Eu costumo perguntar logo no início das sessões como foi que eles se conheceram. Se a gente percebe que ainda há carinho por este momento, que faz recordar aspectos da pessoa que ainda estão presentes, é porque ainda existe um afeto ali que possivelmente possa ser resgatado.
Portanto fica a dica. Se você está em dúvida a respeito do seu relacionamento, feche os olhos e tente retornar ao momento em que você conheceu o seu parceiro. Se a recordação lhe fizer sorrir e se, ao abrir os olhos de volta, a pessoa que você conheceu ainda for a que estiver ao seu lado, é um bom sinal. Do contrário, separar as escovas de dentes talvez seja a melhor opção.
10 indícios de que um relacionamento está no fim
1. Há mais confusão do que clareza
O tempo deve trazer conclusões importantes a respeito da relação. É um sinal de alerta se você se sente mais confusa do que estava antes ou se não consegue visualizar onde estarão no futuro.
2. A sua necessidade de espaço cresce
Todo mundo precisa de tempo para si mesmo. É normal e natural. Mas se passar um tempo consigo mesmo se tornar muito mais aprazível do que ficar com o parceiro, considere um sinal.
3. O que atraía se foi de vez
Alguns atrativos da pessoa - um sorriso bonito, um senso de humor sagaz, um comportamento confiante - são fugazes. É um problema se eles não forem substituídos por outros mais significativos.
4. A ausência de sexo se torna normal
Mais grave do que o sexo acontecer ou não acontecer, ser bom ou ruim, é a falta de desejo não ser sequer mais questão de debate entre o casal. É dois não querem, dois não fazem. E tampouco falam no assunto.
5. Vocês não têm as mesmas ambições
Pode ser em relação a carreira, formação acadêmica, constituição de família ou aspectos pessoais. Cada parceiro deve saber o valor que o outro dá a esses âmbitos da vida, para respeitar e conciliar decisões nesse sentido.
6. Há episódios de desonestidade
Mentiras minam um dos componentes mais cruciais de uma relação, a confiança mútua. A presença de mentiras ou repetidos momentos em que um ocultou algo do outro são sinais de problema.
7. Uma das pessoas é muito carente
Poucas relações sobrevivem a combinação de ciúmes, possessividade e/ou superdependência. São sinais de que ao menos uma das pessoas do casal não tem base emocional sólida para uma relação saudável.
8. Mais e mais você vislumbra um parceiro melhor
É natural ter dúvidas ocasionais se você está com a pessoa certa. Mas se com frequência você se pergunta se há alguém mais adequado para você, convém não ignorar o que isso diz sobre a sua relação.
9. Você sente que não pode ser você mesmo
Por mais que goste de alguém, não é um sinal nada bom de compatibilidade ter de mudar ou de se policiar perto dele a ponto de não poder ser quem você é.
10. Você tem um sentimento de urgência
É quando, independentemente da idade, contabilizar o tempo que você está passando com uma pessoa provoca angústia e começa a parecer um tempo perdido para explorar outras possibilidades.