Muitas vezes criticada pela falta de diversidade, a gigante de lingerie Victoria’s Secret tem enfrentado uma verdadeira crise nas últimas semanas. Além da queda na venda de ações desde 2018 e fechamento de lojas mundo afora, a grife não terá sua principal atração do ano, o desfile-show, televisionado – aliás, corre o risco de nem realizá-lo.
Diante de tanta polêmica, Donna reuniu os três episódios mais recentes e tensos envolvendo a label que nasceu em meio a uma revolução sexual, nos anos 1970, foi um importante marco para a época, no entanto, não tem conseguido acompanhar as atuais transformações de comportamento e cultura de consumo:
Diretor de marketing fora
A contratação da modelo brasileira trans Valentina Sampaio para integrar o casting da marca fez história, mas causou mudanças no alto escalão. Ed Razek, diretor de marketing, e que certa vez disse que a grife “nunca teria uma modelo plus ou trans desfilando”, pediu pra sair.
“Foi uma conversa difícil, pois como muitos de vocês sabem, nós dividimos muitas coisas ao longo de tantos anos. Incluindo um amor profundo pelo negócio. Ainda assim, é hora de se despedir”, escreveu ele na carta de demissão.
Sem desfile-show
Em entrevista ao jornal australiano The Daily Telegraph, publicada no dia 30 de julho, a modelo Shanina Shaik, que desfilou para a marca cinco vezes desde 2011, revelou que o desfile-show não acontecerá este ano. A informação ainda não foi confirmada oficialmente pela grife, mas a própria já adiantou que a apresentação de 2019 não será televisionada pela primeira vez em quase duas décadas.
Em quase 20 anos de show, pessoas de todo o mundo ligavam a TV para ver tops como Gisele Bündchen, Bella Hadid, Kendall Jenner e Winnie Harlow se transformarem em "angels", enquanto caminham pela passarela vestidas de lingerie e asas de penas.
Embora tenha se transformado em um verdadeiro produto da indústria, a audiência do desfile vem despencando ao longo dos últimos anos: os expectadores caíram de 9,7 milhões de pessoas (2013) para 3,3 milhões (2018).
Não à toa, o anúncio de que a apresentação deste ano não seria transmitida pela TV veio acompanhado da explicação de que a marca estava "dando uma nova olhada em cada aspecto do negócio" e que deveria "evoluir e mudar para crescer". Em maio, foi dito também que a empresa desenvolverá "um novo tipo de evento em diferentes plataformas no futuro".
Modelos contra o assédio
Na última terça-feira (6), um grupo de mais de 100 modelos, muitas delas que já trabalharam para a marca, fizeram um abaixo-assinado para pedir que a grife proteja suas angels e se posicione contra casos recentes de assédio sexual, estupro e até tráfico de modelos e aspirantes à profissão. Alguns episódios envolveram colaboradores da marca.
A carta aberta foi escrita pela Model Alliance, uma ONG que trabalha por melhores políticas na indústria da moda, e direcionada ao CEO da marca, John Mehas.
"Enquanto essas denúncias podem não estar diretamente ligadas à Victoria’s Secret, é claro que a sua companhia tem um papel crucial em resolver essa situação. De manchetes sobre Jeffrey Epstein, amigo próximo do CEO da L Brands, Leslie Wexner, a acusações de má conduta de fotógrafos como Timur Emek, David Bellemere e Greg Kadel, é preocupante que esses homens tenham usado sua relação de trabalho com a grife para abusar e ludibriar de garotas vulneráveis", diz parte da carta.
Doutzen Kroes, que já foi uma das angels, e a atriz e ativista Milla Jovovich foram algumas das que assinaram o documento. A Victoria's Secret ainda não se manifestou sobre o assunto.