(Foto: Pixabay) (Foto: Pixabay) (Foto: Pixabay) :: Saiba como adaptar um animal mais velho ao novo mascote da casa
O resultado da pesquisa “Perfil e padrão de comportamentos dos brasileiros na interação com seus pets”, iniciada ainda em 2015, trouxe importantes constatações. A metodologia que contemplou donos de cães, donos de gatos e os simpatizantes — aquelas pessoas que embora não possuam animal de estimação, têm a intenção de um dia adquirir — revelou que diferentes são os perfis e comportamentos que interferem na relação do dono com seu pet, elementos que valem também para o grau de apego desenvolvido com os animais de estimação.
A pesquisa levantou que:
• Ter um pet é sinal de conforto emocional e bem estar principalmente entre as mulheres;
• Os donos se sentem amados e tem prazer em cuidar do pet;
• A compra de cães é mais comum do que a compra de gatos. Gatos costumam ser adotados ou recebidos como forma de presente de amigos e parentes;
• Cães de porte pequeno costumam ter Pedigree. Cães de porte médio costumam ser pets de raça indefinida.
Mas a conclusão vai além e encontra a história da domesticação dos nossos mascotes. Para quem assistiu o filme “O Regresso”, o longa retrata muito bem o tipo de relação que o homem tinha com os selvagens lobos em um período em que era necessário matar para sobreviver. Em determinado momento, em situação de fome, doença e dor, o personagem principal, brilhantemente interpretado por Leonardo Di Caprio, permanece escondido aguardando os lobos terminarem sua refeição. Só depois dos lobos partirem ele teria alguma chance com os restos do animal abatido. Se descoberto, o personagem seria devorado pelos lobos.
Na Idade da Pedra, acredita-se que o homem das cavernas observou que aquele quadrúpede de orelhas erguidas, animal que vivia em grupo e usava técnicas de caça semelhantes a sua, possuía um faro aguçado de tal maneira que alertava seus companheiros da presença do predador muitos metros antes de ele se aproximar. Para a tribo passou a ser interessante preservar aquele animal como forma de manutenção do grupo: ele emitia sinais sonoros e isso significava perigo já que os predadores eram comuns aos dois. O passo a seguir foi a captura de alguns filhotes desse quadrúpede para conviver nas cavernas, o que explica sua presença nas pinturas rupestres. Uma vez que dele se removeu duas de suas grandes preocupações – alimentação e abrigo – o canídeo estendeu seu instinto de proteção ao dono da “matilha”.
Assim se deu início à domesticação do cão 100 mil anos antes de nossa era. De lá para cá, os animais foram sendo gradativamente selecionados para atender funções específicas que atendessem às necessidades humanas. Assim originaram-se raças robustas com poderosos músculos faciais, animais fortes, altos e ferozes. Nessa mesma linha de subserviência, quando o homem passou a ter vida sedentária e viver do pastoreio, a seleção continuou voltada para animais grandes, mas desta vez com marcado instinto protetor e dócil. A importância do cão pastor da Idade Média não pode ser mesurada em nossa era, mas é bom lembrar que um rebanho não raro era a única fonte de proteína de todo um povoado.
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Em nossos dias, motivos para se ter um cão podem ser racionais, como defesa e proteção, mas sem dúvida a companhia é a principal característica que faz com que pessoas e seus mascotes (cães e gatos) se adaptem ao estilo de vida um do outro, uma adaptação interespécie que não existe semelhante no reino animal.
E por que se fala tanto no carisma do cão, e não do gato?
É também na domesticação que encontramos parte da explicação da diferente maneira como cães e gatos interagem com seus donos. Enquanto sítios arqueológicos revelam a presença de canídeos ainda nas cavernas, a domesticação dos gatos é realidade mais recente, cerca de 10 mil anos, e nasceu por idolatria, uma admiração que se estende até os dias atuais.
Diversas são as referências que atestam a importância dos gatos no Antigo Egito, povo que o considerava animal sagrado podendo ser condenado à morte quem o ferisse. Símbolo de força e independência, a recente domesticação do gato explica como ele consegue se converter à vida selvagem com relativa facilidade se comparado ao cão, domesticado e mimado há mais tempo pelo homem.
Foi na Idade Média, porém, no tempo da peste negra, que os gatos passaram a ser venerados em toda a Europa como auxilio à erradicação dos ratos. Enquanto os cães se submeteram a uma criação seletiva, o que originou diferentes tamanhos e formatos para a espécie, isso não existiu com o gato, o que explica sua semelhante morfologia em todos os países do mundo. O gato aceitou a presença humana; o cão, por sua vez, permitiu mudanças profundas em seu arquétipo mental. Essa facilidade em se adaptar as necessidades humanas lhe deu o direito de ser levado pelo homem para as diferentes localidades do mundo por ele exploradas.
O resultado dessa submissão foi a inabalável parceria ao lado do dono, fidelidade que atravessou séculos e nos chega de presente em nossos lares. Na pesquisa, dentre os principais motivos para se ter um cão ou gato em casa estão conforto emocional e compreensão mútua.
Também revelado na pesquisa foi o número expressivo de pessoas que admitiu levar seu pet debaixo do braço mesmo se mudar de endereço. A função como agente de socialização não foi esquecida: animais fazem com que as pessoas interajam mais entre si.
Outras particularidades merecem atenção. A pessoa que é dona de um cão tem se mostrado mais envolvida emocionalmente com seu animal se comparado àquela que têm gato. Há mais homens casados entre os donos de cães, e mulheres entre os donos de gato. A história de amor entre mulheres e gatos é longa. O apego pelo bichano já levou muita mulher à fogueira, mas são as regras da vida cotidiana que faz com que os gatos sejam colocados nos lares de pessoas mais jovens e solteiras, até porque nem todos conseguem se comprometer com as necessidades e cuidados reconhecidamente maiores em cães. A presença de crianças também dita a presença dos mascotes: é sabida a preferência da meninada pelo peludinho de quatro patas que corre com a bolinha na boca. Isso justifica o número médio de pessoas nas casas de quem tem cães e gatos ser maior do que na casa de pessoas sem mascotes.
Desvendado em sua essência, a interação humana com os cães se revela fruto de uma bem sucedida história de amizade e respeito que justifica sua presença no tapete da sala. O gato seguramente vai eleger o móvel da casa que passará a ser seu, mas é certo que em ambos os casos tem a pessoa a gratificante sensação de que descer do pedestal de Homo sapiens, a criatura mais inteligente da terra, para interagir com outras espécies, até que valeu a pena. Respeitar e ter apego por um animal não deixa de ser uma etapa da evolução, uma maneira de enxergar que diferentes podem ser as necessidades, mas com solidariedade, respeito e um pouco de esforço conquista-se a confiança e o afeto daqueles que se tornaram o reflexo de nosso atos.
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