Costanza Pascolato faz 80 anos nesta quinta-feira (19). A mulher mais elegante que conheço, a essência da elegância.
Lembro de um encontro que, para mim, define Costanza Pascolato. Estava eu usando o banheiro de uma fashion week e escuto duas mulheres conversando do lado de fora. Uma parecia ser a que limpava o banheiro. A outra, uma voz familiar, perguntava como a moça estava, se estava muito cansada, se estava bem.
Quando saí, vi que a mulher que conversava com a moça da limpeza era Costanza Pascolato, querida, atenciosa, preocupada com o bem-estar da moça. Achei tão maravilhoso aquele gesto. Ninguém estava vendo Costanza. Ninguém. Ela não precisava demonstrar gentileza. Na hora pensei: "Isto é a melhor definição de elegância. Elegância é se preocupar com o outro, é dedicar afeto a uma pessoa, seja ela a senhora que faz limpeza, seja ela um príncipe".
Sim. Porque Costanza Pascolato, que tem um berço esplêndido, convive com os dois. E é a mesma, fina, atenciosa, prestativa, com qualquer um deles.
Todos meus encontros com esta mulher mítica da moda brasileira – e do mundo – foram lotados de aprendizado. Não apenas pelas palavras, pelo conhecimento absurdo que Costanza divide naturalmente, mas pelos gestos, pelo tom de voz, pela atenção que ela dedica a quem está junto dela.
Costanza me ensinou que fazer carão é coisa de gente cafona e sem confiança. Me ensinou que a simplicidade é o suprassumo do conhecimento".
Costanza me ensinou muito. Me ensinou, há mil anos, o que era argyle, quem era Nicolas Ghesquiére, como subverter um clássico, que uma modelagem e um tecido certos são essenciais na boa costura, que precisamos observar cada detalhe e toda a história para compreender o todo de uma coleção, de uma marca, de um designer, que conhecer o ontem é fundamental para saber do hoje, que a gente nunca, nunca deve parar de aprender e ter preconceito com o novo, com o que está por vir.
Costanza me ensinou que qualquer mulher cai, mas se levanta com mais força – sim, amigos, ela também caiu, errou, aprendeu, voltou atrás. Costanza me ensinou que fazer carão é coisa de gente cafona e sem confiança. Me ensinou que a simplicidade é o suprassumo do conhecimento. Me ensinou que bom humor e um toque de transgressão são primordiais.
Me ensinou que um cabelo impecável e um bom óculos de sol tornam muito mais chique o visual. Me ensinou tudo isso da melhor forma: fazendo! Seja nesta conversa espionada do banheiro, seja em uma entrevista, seja nos seus textos inspiradores, seja no tour por festivais de rock que ela faz com o neto, seja combinando um anel de caveira com um look Prada, seja em uma conversa rápida antes de um desfile. Porque Costanza faz, faz com 80 anos.
Até porque Costanza não tem idade. Costanza é magistral e eterna. Parabéns, Costanza, nossa inspiração!
Pati Pontalti é jornalista, curadora e consultora de moda. Mãe da Clara, casada com o Lucas e corredora, acredita que a vida pode ser bem melhor com elegância e respeito. Escreve semanalmente em revistadonna.com.