Para sobreviver à pandemia, o mercado da moda autoral e do design independente gaúcho precisou se reinventar e se adaptar ao digital, mas não somente isso: também teve que unir forças. Marcas e empreendedores viram a colaboração como um caminho para se fortalecer, trocar experiências, dar visibilidade aos produtores locais e impulsionar o mercado daqui. Foi na carona desse movimento que duas iniciativas nasceram em Porto Alegre: a rede Eu Amo Moda Autoral Gaúcha (Somos MAG) e as Feiras Unidas POA.
— Pegando junto, fica mais fácil de encarar momentos caóticos como o que estamos vivendo. Queremos mostrar a importância de as pessoas se conectarem com esse ecossistema da produção autoral. Muita gente não conhece e, por isso, acaba ficando restrito a uma bolha — avalia a professora universitária e pesquisadora Paula Visoná, uma das idealizadoras do Somos MAG.
Com o avanço da vacinação, a retomada das atividades presenciais e o respeito aos protocolos sanitários, ela vê os próximos meses com otimismo quando o assunto é o aquecimento do mercado local. Isso vem na esteira de uma tendência global, explica Paula, que é consultora em comportamento de consumo e inovação:
— O comprar local ganhou força no mundo todo. Imagino que esse cenário vá se fortalecer ainda mais em 2022. E nossa ideia é expandir essa conexão por aqui.
Somos MAG
Idealizadora da marca gaúcha Dona Rufina, Luciana Bulcão estava na Itália, em fevereiro de 2020, para participar da Semana de Moda de Milão. No dia do desfile de sua grife, a designer viu a cidade europeia entrar em lockdown. A empresária voltou ao Brasil, mas seguiu acompanhando os desdobramentos da pandemia no mercado da moda por lá. E foi aí que percebeu um movimento de colaboração e união das marcas ganhando força em diferentes países para manter o segmento ativo, principalmente o trabalho das grifes autorais. Luciana não pensou duas vezes: Porto Alegre precisava de uma ação coletiva que seguisse essa batida. Convidou amigos, professores, empreendedores, criadores, e assim nasceu a rede colaborativa Eu Amo Moda Autoral Gaúcha, conta ela:
— A ideia não era estimular o consumo pelo consumo. Era munir as pessoas com informação sobre a importância do comprar local. Que comprar uma moda autoral faz parte de uma cadeia e deixa o dinheiro circulando dentro do nosso território. Nosso foco são as marcas não desaparecerem.
Além de Luciana, outras cinco pessoas se engajaram para manter essa rede ativa há mais de um ano: a professora e stylist Madeleine Müller, as empreendedoras Bia Job e Heloísa Hervé, o editor e designer César Kieling e a professora e pesquisadora Paula Visoná. O Somos MAG conecta mais de 70 marcas gaúchas para troca de informações, experiências e ideias. Desde o ano passado, o grupo já desenvolveu diferentes ações: lançou um selo de valorização dos produtos autorais, uma plataforma nas redes sociais, produziu editoriais de moda, ofertou consultorias e capacitação com ajuda de parceiros e também realizou a primeira Semana de Moda Autoral Gaúcha, no fim de 2020.
— Fizemos muita coisa em um ano, tudo em prol do coletivo e para testar ideias. O MAG também é um espaço para experimentar novas possibilidades. Na Semana de Moda, falamos de futuro, trouxemos nomes como o (consultor de sustentabilidade) André Carvalhal, fizemos bate-papos, falamos sobre diversidade. Foi legal para dar um gás às marcas — avalia Paula Visoná.
A programação desse primeiro evento foi totalmente online e resultou num editorial em que as marcas locais puderem apresentar suas peças. Agora, o grupo está imerso no planejamento da segunda edição da Semana de Moda Autoral Gaúcha, que deve rolar em dezembro com formato híbrido. E Paula adianta que o foco será jogar luz sobre temas como ancestralidade, sustentabilidade e consciência social:
— A proposta é um modelo phygital (físico e digital), conectando moda, arte e tecnologia. Pretendemos trabalhar à frente de conteúdo, painéis e conversas. Queremos fazer algo performático, não uma passarela tradicional. Acreditamos muito em novos formatos.
Como o Somos MAG é um movimento coletivo e voluntário, as parcerias são essenciais para o projeto seguir firme. A rede contou com o apoio de entidades como Sebrae-RS, Apex, RS Criativo e Instituto da Transformação Digital. O plano é intensificar as conexões com marcas e instituições para impulsionar o mercado da moda gaúcha e fortalecer as grifes daqui, define Luciana:
— O MAG permanece vivo em função da colaboração e do apoio. Unir forças foi fundamental. Não se trata do eu, trata-se do setor da moda, do nós. É oportunizar espaços para todos. Quem está por trás da sua marca? As pessoas? Os processos? Essas informações fazem o público entender e comprar mais consciente. Comprar local é alimentar a economia local.
Para conhecer
- Instagram @somos.mag
- somosmag.com.br