Fundador da Confraria dos Sommeliers, criada em 1999 em São Paulo, o publicitário Didu Russo se dedica a popularizar o consumo do vinho no Brasil
Esqueça os preconceitos: a estação mais quente e ensolarada combina com vinho, sim. E não só opções refrescantes como espumantes, brancos e rosés. Os tintos também vão muito bem no verão.
Há inúmeros rótulos indicados para serem degustados em dias de temperaturas elevadas e na companhia de refeições mais leves. Saem de cena os tintos fechados, potentes, com frutas muito maduras, amadeirados e alcóolicos, e entram os menos alcoólicos, jovens, leves, frutados e sem estágio em barricas de madeira. São vinhos para serem apreciados sem compromisso.
– Vinho tinto pode combinar perfeitamente com verão, praia e piscina – defende o publicitário Didu Russo, fundador da Confraria dos Sommeliers, que desde 1999 reúne sommeliers de São Paulo mensalmente para degustar vinhos às cegas e avaliar o que há de melhor no mercado.
Por ser muito conhecido pela sua opinião franca e independente, que tem o objetivo de descomplicar o vinho para os leigos, Didu (didu.com.br) participa de eventos e dá palestras sobre este tema, desfazendo estereótipos.
Autor de dois livros no segmento – Vinho para o Sucesso Profissional e Nem Leigo, Nem Expert, este disponível em versão impressa e em audiolivro –, ele conversou com Donna sobre o “mito” de que vinho tinto só se toma no inverno.
Confira a entrevista e veja as dicas de Didu:
Donna – Vinho tinto pode combinar com praia e piscina?
Didu Russo – Sim, perfeitamente. Há os tintos leves de gamay, de pinot noir, há também os grignolinos, os dolceto, os beaujolais, todos muito próprios para verão. Recomendo que sejam resfriados a 13°C.
Donna – Por que você acha que no Brasil se tem a ideia de que vinho tinto se bebe no inverno e branco no verão?
Didu – O mito de branco no verão e tinto no inverno vem da falta da cultura do vinho no Brasil. No Nordeste, com aquele clima, bebe-se malbec em balde de gelo e não se bebe branco. Cultura, ou melhor, falta de cultura.
Donna – Além dos brancos e dos espumantes, que outros tipos de vinho você indica para degustar nos dias mais quentes?
Didu – Rosés. São vinhos deliciosos que oferecem o frescor de um branco com estrutura. Ficam maravilhosamente bem na companhia de aperitivos com frutos do mar.
Donna – No Brasil, quais as castas que produzem vinhos mais leves para o verão?
Didu – Temos pinot noir e gamay (veja a seguir as dicas), que são castas leves, próprias para dias quentes de verão, acompanhados de comidas frias e sanduíches.
Donna – Existe alguma contraindicação sobre acrescentar gelo ou frutas ao vinho?
Didu – Só esnobes e pessoas empenhadas em se tornar enochatos é que consideram contraindicado colocar frutas ou gelo ou ambos. O vinho foi feito para o nosso prazer, e não para ditar regras de etiqueta social. Uma sangria ou um clericot são deliciosos e bastante populares em países tradicionais no consumo do vinho. Nada contra. Eu, inclusive, costumo colocar uma pedra de gelo em tintos simples no verão.
SEM MITOS
Sugestões de vinhos tintos leves que combinam bem com o clima tropical
Merlot
Esta casta produz um dos vinhos mais famosos do mundo. Normalmente, dependendo de como é cultivada, a merlot origina vinhos com taninos de média intensidade. Sempre concede carga de frutas vermelhas e negras. De origem francesa e plantada nos quatro cantos do mundo, é muito utilizada para elaborar vinhos de corte (mais de uma uva), contudo, produz também ótimos varietais.Os melhores merlot do país são provenientes do Rio Grande do Sul. Um ótimo rótulo, corte de cabernet sauvignon e merlot, leve e jovial, é o Red do Vinhedo Routhier & Darricarrère, de Rosário do Sul (foto abaixo).
Pinot noir
A pinot noir é uma uva delicada e complexa que encontrou no terroir da Campanha Gaúcha um potencial de cultivo inusitado. De coloração vermelho-rubi e média intensidade, no nariz mostra a intensidade e elegância de aromas frutados, de cereja e morangos. Na boca, apresenta uma deliciosa sensação sedosa e sutil, de estrutura média e acidez refrescante. A pinot noir pode originar vinhos prontos para o consumo logo que são engarrafados, jovens e frescos. O Bellavista Pinot Noir é uma ótima opção gaúcha, que acompanha legumes, frutas e queijos de sabor delicado, como o brie.
Gamay
Os vinhos produzidos pela uva gamay são reconhecidos por serem extremamente frutados. Os aromas comuns são cerejas vermelhas e morangos, com notas inconfundíveis de tutti frutti. É um vinho de estrutura leve, equilibrado, extremamente agradável e descompromissado. Deve ser apreciado resfriado entre 10 e 12°C. Ideal como aperitivo, pode acompanhar, saladas, peixes, pizzas, carnes brancas e queijos. O gamay da Miolo é uma ótima opção, por exemplo: tem o fechamento em screw cap (tampa de rosca), que facilita o consumo na beira da praia e da piscina. Importante: não se esqueça do baldinho com gelo.