Por Rossana Silva, Especial
O que acontece quando cinco jovens cantoras se reúnem para uma sessão de fotos no Theatro São Pedro? No encontro promovido por Donna em uma manhã de junho, risos e vozes rolavam soltos quando Bibiana Petek trocou a guitarra pelo violão de Carmen Correa e propôs a cantoria.
– Mas tem de ser uma compositora mulher – sugeriu Bibiana, dedilhando os acordes de Alguém me avisou.
Pâmela Amaro prontamente a acompanhou com o pandeiro, e a música de Dona Ivone Lara tomou forma no ambiente. Maria Luiza Fontoura soltou a voz de um lado, enquanto Lara Rossato, na outra ponta, participava apenas balançando o corpo:
– Gente, vocês acham que chegava samba e MPB lá no interior de Dom Pedrito? – justificou, comentando que são outras as suas referências.
Bibiana, Carmen, Lara, Maria Luiza e Pâmela, as novas vozes femininas apresentadas nesta reportagem, são uma amostra da proeminente geração de cantoras que solta a voz nos bares de Porto Alegre e batalha por espaço na cena musical. Com potencial avalizado por nomes de referência como o jornalista e crítico Juarez Fonseca e os músicos e produtores Arthur de Faria e Marcelo Fruet, as cinco fazem parte de uma leva de talentos até 30 anos como há tempos Porto Alegre não via.
– Sempre tivemos boas cantoras, mas agora parece que há uma conjun- ção astral reunindo várias mulheres cantando e batalhando ao mesmo tempo – afirma Juarez Fonseca.
Arthur de Faria diz não ter observado um movimento semelhante desde os anos 1980, com a diferença de que, agora, as condições parecem estar mais favoráveis para elas:
– Nunca foi tão fácil gravar um disco e fazer show. Por outro lado, é difícil o estrelato. Não existe mais essa coisa de estourar.
Apesar de reconhecido celeiro de belas vozes desde a época de ouro do rá- dio, o Rio Grande do Sul poucas vezes viu suas cantoras alcançarem a proje- ção de Elis Regina ou Adriana Calcanhotto. E em 2016, não basta só cantar bem. Unidas por iniciativas de coletivos como o Escuta – O som do compositor ou trocando ideias no grupo Ministério da Cantoria no WhatsApp, elas batalham para se firmar em um cenário em que a qualidade vocal é só o começo. Além de intérpretes, a maioria compõe, toca instrumentos e procura divulgar seu trabalho nos eventos de rua cada vez mais comuns na Capital.
– O valor de uma cantora hoje não está tão condensado na voz e na característica de intérprete, está diluído no arranjo e no conceito, no jeito que ela se veste e nas coisas que diz – observa a cantora Adriana Deffenti, que fez o primeiro show solo em 1998.
O documentário Arte das musas?, em exibição na grade do Canal Brasil, acompanha a trajetória de mulheres musicistas de diferentes gerações nascidas no Estado, no Brasil e no Exterior para mostrar o quão rica e diversa é a participação feminina na música. O projeto foi idealizado pela cantora Ana Lonardi, que ganhou visibilidade no país no programa The Voice Brasil, em 2013:
– As pessoas costumam achar que as mulheres são apenas cantoras, mas trabalhamos também como roadies, engenheiras de som, solistas, produtoras, arranjadoras, maestrinas e em outras funções de base que estruturam a produção musical.
Descubra, nas próximas páginas, cinco jovens vozes gaúchas que valem a pena ser escutadas. Conheça e escute o som das cantoras nos links abaixo:
Ficha técnica do ensaio:
Fotos: Mateus Bruxel
Cabelos Diego Sarkisian (Diego Cabelos) e Thiago Roldão
Maquiagem: Cassiano Pellenz e assistente Índia Santos (salão Cassiano Pellenz)
Agradecimentos: Theatro São Pedro