Não é de hoje que tutores relatam a incrível coincidência de insistentes narizes caninos cheirarem uma parte do corpo que descobriu-se, mais tarde, estar desenvolvendo algum tipo de câncer.
Mas pode isso?
Sim, pode. E a ciência já busca o auxílio desta poderosa ferramenta - o olfato canino - para detectar o cheiro de substâncias químicas advindas de tumores. Se cães já são há décadas usados para farejar substâncias explosivas e narcóticos, treiná-los para detectar tumores já se mostrou uma realidade.
Pesquisas em Universidades norte-americanas já apontam para alguns tipos de câncer que podem, sim, ser detectados com o auxílio do olfato canino. Câncer de pulmão, intestino, ovário, próstata, mama e até melanomas fazem parte dessa lista.
Assim como outras doenças, o câncer tem marcadores detectados, em alguns casos, nos fluídos humanos. Sendo assim, cães são treinados para detectar a presença desses compostos na pele, urina, hálito, fezes e suor dos pacientes. E os resultados têm se mostrados eficientes. Lembrando que cães conseguem detectar substâncias em concentrações muito pequenas - estamos falando aqui em partes por bilhão.
O que sugerem as pesquisas?
Ainda em fase de pesquisas, cães têm sido treinados para encontrar evidência de estágios iniciais de câncer no pulmão farejando o hálito dos pacientes. Um estudo em 2021 mostrou que um cão treinado para detectar a presença de tumor de mama na urina das pacientes também se mostrou eficaz para detectar outros tipos de câncer, como no pulmão e próstata. A pesquisa tem sido repetida com outros cães, uma vez que algumas raças podem se mostrar mais habilidosas nesse quesito.
A nanotecnologia é outra ciência que se debruça nas habilidades caninas. Ela tem procurado desenvolver equipamentos que possam detectar células tumorais analisando o suor e o odor do paciente.
Qual a vantagem de usar cachorro para diagnosticar câncer?
A vantagem de colocar cachorros como auxílio ao diagnóstico estaria no fato de eles trabalharem rapidamente, descobrindo de forma não invasiva o vilão silencioso que se instala no corpo. Os cães também poderiam ser levados para atender a esta finalidade em diferentes comunidades, inclusive auxiliando pessoas que não gostam de sair de casa e que têm aversão a hospitais. Por conta dessa particularidade, esses pacientes descobrem a doença já em estados adiantados e pouco se pode fazer.
Embora nenhum mascote tenha sido treinado para cheirar doença em seus tutores, relatos já fazem parte do histórico de algumas pessoas que resolveram ir atrás do que parecia ser uma insistente curiosidade de um mascote.
Os resultados ainda são embrionários e mais pesquisas se fazem necessárias. Mas, na dúvida, não subestime aquele nariz persistente que não sai de trás de sua orelha ou de um sinal na pele. Da mesma forma, cachorro que procura repetidas vezes seu hálito, que cheira sua barriga, genitália ou até o vaso sanitário pode estar farejando novos compostos, um odor que não existia anteriormente e que por isso vale a pena ser melhor investigado.
Daisy Vivian é diplomada pela UFRGS em Medicina Veterinária e Jornalismo. É autora dos livros "Cães e Gatos Sabem Ajudar Seus Donos" e "Olhe-me nos Olhos e Saiba Quem Você É", histórias reais sobre pessoas e seus animais de estimação. Escreve semanalmente em revistadonna.com.