A jornalista gaúcha Mariana Gomide, 30 anos, e o estudante de medicina Daniel Rossetti, 24, acompanham o programa Masterchef Brasil, na Band, desde sua primeira temporada, em 2014. Mas assistir pela TV, seguir os chefs pelas redes sociais e até tentar preparar as receitas em casa não era suficiente. Então, em junho deste ano, quando o casal viajou à capital paulista, não podia perder a chance de ir a um dos restaurantes de Henrique Fogaça, o Sal Gastronomia, mesmo sem reserva. Roberta Sudbrack (de listrado) e Ana Beatriz (ao lado dela, de óculos) confraternizando com amigos Chef André Mifano faz sucesso com público infantil
Por Destemperados
Antes de chegar à TV, a palavra “gastronomia” se limitava a uma elite de profissionais pouco populares. Agora, os chefs de cozinha são, nas palavras de Alex Atala, “os publicitários dos anos 1980 e as modelos dos anos 1990”. Celebridades de reality shows, são admirados por suas obras-primas deliciosas e seu comportamento perto e longe dos fogões. Nos restaurantes dos grandes chefs, tirar selfies com os ídolos da culinária já faz parte da rotina. Difícil mesmo é conseguir reservas em menos de uma semana.
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Selfies com Henrique Fogaça
Entusiasmados com a ideia de conhecer um dos ídolos, não se importaram em esperar uma hora para conseguir uma mesa. No momento do pedido, Mariana escolheu o cordeiro com purê de dois queijos, prato que Fogaça havia preparado na temporada de 2015 e que a jornalista tentou reproduzir em casa.
– O do Fogaça era muito melhor, mas fiquei feliz com o que fiz. Especialmente porque achei o purê de dois queijos com um gosto muito semelhante ao dele – gaba-se Mariana.
O que o casal admira em Fogaça é a personalidade: um perfil que foge do chef clássico.
– Um cara durão que, ao mesmo tempo, é carinhoso com os filhos e um cozinheiro sensível – destaca o universitário, que vive em Campinas (SP). Depois da ida ao restaurante, com direito à foto com o ídolo, a imagem que ficou do chef é ainda mais positiva.
– Ele circula bastante pelo espaço, cumprimenta os clientes, tira foto e conversa – lembra Mariana.
Uma confraria de fãs de Roberta Sudbrack
Em 2006, a chef Roberta Sudbrack assumiu uma coluna em um blog de gastronomia, pela qual ficaria responsável durante duas semanas. Os leitores podiam comentar nas publicações, e a chef interagia com o público. Ana Beatriz Delmaestro, a Bia, 50 anos, era uma das leitoras que acessava diariamente a coluna, sempre deixando comentários.
– Acabaram estendendo o período porque eram textos instrutivos e o pessoal começou a “se encontrar” diariamente nos comentários – conta Bia.
Com o passar do tempo, a fã sugeriu a criação de uma confraria, ideia que a chef Roberta apoiou. No espaço de comentários, Bia era “Ana de Bruxelas”, porque morava na capital belga, e foi escolhida presidente da Confraria Viva. Hoje, ela é proprietária de um bufê de cozinha artesanal, o Caçarola Cozinha, em Vitória (ES), mas foi em Bruxelas que começou a investir na gastronomia com apoio de Roberta.
– Quem me deu esse empurrãozinho para dentro da panela foi a Roberta. Sempre me incentivou a fazer cursos e entrar para a cozinha – relembra.
As reuniões da Confraria Viva ocorrem nos restaurantes Roberta Sudbrack e Da Roberta, na casa dos integrantes ou em outros lugares até fora do Brasil – e alguns encontros contam com a presença ilustre da chef. A comunidade ganhou grupo no Facebook, que hoje tem 86 membros, e também se comunica pelo WhatsApp. Eles têm até camiseta, com os dizeres: “quiabo, chuchu, jaca & maxixe”. Mais do que fãs, eles se consideram discípulos de Roberta.
– Ela nos fortaleceu, nos ajudou a comer bem, a valorizar o que a natureza e as estações trazem de melhor. Somos uma família – diz Bia.
Um abraço em André Mifano
Algumas crianças entravam correndo na cozinha do restaurante Vito, em São Paulo, para abraçar o ídolo; outras, mais tímidas, precisavam de um empurrãozinho dos pais. De avental camuflado, braços tatuados e rock’n’roll nas caixas de som, quem as recebia era o paulista André Mifano, que pouco lembra um típico herói infantil ou mesmo a caricatura do chef convencional. Depois de entrar no showbiz com seu jeito irreverente, ele conquistou a simpatia do público do canal pago GNT no programa The Taste Brasil.
Ao lado de Claude Troisgros e Felipe Bronze, Mifano integra o trio de mentores que decide os rumos da competição. Crianças entre cinco e 11 anos são os fãs que mais o abordam, como conta Mifano:
– É demais, porque a relação é muito verdadeira, elas ficam felizes por chegar mais perto, não têm segundas intenções.
Até a página do Facebook do chef foi criada por uma fã, mas a garota preferia não responder às mensagens que chegavam diariamente. Então, no início do ano, ela entrou em contato com Alessandra Côrte, mulher do cozinheiro, para deixar a conta nas mãos do chef, que, desde outubro de 2015, não está mais à frente da cozinha do Vito. Sem abandonar as raízes italianas, Mifano prioriza agora a agricultura e as receitas nacionais. Localizado no bairro Pinheiros, zona oeste de São Paulo, seu novo restaurante está em reforma e tem previsão de inauguração para o final de setembro.
Um snap com Claude Troisgros
Na era digital, de carona com a fama vêm os chamados haters. Não foi diferente com André Mifano. No início de sua carreira, algumas pessoas costumavam persegui-lo nas redes sociais. Uma foto dele mordendo os órgãos de um porco morto rendeu uma série de comentários ofensivos no Facebook. Hoje, o chef diverte-se ao lembrar que, antes da segunda temporada do reality show The Taste Brasil, era comum ouvir gente dizer que “preferia o francês Claude”, que também apresenta o programa Que Marravilha!.
Entre as fãs de Claude, está a carioca Raquel Arellano, autora do blog de culinária Gordelícias. No dia 28 de abril, ela estava no lançamento do Guia Michelin, quando sua amiga comentou que conhecia Claude e que poderia apresentá-la. Embora já tivesse visto o ídolo em outros eventos, nunca havia tido coragem de iniciar uma conversa. Dessa vez foi diferente. E não é que “o cara famoso da TV” interessou-se pelo blog de Raquel? Mesmo com problemas para pronunciar o nome do site, o francês fez a blogueira se sentir realizada e ficar ainda mais fã sua.
– Depois de cinco minutos de conversa, fiquei boba, sem reação. Até fiz um snap (vídeo do aplicativo Snapchat) com ele do lado – lembra Raquel.