Terminou neste domingo (8) a primeira edição totalmente digital da São Paulo Fashion Week (SPFW). O público pode assistir nas redes sociais vídeos com diversos formatos e até acompanhar comentários sobre os desfiles de nomes como o consultor de moda Arlindo Grund.
A transmissão digital já ocorria desde 2001 - entretanto, a pandemia forçou as marcas a olharem para o online de maneira mais estratégica. As estilistas Fernanda Niemeyer e Renata Alhadeff, da A. Niemeyer, contaram que a grife precisou criar um e-commerce. André Namitala, da Handred, disse que já tinha uma loja virtual, mas precisou ampliar essa atuação.
— As semanas de moda estão em um primeiro estágio de migração para o digital — avalia o consultor André Carvalhal. — Ainda não pudemos observar uma semana de moda que conseguisse favorecer interações, transações, experiências imersivas. O lado bom foi ver as marcas focando mais em suas verdades, sua essência, história.
Paulo Borges, fundador e diretor-criativo da SPFW, abordou essa questão nas entradas que fez ao vivo para conversar com os designers.
— Estamos neste momento 100% digital, mas não deixamos de ser afetivos — acrescentou.
Os sentimentos estavam à flor da pele, dos filmes e das criações.
— (Percebemos) uma abertura maior para a criatividade, com roupas mais impactantes ou que traduzam a alma da marca — afirmou Camila Yahn, editora-chefe do portal FFW.
— Menos influências internacionais, mais identidade brasileira. O que pode apontar para o fortalecimento de uma moda mais livre e própria — apontou Carvalhal.
Modem, Ponto Firme, A. Niemeyer, Amir Slama e LED reaproveitaram peças ou tecidos de coleções anteriores.
— Sem medo de que as pessoas dissessem "é a mesma coisa". As pessoas estão comprando menos, há menos matéria-prima, isso propõe uma reflexão sobre para que serve a moda — disse Iza Dezon, fundadora da agência de tendências Dezon.
Cota racial
Na primeira edição da SPFW a ter a obrigatoriedade de 50% dos modelos serem afrodescendentes, indígenas ou asiáticos, João Pimenta exibiu um desfile com personagens totalmente escondidos por camadas de tecidos e com máscaras que cobriam o rosto.
— Quis não mostrar a pessoa que estivesse usando a roupa, quis neutralizar para que qualquer pessoa pudesse se ver dentro da minha roupa. Você não consegue perceber se a pessoa é homem ou mulher, se ela é branca ou preta. A moda é um veículo muito importante, mas é separatista, gordofóbica, racista — explicou o estilista.