A visagista Michelle Manfroi, 40 anos, está no meio do tratamento para um câncer de mama descoberto no início deste ano. Já a aposentada Clair Rockembach Crizel, de 62 anos, celebra a vitória sobre a doença diagnosticada em 2016. E a empresária Thay Barros, de 38 anos, encara um tratamento prolongado para as metástases que surgiram após ela descobrir um tumor na mama. Para além da luta contra o câncer, essas três gaúchas têm outro ponto em comum: todas decidiram usar suas histórias para inspirar outras mulheres a encararem o tratamento com mais leveza e coragem.
Para marcar o Outubro Rosa, Donna conta as histórias de Michelle e Thay – que falam sobre os altos e baixos da doença nas redes sociais –, e de Clair, que teve sua história contada no livro do projeto Laços da Mama, de Pelotas.
E esse desejo de dividir as vivências pode ter um impacto positivo e de mão dupla na busca da cura, avalia a psicóloga Lucy Bonazzi, vice-presidente do Instituto da Mama do Rio Grande do Sul (Imama):
— O discurso tem eco e impacta quem faz e quem ouve. É importante saber que há alguém que passa por algo parecido e entende. Mas essa vontade de compartilhar não é regra: há aquelas que preferem falar apenas em grupos de apoio ou somente para pessoas de sua convivência próxima. E tudo bem, cada pessoa cria a sua forma de lidar.
Lucy destaca ainda que há um aspecto importante quando se pensa no compartilhar: o cuidado em expor uma realidade integral, sem esconder os momentos difíceis, as dúvidas, os medos e os efeitos do tratamento. O autocuidado, o resgate da autoestima e a busca por se sentir bem faz parte do processo, mas é necessário se sentir livre para chorar, se entristecer ou silenciar.
— Nas redes sociais, há mulheres que falam da realidade mesmo, daquilo que ninguém vê, revelam também as dores e os receios. Esse é o equilíbrio entre a incerteza e a esperança, faz parte da travessia do câncer. E é fundamental falarmos sobre isso abertamente — defende a psicóloga.
Conheça a seguir a história de Clair Rockembach Crizel, que participou do projeto Laços da Mama:
"O câncer vem, a vida segue"
Aos 57 anos, Clair Rockembach Crizel levantou o braço para passar o desodorante em frente ao espelho e notou algo diferente numa das mamas. Fez exames e abriu o laudo durante o expediente – ela era secretária de um médico. Quando descobriu que era câncer de mama, caiu em lágrimas abraçada no chefe. A partir dali, sua vida virou do avesso: poucas semanas depois, fez uma cirurgia para a retirada do nódulo, emendou quimioterapias e radioterapias. Neste processo, buscou uma rede de apoio em sua cidade, Pelotas, e descobriu o Instituto Buquê de Amor (IBA), focado no suporte a mulheres com câncer de mama.
— Dávamos força uma para a outra, nos apoiávamos. É um momento de angústia e de mudanças no corpo. Era uma forma de nos distrairmos também, não ficar só pensando na doença — lembra.
Foi numa dessas idas ao IBA que seu caminho cruzou com o de Kelly Schmidt. A fotógrafa havia perdido uma prima devido à doença e queria lançar um projeto: ensaios fotográficos que jogassem luz sobre o dia a dia das mulheres que enfrentam o câncer e como o apoio da família é importante nessa luta. Clair topou na hora, conta:
— Chorei muitas vezes abraçada no travesseiro de madrugada. A gente precisa se adaptar, não é um processo fácil. Senti que era uma oportunidade de mostrar como é enfrentar o câncer na prática.
Esse era o objetivo de Kelly: mostrar que, após o diagnóstico, a rotina não para. Há roupa para lavar, comida para fazer, filhos para levar na escola. Tudo isso junto de um turbilhão de sentimentos, medos e debilidade física. E cada uma encara esse processo de uma forma diferente, diz a fotógrafa:
Dividir minhas angústias no projeto fez e faz diferença no jeito que encarei a doença
CLAIR ROCKEMBACH CRIZEL
— Elas tinham histórias para contar. A cicatriz, a falta do seio. Minha ideia era mostrá-las retomando esses laços, com elas mesmas e com a rede de apoio.
Quatro mulheres participaram do projeto Laços da Mama (@lacos_da_mama), que começou em 2017 e resultou em exposição de fotos e um livro publicado no fim do ano passado. A obra conta com imagens documentais e depoimentos – toda a renda é revertida para o IBA.
Cinco anos após o diagnóstico, a aposentada se define como vitoriosa. E quer que sua história siga inspirando outras mulheres Brasil afora por meio do Laços da Mama:
— Dividir minhas angústias no projeto fez e faz diferença no jeito que encarei a doença. O câncer vem, mas a vida segue — diz Clair.
O livro Laços da Mama pode ser adquirido na versão física por meio do WhatsApp (53) 99137-2368.