De acordo com informações divulgadas pelo jornal Folha de São Paulo nesta sexta-feira (30), o maior evento de moda do país, a São Paulo Fashion Week, agora contará com cota racial: a organização passou exigir que as grifes tenham pelo menos 50% de seu casting formado por “negros, afrodescendentes e (ou) indígenas”. Até o ano passado, o evento recomendava às marcas que pelo menos 10% dos modelos fosse afrodescendente, indígena ou asiática, mas não era uma obrigação.
A publicação teve acesso ao documento enviado às marcas participantes da semana de moda, que completa 25 anos na edição a ser realizada na próxima semana. No texto, explica-se que “serão considerados modelos afrodescendentes aqueles com ascendente por consanguinidade até o 2º grau”. O documento também informa que, "caso a grife não atenda essa determinação, a mesma não fará mais parte do line-up". Em outras palavras: quem descumprir as regras está fora do evento.
Ou seja, já nesta temporada, a SPFW passa a ser a primeira semana do moda do mundo a ter um código racial próprio. O diretor do evento, Paulo Borges, explicou ao jornal que as discussões internas começaram m maio, mês que marcou a onda de protestos antirracistas nos Estados Unidos após a morte do segurança George Floyd, asfixiado por um policial branco, e, em seguida, uma série de denúncias sobre casos de racismo nos bastidores da indústria da moda.
— Não posso fazer leis, mas dentro do ambiente que fomentamos é possível haver regras, sim. Nas conversas que tivemos (sobre mudanças no evento), uma das coisas que prometi de partida era que não era mais possível recomendar coisas. Quando se fala em equidade racial, isso foi entendido por todo mundo — afirmou ele. — Não estamos aqui para julgar ninguém. Esses são processos colaborativos e não queremos forçar mudanças. Mas, é claro que as marcas que não queiram compartilhar dessas discussões sairão do calendário por elas mesmas. Chegamos no ponto de deixar de criar frases e passamos a partir para a ação.
Ainda de acordo com Borges, nenhuma marca deixou de participar da semana de moda em razão da nova exigência - porém, ainda não é possível observar amplamente o impacto da mudança, já que, em razão do coronavírus, o evento será feito em formato virtual e muitas marcas tradicionais não estão na programação.
Outro ponto levantado pelo jornal é que a nova regra chega em um momento fácil de ser aplicada, já que, em função das limitações intrínsecas à pandemia, muitos dos desfiles deste ano terão no máximo quatro modelos revezando as criações dos estilistas.