Em plena Copa, ouço alguém diferente narrando um jogo de futebol do maior campeonato mundial. A voz é feminina e me enche de orgulho ver uma mulher ocupando com seriedade e profissionalismo uma função historicamente destinada apenas aos homens. É justamente quando estou a comemorar esses pequenos avanços que algo me paralisa: um vídeo de um grupo de jovens brasileiros insultando uma estrangeira com uma postura machista e repugnante. Tudo acontece quase ao mesmo tempo, tempo esse em que gostaríamos que homens e mulheres fossem realmente comparáveis em termos de educação, possibilidades e experiências. Estamos avançando, mas ainda lentamente.
A discriminação que teima em se perpetuar em posturas muitas vezes machistas da sociedade pode ser velada em alguns casos, mas também medida em outros. Para gerar transparência sobre o que homens e mulheres recebem de remuneração (já que historicamente as mulheres ganharam menos do que homens) as empresas do Reino Unido passaram a publicar as diferenças salariais depois da edição de uma lei trabalhista que as obrigada a fazer isso. Pelas regras, companhias com mais de 250 funcionários são obrigadas a revelar o que homens e mulheres recebem em suas posições na empresa. A medida é exemplar, pois esclarece o que muitos preferem esconder, que é a sistemática ocorrência de pagamentos mais baixos à profissionais do sexo feminino.
O economista norte-americano Thomas Sowell explica que existem vários fatores plausíveis que explicam essas distorções: talvez empregadores discriminem mulheres, talvez os pais criem meninas e meninos de maneira diferente, talvez mulheres e homens tenham habilidades diferentes ou façam escolhas diferentes na educação ou carreiras. Para Sowell, o que ocorre na prática é que essa discriminação joga fora boa parte do potencial econômico e de outra natureza da metade da população.
Dados concretos nos mostram que há necessidade de incansavelmente falarmos sobre as diferenças de tratamentos dadas a homens e mulheres dentro ou fora do ambiente corporativo. A discriminação só se reduzirá com o aumento geral de esclarecimento, com políticas de estado e com movimentos que chamam atenção para as discrepâncias que ocorrem no universo corporativo.
Enquanto não perdermos a capacidade de nos indignar com fatos como o vídeo dos brasileiros machistas na Rússia, estaremos avançando. Enquanto não perdermos a capacidade de nos alegrar com a conquista de mulheres como as que narram jogos na Copa, estaremos avançando. Enquanto estivermos dispostos a aplicar leis como do Reino Unido que gerem transparência, estaremos avançando. A velocidade das mudanças pode não ser a que desejamos, mas prefiro acreditar que caminhamos em direção a dias melhores.
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