Completei trinta anos nesse fim de semana passado. No meu post de comemoração da marca no Instagram, postei o seguinte texto: “A vida é boa. Fazer 30 anos é demais. Nunca me senti tão bem comigo mesmo, tão vivo. Não me sinto mais maduro do que antes ou do que ontem. Só sinto uma felicidade tremenda por estar onde estou, com quem estou e fazendo o que faço. Todos os passos até aqui foram fundamentais e eu só posso agradecer a quem ajudou e a quem não atrapalhou. A vida é boa. (Eu já disse isso?)”.
Longe de falar só de mim, mas baseando essa coluna no que sinto e no que vejo ao meu redor (o que pode decepcionar vocês leitores, mas que é a mais pura verdade), acho que não há idade mais legal para se chegar que os 30. Vejam só, quando eu completei 18 anos, escrevi um texto em que provavelmente falava sobre as tristezas e alegrias de finalmente poder dirigir e, talvez, beber. Pena que eu tenha apagado todos os meus blogs dos 17 anos pra cá, senão eu poderia até linká-lo aqui, num ato de extrema coragem. Hoje, estou escrevendo um texto para falar, como disse ali em cima, sobre onde estou, com quem estou e o que faço. E isso, meus amigos, é muito mais importante que comemorar a licença para dirigir ou beber.
Claro, claro: cadum cadum é a lei que deveria reger o universo. Cada um (daí a contração do início da frase) tem interesses e vontades muito próprias, que lhe aquecem o coração e abrem o sorriso. Mas estar feliz com o lugar em que vive, com quem está ao seu redor e com o que você faz parece reunir conquistas impossíveis de serem quantificadas e, por isso mesmo, extremamente caras.
Digo tudo isso porque escuto muito, principalmente agora que completei os 30, diversos tipos de piadas e comentários sobre a nova faixa de idade. De um lado, parte dos amigos riem do fato de eu não ser mais um novinho, como eles ainda são. “Bem vindo aos 30!”. Do outro, a lembrança da idade resgata conversas tensas sobre metas de vida a serem conquistadas, pais que querem ser avós, responsabilidades a serem assumidas… E é parando para pensar nisso tudo que chego à conclusão óbvia de que nada disso está relacionado aos 30 anos. Certo?
Sim, veja só:
- ter um carro/apartamento: o sonho de deixar o transporte público ou de ter a casa própria encabeça incontáveis listas de metas para a vida. É sinal de independência, de crescimento profissional, de sorte, de organização… Mas é algo que só “pessoas com 30” podem ter? Não, não é.
- pais que querem ser avós: essa é “complicada” porque para os nossos pais, que pelo comportamento geracional, nos tiveram cedinho, chegar aos 30 anos e não ter nem sinal de neto pelo caminho é uma dor de cabeça e tanto. Porque, claro, não é só ter a criança, mas ter com quem tê-la (em caso de preferência pelo modelo ~tradicional~ de família) e manter um relacionamento que convirja para tal. Que o diga a amiga de 28 anos que foi promovida, terminou o mestrado e comprou seu apartamento, só esse ano. Alguma dessas coisas fez frente a não ter um filho a caminho? Não.
- responsabilidades a serem assumidas: aqui é que a porca torce o rabo mesmo. Por mais que eu acredite que chegar aos 30 signifique ter saído das casa dos seus pais há algum tempo, tem quem não ache - com toda a razão que lhe cobre. Mas sair de casa não é a única responsabilidade vinda com a idade. Cuidar das suas contas, saúde, aparência, desempenho no trabalho… Tudo isso vem bem antes dos 30 anos, porque significa conexão e auto-conhecimento.
No fim das contas, falando de novo de mim e torcendo para que isso reverbere em quem me lê, ter chegado aos 30 só é tão maravilhoso assim porque eu não tinha nenhuma expectativa de transformação da vida a partir desse momento. Não esperava que a Fada da Maturidade passasse pelo meu quarto e me deixasse o guia médico do plano de saúde debaixo do meu travesseiro, me lembrando de ir ver aquela dor nas costas que me incomoda sempre que eu digito muito. Não, não há fada nenhuma me vigiando. Sou eu e somente eu.
Lembro disso sempre que converso com minha mãe e ela faz o check list costumeiro de preocupações e vigílias. “Mãe, lembre que a senhora está falando com um adulto e todas essas coisas que a senhora se preocupa são na verdades preocupações minhas. Poupe a cabeça disso, confie na educação que a senhora me deu”. Às vezes funciona, às vezes não e passo por uma sabatina…
Tudo que eu queria dizer é que não é com os 30 anos que aparece a preocupação com a ressaca, ou o desprendimento com quem dorme na sua cama, a preocupação com o cheque especial ou todos esses anseios “adultos”. Nada disso espera idade alguma para transbordar dentro da gente. O bom é que, com essa idade, já sabemos um pouco mais sobre a vida e sobre o que somos e o que nunca vamos ser. Há espaço para a resignação e a aceitação, e também para a transformação. Estamos próximos ou mais velhos que nossos pais quando eles nos colocaram no mundo e lidamos com todo tipo de situação. Não há porque temer os 30 anos. Há de se temer não se estar pronto para conhecermos a nós mesmos.
Foto: Luísa Fedrizzi, arquivo pessoal