A morte do designer espanhol Paco Rabanne, 88 anos, deixou o universo da moda em luto nesta sexta-feira (3). A convite de Donna, profissionais do segmento relembram o legado do estilista que revolucionou a cena fashion nos anos 1960 e que, por meio de sua ousadia na escolha de matérias-primas, criou tendências que são vistas até hoje.
De acordo com a professora universitária e pesquisadora de economia criativa Paula Visoná, Paco Rabanne deixa uma herança de experimentações que abriram portas para o surgimento de outros designers transgressores.
— Paco Rabanne foi importante, especialmente, por todas as experimentações que ele fez a partir dos anos 1960. Ele provavelmente foi um dos primeiros a propor fazer roupas não necessariamente com tecido, e sim materiais sintéticos e metais — pontua.
Ela sublinha que a transformação guiada por Rabanne e outros estilistas da época, como Mary Quant e Pierre Cardin, veio em conexão com a cena urbana, por meio de diferentes linguagens e materiais.
— Ele fez parte de uma onda de designers que transgrediram os limites colocados especialmente por uma moda mais “comportadinha”, que tinha a cara do prêt-à-porter introduzido por Dior do final dos anos 1940. E eles trouxeram experimentações que não eram fechadas na alta costura, que iam para o universo do prêt-à-porter, ou seja, da roupa pronta pra vestir, para o dia a dia, acessível. E isso foi muito importante, não só no sentido da experimentação em si, mas também pra abrir possibilidades para que outros jovens designers pudessem surgir depois disso e transgredir o que estava sendo colocado até então — diz.
Na opinião da jornalista e colunista de moda de Donna, Patrícia Pontalti, o que fica é um legado de irreverência e inovação que conquistaram o público e inspiram diferentes gerações de estilistas.
— Uma das figuras mais criativas da moda do século 20, Paco Rabanne foi um estilista, um inventor, um sedutor, um visionário. Foi um dos primeiros costureiros a contratar modelos negras para a passarela, nos anos 1960, o que foi um escândalo na época. Claro que ele nem se importou — discorre.
Patrícia ressalta a autenticidade da criação do designer:
— Seus vestidos complicados de metal, que abraçaram o movimento futurista, enlouqueceram as mulheres. Na década de 1960, se concentrou em acessórios, fazendo peças inovadoras para diferentes marcas. Marcou uma geração e se tornou uma referência de ousadia desde então, sempre contradizendo paradigmas e provocando, o que encanta a todos que se envolvem na mítica da moda.
Segundo a estilista Lethicia Bronstein, fundadora e CEO do Grupo Lethicia Bronstein, os designs futuristas e sensuais de Paco Rabanne se repetem nas roupas da atualidade:
— Paco Rabanne ficou muito conhecido por um trabalho que, hoje, está mais atual do que nunca. Como se fosse o metalizado vindo para roupa de uma forma nova, com placas, aviamentos prendendo uma coisa na outra. Algo que nunca tinha sido visto antes, que trazia uma sensualidade para a mulher, mas com os olhos no futuro, naquilo que ele imaginava que as pessoas fossem vestir — explica.
Para ela, a vanguarda é um traço marcante na personalidade do artista:
— E ele não estava errado porque, anos depois, as pessoas continuam se vestindo dessa forma. Talvez não de uma forma tão futurista quanto ele imaginava, mas com essa sensualidade e essa coisa do metal introduzido nas vestimentas de uma forma cool e chique.
Colunista de Donna, Roberta Weber, que é estilista e consultora de moda formada pela London College of Fashion, afirma que o trabalho do designer espanhol impressiona por nunca deixar de ser moderno:
— Acho a história dele particularmente legal, porque ele era arquiteto, aí começou como designer de joias e só depois foi fazer roupas. E as roupas dele até hoje são modernas e atemporais. Coisas que impressionavam nos anos 1960, pela estética que tinha tudo a ver com aquela época de fascínio pelo espaço e pelo futuro, em 2023 ainda são inovadoras, ainda fazem sucesso e despertam desejo.
A assinatura inconfundível, lembra Roberta, mantém o nome do criativo na elite da moda, vestindo os mais diversos estilos.
— Audrey Hepburn usou e Dua Lipa usa hoje em dia, sabe? Admiro muito essa qualidade atemporal e eternamente moderna dele. E também teve impacto na história do pop, assinando o figurino da Jane Fonda em Barbarella, por exemplo. Conseguiu deixar um legado fortíssimo, que é fruto da originalidade dele. Todo mundo reconhece uma peça de Paco Rabanne — conclui.