Quando a emoção toma conta das atitudes, nem sempre o resultado sai como o esperado. Isso vale também para os animais que foram acolhidos dos abrigos improvisados no período da enchente.
A vontade de acolher um mascote desamparado pode fazer com que pequenos detalhes passem despercebidos, o que exige um esforço extra dos tutores quando eles aparecerem mais tarde.
Foi o que aconteceu com Karine Rockenbach e seus dois novos companheiros, Luke e Luna, simpáticos gatinhos escolhidos por seus filhos em um abrigo de Canoas.
Embora a ideia fosse adotar um mascote — a família já tinha o gato Chico em casa —, Karine não esperava que cada filho iria querer um e se viu rodeada por dois felinos bebês.
— Eu sempre tive em casa animais de estimação e achei importante ajudarmos na causa animal, mas eu não sabia como seria a reação do Chico nem se os bichinhos iriam gostar de morar com a gente — comenta a advogada.
A resposta não demorou a aparecer. Cada filho já saiu brincando com seu mascote e Chico até aguentou a presença inoportuna de dois bagunceiros, embora mantendo certo afastamento e restrições. Mas, depois de dois meses, Luna começou a miar dia e noite e Luke já não se empolgava mais com as brincadeiras das crianças. A gata estava no cio e lá foi Karine se envolver com castração — e cirurgia definitivamente não estava nos seus planos.
Surpresas com o animal adotado podem acontecer, pois estamos tratando de um ser vivo com um passado desconhecido.
A arredia Matilda, uma simpática mestiça fox adotada no início da enchente, deixou bem claro desde o início que era um animal assustado e de poucos amigos, mas rosnar para todos aqueles que se aproximavam de Maria Tereza dos Santos, sua nova tutora, criou uma situação bastante desconfortável.
— Agora tenho que prender a Matilda quando recebo visita porque ela se "adonou" da minha sala e ameaça morder todo mundo — comenta a aposentada, que fala também sobre a experiência vivida por uma vizinha, senhora que adotou uma gata gordinha que, semanas depois, deu à luz três filhotes.
Como toda família, também a família pet traz novos desafios, situações que aparecem com o tempo e precisam ser trabalhadas. Embora essas imprevisibilidades não estejam no roteiro, adotar um ser vivo é abraçar e causa e isso implica receber o pacote todo, com seus bônus e ônus.
— As pessoas andam muito egoístas e imediatistas, ninguém mais tem paciência. É bom aprender a parar e dedicar tempo e empatia pelo menos por um bichinho indefeso, já é um começo — pondera Karine, agora com Luna castrada e dona do seu sofá.
Apesar do contratempo, Karine não se arrepende. Quem mais ganhou foi seu filho de 12 anos, Rodrigo Rockenbach Aquino, garoto que dorme perto de um gato amoroso e dedicado que só abandona o quarto depois que ele pega no sono. Luna segue com sua vida e não está nem aí para o resto do mundo, mas Luiza, de 10 anos, não reclama. Como toda família, nem tudo sai como gostaríamos, mas pode ser de outro jeitinho, que também muito especial.
Daisy Vivian é diplomada pela UFRGS em Medicina Veterinária e Jornalismo. É autora dos livros "Cães e Gatos Sabem Ajudar Seus Donos" e "Olhe-me nos Olhos e Saiba Quem Você É", histórias reais sobre pessoas e seus animais de estimação.