Formada em Letras, Rosa Busnello acostumou-se a ir além da obra e conhecer um pouco da vida dos escritores. De um dos maiores, Machado de Assis, sabia que foi casado com uma mulher culta, vinda de Portugal, que lia tudo o que o marido escrevia antes de publicar. Mas havia poucas informações sobre Carolina Augusta de Novaes Machado de Assis. Um detalhe chamou atenção: com pouco mais de 30 anos, a futura esposa do maior escritor brasileiro rumou para o Brasil fugida de um escândalo em seu país de origem. Ao que tudo indica, um caso de amor que lhe custou a reputação.
Foi o suficiente para Rosa se apaixonar pela figura de Carolina e escrever seu quarto romance histórico, O Livro de Carolina – A Improvável Biografia de Carolina Machado de Assis (Editora Libretos), que será autografado neste sábado (13), às 17h30min, na Feira do Livro de Porto Alegre. Construída em cima de fatos confirmados em cartas trocadas por amigos e familiares de Carolina, a obra poderia ser uma biografia dessa mulher cuja vida pouco se sabe. Só não é porque Rosa precisou ser inventiva na parte que trata do mistério que a trouxe para cá.
— Ela teve um escândalo, mas ninguém sabe o que foi. Eu dei uma viajada — conta a escritora.
Rosa fantasiou que, em Portugal, Carolina consumiu a paixão com um homem casado, um inglês chamado Edgar, mas a suspeita de que viveu um caso proibido é antiga, fofoca que, segundo a escritora, acompanha a personagem desde sua chegada ao Rio de Janeiro, em 1866.
Filha mais nova de um joalheiro e de uma dona de casa letrada, Carolina gostava de literatura, principalmente inglesa, como Jane Austen e as irmãs Brontë, escritoras que lia no original. Também era a irmã mais nova de um poeta, Faustino, e de um fotógrafo, Miguel, prova de que o gosto pelas artes estava no sangue.
Assim que se estabeleceu no Rio, logo conheceu Machado de Assis. Um se afeiçoou ao outro e trocaram inúmeras cartas. Os parentes em Portugal não gostavam da ideia de a caçula se unir a um homem negro, mas Carolina, que já havia demonstrado coragem ao abandonar a família para construir uma nova vida em terras distantes, firmou noivado com o escritor.
Machado possivelmente sabia da vida pregressa da amada. Segundo pressupõe Rosa, o coração quebrado de Carolina foi tema de algumas correspondências trocadas pelo casal, em que ele lhe prometia um amor mais leal, sem desenganos. E foram essas cartas que a portuguesa mandou queimar, em uma bem-sucedida tentativa de não deixar pistas sobre o seu passado.
Apenas duas correspondências restaram, enviadas por Machado na época em que ainda eram namorados. Nelas, o escritor se derrama em carinho e admiração por Carolina, a quem elogia: “Tu pertences ao pequeno número de mulheres que ainda sabem amar, sentir e pensar. Além disso, tens para mim um dote que realça-os mais: sofreste”. Esses dois textos fazem parte do acervo da Academia Brasileira de Letras (ABL).
Mas há um outro indício do dissabor de Carolina: um texto escrito por seu amigo de infância Arthur Napoleão, músico com quem veio ao Brasil de navio. Quando escreveu suas memórias, o pianista deixou escapar: “Elimino um capítulo que julgo não dever dar à publicidade. Íntimo drama de família em que escapou de ser vítima Carolina Novaes”.
Se Carolina sofreu do outro lado do oceano, no Brasil encontrou serenidade junto de Machado de Assis. Foi sua fiel companhia e talvez sua leitora mais fidedigna, checando tudo o que o marido escrevia.
— Ele não publicava nada sem ela ler primeiro. Ela corrigia os textos, passava a limpo. Eles tiveram uma vida dura, trabalharam muito, ela sempre ajudando ele — conta Rosa.
Será justamente com O Livro de Carolina que Rosa vai autografar na Feira do Livro pela primeira vez. Com os outros romances históricos, Um Amor de Fim de Mundo: Alix e Niki, a História da Família Imperial Russa (1995), Catarina de Medicis, a Rainha Bruxa (1990) e Senhor das Histórias: Cenas de William Shakespeare (1991), a porto-alegrense participou de Bienais do Livro no Rio e em São Paulo. Apesar de um capítulo ainda nebuloso, a escritora ajudou a consolidar a história da companheira de Machado de Assis, dando a dimensão de sua personalidade:
— Não diria feminista, mas uma mulher muito forte, que soube fazer suas escolhas e lutar por elas.
Serviço
- O Livro de Carolina – A Improvável Biografia de Carolina Machado de Assis
- Libretos, 232 páginas
- R$ 49,00
- libretos.com.br