Imagine a reação do tutor de um cachorro campeão de exposições, aquele animal que coleciona prêmios de "o melhor da raça", ao ser informado dos benefícios de remover todo aquele pelego de cima do seu xodó. Pensou? É, ele vai rebater argumentos. E não é sem razão.
Talvez você não saiba, mas alguns exemplares, e isso também vale para gatos, levam anos para ter aquele aspecto fofinho que tanto encanta corações. Por conta disso, alguns animais estão literalmente condenados a ficar peludinhos para sempre, o que não implica, necessariamente, sofrimento para eles.
Algumas pessoas se apaixonam de tal forma pelo aspecto de seus cães que tirar a cobertura pilosa representa uma verdadeira amputação de pelagem. Na outra ponta, há quem diga que o animal está sofrendo, mas pode ficar tranquilo que isso não vale para quem é doido pelo seu pet peludinho, pessoa caprichosa que sabe trazer conforto para seu mascote nestas épocas de calor intenso.
Contudo, quando se trata de animais comuns, e isso vale para a maioria, o mais prudente nessa época do ano seria manter o pelo bem baixinho. Quem tem Sheepdog ou Bichon Frisé em casa sabe o quanto pode ser desgastante cuidar daquele pelego em tempos de temperaturas elevadas. Tanto o animal quanto o tutor ficam cansados de ter de carregar aquele cobertor em pleno verão de 40 graus.
Se a sua pretensão é apenas ter um cachorro feliz dentro de casa, trabalho reduzido no que se refere a cuidados de pelo e pele saudável, o melhor dos mundos é passar a tesoura nas madeixas do seu pet, sim. Independente do aspecto que possa ficar seu mascote tosado, um pelo baixo é mais saudável e bem mais prático de ser mantido nessa época do ano.
Apesar da recomendação, porém, você verá quem mantenha o pelo do seu mascote como se estivéssemos com temperatura abaixo de zero. O que não significa necessariamente, negligência por parte do tutor nem sofrimento ao animal. Quem mantém o pelo alto de seu pet precisa cuidar muito bem da ventilação da pele dele com banhos periódicos e até fazendo uso de equipamentos elétricos para trazer conforto térmico.
Não vai tosar? Cuidados são necessários
Tratar um animal de pelo alto de qualquer jeito é como deixar um aquário sem termostato: ou seja, tudo dá errado, e micro-organismos patogênicos tomam conta do pedaço. Um pelo comprido e sem tratamento acaba por se enozar e cair aos tufos. Além disso, a pele fica machucada e frequentemente surgem problemas dermatológicos para complicar a saúde do mascote, sem falar no comprometimento da respiração quando são mais velhos.
Animais peludos negligenciados em seus cuidados seriam protagonistas de uma história tão desastrosa que certamente teria passagem pelo consultório de um veterinário, o que, pasme, não é comum acontecer com eles.
Manter o pelo alto no verão costuma sair bem caro para os tutores já que muitas raças podem levar mais de um ano para ter novamente aquela cobertura pilosa de cinema, o que justifica manter o pelo como está mesmo em temperaturas elevadas como estas que estamos experimentando por esses dias.
Então a dica fica aqui: se está na dúvida de baixar o pelo do seu mascote, pense no conforto que isso trará para vocês dois. Contudo, não precisa sofrer ao ver aquele animal com pelo até os olhos arrastando-o pelo chão. O tutor pode — e deve! — estar se dedicando muito para manter não só a beleza, mas o bem-estar do seu pequeno amigo.
Daisy Vivian é diplomada pela UFRGS em Medicina Veterinária e Jornalismo. É autora dos livros "Cães e Gatos Sabem Ajudar Seus Donos" e "Olhe-me nos Olhos e Saiba Quem Você É", histórias reais sobre pessoas e seus animais de estimação. Escreve semanalmente em revistadonna.com.