Duas brasileiras que subverteram o comportamento feminino típico do século 19 foram tema de mais uma conversa interessante no espaço Mulher e Ponto, da Bienal do Livro, no Rio, na última quarta-feira. A Condessa de Barral (1816-1891), grande paixão da vida do imperador Pedro II, com quem teve um romance de 30 anos, foi apresentada por sua biógrafa, a historiadora Mary Del Priore; Eufrásia Teixeira Leite (1850- 1930), que namorou o abolicionista Joaquim Nabuco por 15 anos, foi descrita pela ficcionista Claudia Lage, autora de Mundos de Eufrásia (Record).
São duas personagens instigantes, "que fizeram história", como dizia o título do debate. Filha de senhor de engenhos, a baiana Luísa Margarida Portugal e Barros, a Condessa de Barral, não foi amante de Pedro II, Mary fez questão de frisar mais de uma vez. Ela e o monarca viveram um amor e paixão profundos, que durou até o fim da vida dos dois, na França (ele morreu pouco depois dela, deprimido com sua partida).
A bonita história contada por Mary no livro Condessa de Barral (Objetiva) encantou os espectadores.
– No fim da vida, ele deixava versos de amor em sua porta, junto a ramos de flores que colhia – contou a historiadora, que contrapôs seu modo de escrever, sempre baseado nos documentos históricos que garimpa em arquivos Brasil afora, ao de Claudia, que, romancista, tem liberdade maior.
Com mais de 20 títulos publicados, Mary se empenha para fazer livros de História de narrativa fluida, "que deem prazer, e não chateiem".
– Temos ótimos historiadores, mas que escrevem livros que são uma pedreira – criticou.
Claudia concordou com as distinções, mas ressaltou que pesquisou por seis longos anos para chegar "aos sentimentos de Eufrásia". Visitou a casa em que viveu, em Vassouras, no interior do Estado do Rio, leu diários e cartas. Descobriu uma mulher de comportamento libertário, feminista sem levantar bandeiras, que não queria se casar e fazia questão de trabalhar.
– Faço literatura. Nem pensei em escrever uma biografia. Parti da personagem para chegar à História – explicou.
Um ponto em comum entre as duas retratadas, além do fato de ambas terem dividido sua vida entre o Brasil e a França e de terem estado até agora à margem da historiografia nacional, é a defesa apaixonada do abolicionismo (a condessa, inclusive, foi quem influenciou Pedro II e a Princesa Isabel nesse sentido). É mais um traço que demonstra a grandeza dessas duas.
E uma conclusão: há muitas mulheres fantásticas como essas a serem descobertas e biografadas. A dica de Mary é focar naquelas que não aparecem nos livros didáticos.
Mulheres que despertaram paixões no Império têm vez na Bienal do Livro
Redação Donna
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