A menopausa é uma fase natural da vida da mulher que marca o fim dos ciclos menstruais e da capacidade reprodutiva. Ela ocorre, em média, entre os 45 e 55 anos, quando os ovários deixam de produzir os hormônios estrogênio e progesterona em níveis suficientes para manter a ovulação regular.
Esse processo não acontece de forma abrupta, mas gradualmente, com a chamada perimenopausa, que pode durar alguns anos e se caracteriza por ciclos menstruais irregulares até a cessação completa da menstruação. Além disso, é oficialmente diagnosticada após 12 meses consecutivos sem menstruação.
Entre os sintomas mais comuns estão os calores intensos (os famosos “fogachos”), suores noturnos, insônia, alterações de humor, redução da libido, secura vaginal e dificuldade de concentração. Contudo, além desses sinais amplamente conhecidos, existem outros menos falados, mas igualmente relevantes. Abaixo, confira alguns deles!
1. Ainda pode engravidar
A menopausa marca o fim do estoque de óvulos e, consequentemente, da fase reprodutiva da mulher, o que impede que engravide naturalmente. Mesmo que ela não tenha preservado a fertilidade por meio do congelamento de óvulos, ainda pode gestar um bebê por meio da ovodoação, que consiste na doação do óvulo de uma mulher para que seja fecundado em laboratório e implantado no útero de outra.
“O procedimento inicia-se pela realização de uma avaliação para garantir que a mulher possui capacidade de receber o embrião, que, caso seja positiva, é seguida pela busca por uma doadora de óvulos. O óvulo escolhido é fecundado em laboratório pelo sêmen, que também pode ser doado, no caso de gravidez por produção independente, ou coletado do parceiro da receptora”, explica o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo.
Depois, o procedimento de inserção do embrião costuma ser simples. “Após a fecundação e um breve período de maturação, o embrião formado é inserido no útero na receptora através de um pequeno cateter guiado por ultrassom”, diz. Após cerca de 15 dias, é possível realizar exames para verificar a eficácia do procedimento, que, no geral, possui boas taxas de sucesso, com chance de gravidez de 50 a 60%. “Com a confirmação da gravidez, a gestação segue normalmente”, afirma o Dr. Rodrigo Rosa.
2. Dores nas articulações
Apesar de pouco comentado, a dor nas articulações é outro sintoma comum da menopausa. “As articulações, assim como as cartilagens que as protegem, possuem receptores de estrogênio, hormônio que contribui para a manutenção da saúde dessas estruturas. Logo, conforme a produção hormonal é alterada com a menopausa, as articulações ficam mais inflamadas, o que causa dor em regiões como mãos, joelhos e ombros e favorece o surgimento de condições como a artrite e artrose”, diz o Dr. Marcos Cortelazo, ortopedista especialista em joelho e traumatologia esportiva, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT).
O médico explica que estratégias como controlar o peso, praticar exercícios físicos e adotar uma alimentação anti-inflamatória podem ajudar a aliviar o sintoma. A reposição hormonal também pode ajudar, mas deve ser indicada pelo ginecologista. “Em casos mais graves, em que a mulher já desenvolveu doenças como artrite e artrose, a consulta com o ortopedista também é importante para receber o tratamento adequado, reduzindo as dores e melhorando a qualidade de vida da paciente”, completa.
3. Saúde oral é especialmente afetada
A mucosa oral é muito parecida com a mucosa vaginal e, por isso, responde de maneira semelhante às mudanças nos níveis de estrogênio que ocorrem durante a menopausa. “Como resultado, as gengivas podem tornar-se mais vermelhas e inflamadas, com maior propensão a sangramentos e doenças gengivais”, explica o Dr. Hugo Lewgoy, cirurgião-dentista e doutor pela USP.
Além disso, conforme o profissional, ocorre uma redução no fluxo de saliva, causando ressecamento das mucosas da boca. “E, como a saliva é responsável por regular o pH da boca e proteger dentes e gengivas, o risco de cáries também aumenta”, acrescenta. Por isso, além de manter os cuidados com a saúde oral, é importante consultar regularmente um dentista.
4. Aparência da pele sofrem influências
As alterações hormonais características dessa fase também podem causar impacto importante na pele, favorecendo o surgimento de ressecamento, flacidez e afinamento. “Na menopausa, há uma diminuição importante de estrogênio e progesterona. A consequência é o afinamento da espessura do tecido cutâneo e a diminuição das fibras de elastina e colágeno. O resultado é uma pele mais fina, enrugada e flácida”, diz a dermatologista Dra. Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Dessa forma, é importante adotar estratégias para lidar com esses efeitos. Segundo a farmacêutica Maria Eugênia Ayres, gestora técnica da Biotec, para combater a desidratação e a perda de elasticidade características dessa fase, é importante optar por produtos tópicos que atuem na revitalização, hidratação e proteção da pele.
Além da hidratação e do uso de antioxidantes, a Dra. Paola Pomerantzeff ainda ressalta a importância da utilização diária de um fotoprotetor. “Também é interessante apostar nos procedimentos que estimulam a produção de novas fibras de colágeno, como os bioestimuladores injetáveis e o ultrassom microfocado”, explica a dermatologista.
5. Função sexual diminui
Uma série de fatores pode prejudicar a libido na menopausa, fazendo com que a mulher deixe de ter relações sexuais. “[…] A queda nos níveis hormonais prejudica o desejo e a resposta sexual. Além disso, na menopausa, muitas mulheres já estão naquela fase de relacionamentos muito longos, duradouros, que é um fator que claramente prejudica o erotismo e a frequência das relações”, diz o ginecologista Dr. Igor Padovesi, especialista em menopausa certificado pela North American Menopause Society (NAMS) e membro da International Menopause Society (IMS).
Ademais, conforme o médico, na menopausa também fica mais difícil para a mulher atingir o orgasmo. “A intensidade das sensações prazerosas diminui nessa fase, a resposta orgástica é mais lenta e menos intensa. E isso só piora com o passar do tempo”, diz.
O Dr. Igor Padovesi ressalta que, apesar disso, é fundamental que a mulher mantenha essa prática viva na menopausa, pois é uma parte integral da saúde feminina, com múltiplos benefícios. “O sexo estimula o fluxo sanguíneo da região genital, o que pode melhorar a lubrificação e ajudar a combater o ressecamento vaginal; também fortalece os músculos do assoalho pélvico, reduzindo a incontinência urinária e aumentando a sensibilidade; e ainda libera substâncias que causam relaxamento e ajudam no combate ao estresse e flutuações de humor”, acrescenta.
6. Inchaço é mais comum
As variações dos hormônios ginecológicos que ocorrem na menopausa também podem tornar a retenção de líquidos e o surgimento de inchaços mais frequentes. “Na menopausa, há uma dilatação dos vasos, levando a um maior acúmulo de líquidos. Geralmente, os pés são os primeiros a demonstrar esse inchaço pelo efeito da própria gravidade, já que sustentam o nosso corpo”, explica a cirurgiã vascular Dra. Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.
Medidas gerais para melhorar o desconforto incluem repouso com elevação dos membros, alta ingestão de líquidos e alimentação rica em água para estimular a diurese, aplicação de compressas frias com chá de camomila e movimentação do membro. “A drenagem linfática também pode ser realizada para melhorar o inchaço, desde que não haja suspeita de trombose”, afirma a especialista.
7. Produtividade é afetada
A mulher pode ter mais dificuldade em realizar certas tarefas devido a um sintoma conhecido como “nevoeiro cerebral”. “O nevoeiro cerebral, ou ‘brain fog‘, é uma sensação de confusão mental, dificuldade de concentração, lapsos de memória e lentidão de raciocínio. Também pode prejudicar a tomada de decisões e a capacidade de resolver problemas”, diz o Dr. Igor Padovesi.
Essa condição pode interferir na aptidão em desempenhar tarefas profissionais e pessoais, impactando diretamente a produtividade e o bem-estar. “E a frustração decorrente desses lapsos de memória e da sensação de estar constantemente distraída pode levar a uma diminuição da autoestima e a um aumento da ansiedade”, acrescenta o ginecologista.
Segundo o médico, apesar de muitas pesquisas terem demonstrado que há um declínio natural da memória feminina devido ao envelhecimento, principalmente após a menopausa, a causa exata permanece desconhecida: “É provável que esteja relacionado à oscilação hormonal inerente a essa fase da vida.”
8. Risco de lipedema aumenta
O lipedema é mais comum em momentos de grandes movimentações hormonais, como a menopausa, devido a alterações nos receptores de estrógenos localizados na gordura. “O lipedema é uma doença crônica e progressiva caracterizada pela distribuição anormal e assimétrica de gordura em regiões como pernas, quadril e braços, com dor local e aparecimento de celulite”, afirma a Dra. Cláudia Merlo, médica especialista em Cosmetologia pelo Instituto BWS.
Segundo ela, o fortalecimento muscular dos membros inferiores e a prática de exercícios aeróbicos de baixo impacto são indicados no controle da condição. “Foi demonstrado que exercícios de vibração de corpo inteiro ajudam as mulheres que sofrem de lipedema”, diz.
Outros cuidados também podem fazer diferença no controle da doença. “Recomendo também o uso de roupas de compressão durante os exercícios, pois ajudam na circulação sanguínea e no fluxo linfático e evitam que o distúrbio evolua para casos mais graves. Além disso, é importante modificar a dieta, removendo alimentos como açúcar, carboidratos simples, alimentos ultraprocessados, embutidos e ricos em sódio”, aconselha a Dra. Cláudia Merlo.
Sintomas da menopausa têm tratamento
Para solucionar os impactos causados pela menopausa, é fundamental atuar sobre sua causa, que é hormonal. Dessa forma, a terapia de reposição hormonal pode ser indicada. “A terapia hormonal consiste geralmente no uso de estrogênios, em diversas vias de aplicação, para manter os níveis de hormônios femininos em valores próximos aos encontrados durante a vida reprodutiva da mulher”, comenta o ginecologista Dr. Igor Padovesi.
E diversas evidências destacam os benefícios e reforçam a segurança da terapia hormonal quando devidamente acompanhada por um especialista. “Grande parte dos riscos conhecidos da terapia hormonal se dão pela administração incorreta ou pelo uso de hormônios sintéticos e por via oral, esquemas terapêuticos utilizados no passado. Atualmente, preconiza-se que a terapia hormonal seja realizada com hormônios via ‘não oral’, por exemplo, através da pele”, diz o médico.
Segundo ele, a terapia hormonal é recomendada para quase todas as mulheres que sofrem com os sintomas da menopausa, com poucas contraindicações. “A terapia hormonal oferece proteção cardiovascular, reduz o risco de diabetes, melhora o sono e a função sexual, estabiliza o humor e os danos causados pela falta de estrogênio na pele, diminui o acúmulo de gordura corporal e reduz o risco de câncer de colorretal, Alzheimer e mortalidade por diversas causas. Mesmo as contraindicações da terapia hormonal não são absolutas, podendo ser indicada após cuidadosa avaliação dos riscos e benefícios”, finaliza.
Por Guilherme Zanette