Hoje, depois de viver a maternidade na pele, quais conselhos você daria para aquela mulher inexperiente e cheia de idealizações? Neste Dia das Mães, a Revista Donna convidou cinco leitoras para fazer esse exercício: escrever uma carta pensando no início da sua caminhada, quando ainda carregavam seus bebês dentro da barriga. Naquela época, elas não faziam ideia do que viria pela frente – do susto da gravidez de gêmeas a um filho com autismo, da solidão do pós-parto ao medo de esquecer do lado mulher, profissional e de tantas outras facetas. A seguir, leia o relato sincero de Cintia Jardim. E prepare-se: já deixe o lenço à mão, porque a chance de você se identificar e se emocionar é gigante. Feliz Dia das Mães!
"Sua felicidade não pode depender apenas da maternidade"
"Você entendeu tudo errado. A melhor mãe não é aquela que ‘mais abre mão’ ou a que “mais se sacrifica” pelos filhos. E o processo para eliminar essa ‘verdade’ da sua vida será longo e dolorido. Assim que o Mateus nascer, ele vai se tornar o responsável pela sua felicidade. Que peso, né? E você mergulhará ainda num ciclo de cobrança. Vai acompanhar os primeiros passos dele, mas mal lembrará, porque estará mais preocupada com a rotina rígida, se ele dormiu tal hora, jantou brócolis e não está descalço. Isso é apenas detalhe. Desapegue! Curta mais cada conquista, no final, isso é o que importa. Você também se sentirá obrigada a abrir mão da sua paixão pelo futebol, de jogar uma partida com as gurias, ir ver o Inter no Beira-Rio, de não trabalhar como antes, de deixar de lado aquele tempo só seu por acreditar que isso ‘faz parte’ da maternidade, que boas mães agem assim. Isso é um equívoco. O fato é que você não sabe delegar quando se trata dos seus filhos, não quer pedir ajuda para a sua rede de apoio porque acredita, lá no fundo, que as mães perfeitas não deveriam necessitar de ajuda.
Vai acompanhar os primeiros passos dele, mas mal lembrará, porque estará mais preocupada com a rotina rígida, se ele dormiu tal hora, jantou brócolis e não está descalço. Isso é apenas detalhe. Desapegue!
Nesse processo de se reencontrar, um susto: uma gravidez de gêmeas. Sim, será um baque, você vai chorar de desespero, um misto de felicidade e muito medo. Por noites seguidas, sonhará que perde as crianças em casa, tudo fruto da angústia de imaginar uma rotina com três pequenos. Calma, vai dar certo. Sua rede estará ali para ajudar. De certa forma, você vai aprender na marra a aceitar ajuda, e ver que dá, sim, para cuidar de si. Que sua felicidade não pode depender apenas da maternidade, que você quer encontrar a antiga Cintia.
O fim do casamento será um divisor de águas. Uma forma de provar para você mesma e para as crianças que é preciso correr atrás da felicidade, que é possível recomeçar. E quando piscar os olhos, terá duas adolescentes e um jovem dentro de casa. Prepare-se: haverá um choque de gerações. Para sua surpresa, Helena e Alice comunicarão que se tornaram vegetarianas e vão tentar comprovar por A + B que é a melhor opção, mesmo você sendo uma carnívora devota. Eles também entenderão a sociedade de uma forma complexa, e falarão sobre isso abertamente à mesa do jantar. Serão menos rebeldes do que você pensa, mas vão questionar mais do que você espera. ‘Mãe, por que você está julgando a fulana? Deixa ela ser quem ela quiser, viver a vida do jeito que escolheu’ E você vai pensar: ‘É mesmo’. Abra-se para aprender com seus filhos. Isso também será fundamental para você se reinventar todos os dias e se tornar uma mãe melhor".
Cintia Jardim, 47 anos, jornalista, de Porto Alegre, mãe do Mateus, 20 anos, da Helena e da Alice, 15 anos