Gleici Damasceno é estudante, tem 22 anos, é negra, feminista, periférica, politizada. Teve pouco acesso a educação, saúde, alimentação e moradia. Seu pai foi assassinado quando ainda era uma criança. Ela sofreu uma falta de empatia assustadora de alguns participantes. E apesar de ter uma imagem extremamente estereotipada dentro da casa de pobre, mal educada e sem opinião, felizmente o público se identificou com ela e a manteve até o final, fazendo com que vencesse o programa na noite de ontem (19) com voto popular. Foram mais de 100 milhões de votos!
Com certeza a vida dela não foi fácil, ainda mais tendo nascido em um estado tão excluído do restante do território brasileiro. É a primeira vez que um acreano esteve no BBB. Para minha alegria, é uma pessoa incrível e rica para discutirmos.
Wagner, seu romance na casa, costumava dizer que ela é a típica mulher brasileira. Não acho que a mulher brasileira tenha realmente uma "cara", mas se fosse para dar uma, talvez ela definisse muito do que acontece por aqui. Muitas histórias se parecem com a dela. Porque podemos tentar manter os olhos fechados, mas o privilégio é para poucos.
Gleici não é a primeira mulher negra e periférica a vencer o BBB, mas talvez seja a mais simbólica e que lembraremos por mais tempo, justamente por ser de onde é e por estarmos em um momento de tanta discussão do feminismo. Por diversas vezes ela manteve discursos do movimento durante sua participação. Por exemplo: quando uma sister disse que "mulher tem que se valorizar", pois os homens sabem que sempre há opções disponíveis e que "quando o cardápio restringe, eles dão mais valor (socorro!)", a Gleici disse que não é bem assim, pois não somos comidas. Ela foi criada praticamente só pela mãe e se tornou feminista vendo tudo que a mãe passou.
Lá dentro do "game" parece que a galera não a compreendeu muito bem. Ela enfrentou diversos paredões e sofreu rejeição de muitos participantes, que não compreendiam seu jeito mais reservado e simples. Foi considerada fraca, julgada preconceituosamente pela sua maneira de ser, pela sua origem e até ouviu que dificilmente um homem se interessaria por ela (oi?).
A Tia Má, jornalista e ativista, de quem sempre compartilho opiniões, fez um texto muito real da representação da vitória da Gleici:
https://www.instagram.com/p/Bhx314cgttK/
A maioria aqui fora estava com ela, inclusive a ex-presidente Dilma que fez questão de parabenizá-la também:
https://www.instagram.com/p/BhxsgdOlVcO/?taken-by=dilmarousseff
Ao sair, a acreana deixou uma mensagem para que todos acreditem em seus sonhos. Acho que se tivesse que resumir em uma palavra a participação e vitória da Gleici dentro do Big Brother Brasil seria essa: esperança.
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