O parto domiciliar tem sido opção de mães que querem dar à luz em um ambiente íntimo, como fez a youtuber Julia Tolezano, conhecida como Jout Jout, que teve seu primeiro filho em um lugar retirado na natureza, no interior de São Paulo. Embora não seja uma prática aconselhada pelo Ministério da Saúde, não há impedimento legal e a escolha é inteiramente da mulher – o que vem gerando acaloradas discussões nas redes sociais.
Em nota emitida em 2021, o órgão defendeu o hospital como o local de maior segurança para o nascimento dos bebês. Isso porque se trata de um ambiente que disponibiliza equipes completas, equipamentos para assistência de emergência e outros insumos tecnológicos.
Para o médico obstetra Ricardo Porto, membro da Comissão Especializada em Assistência ao Abortamento, Parto e Puerpério da Associação da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), é legítimo o desejo por partos acolhedores, realizados por equipes que respeitem o estado de vulnerabilidade da mulher naquele momento.
Contudo, em sua avaliação, isso não deve excluir a importância da segurança, algo que uma casa de saúde pode garantir. Ele também lembra que o parto, ainda que inerente à fisiologia da mulher, não está livre de complicações.
— Ter um ambiente acolhedor e humanizado não significa abrir mão de normas que garantam a segurança. Apesar de a gravidez ser natural, envolve riscos. A mulher pode ter hemorragia pós-parto, distócia de ombros (quando a cabeça do bebê sai e o ombro, não), falta de oxigenação na criança, placenta descolada. Se a mãe está dentro do hospital, os médicos podem intervir oportunamente. Já no ambiente domiciliar, pode não ter tempo hábil — argumenta Porto, que também é professor da Faculdade de Medicina de Jundiaí, em São Paulo.
Exigências
O nascimento em casa pode ter auxílio de enfermeiros, assim como o que acontece em hospital. Sua atuação é autorizada pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), desde que sejam partos normais sem complicações.
Enfermeira obstetra que atua em procedimentos nos dois ambientes no Rio Grande do Sul, Grazy Alós integra equipes que só prestam atendimentos domiciliares se as gestantes atenderem a determinados critérios de saúde. Acompanhamento pré-natal, gestação sem complicações, ausência de doenças que aumentem o risco na hora de dar à luz e bebê com a cabeça virada para baixo são algumas das exigências.
Ela salienta que imprevistos podem ocorrer seja em casa, seja no hospital.
— Os riscos de um parto domiciliar são os mesmos que os do hospitalar. Por exemplo: já tive um caso em que o bebê saiu, mas a placenta não, o que chamamos de retenção placentária. Tivemos que levar a paciente ao hospital para remover a placenta. Essa retenção placentária ela teria em qualquer lugar do mundo — diz Grazy, que fez residência em enfermagem obstétrica no Hospital Sofia Feldman, referência nacional em assistência humanizada à mulher e ao recém-nascido.
Outra exigência da profissional é que o procedimento ocorra em um local que fique a, no máximo, 30 minutos de carro de um hospital com UTIs adulta e neonatal, para o caso de mãe e bebê precisarem de hospitalização urgente.
— Se ela vem com pré-natal mostrando alterações, nós contraindicamos o parto domiciliar. Até podemos fazer um atendimento pré-hospitalar em casa, mas vamos levá-la para dar à luz no hospital, porque é uma mulher com risco aumentado — explica a enfermeira.
Humanizado
O obstetra Ricardo Porto esclarece que um o parto humanizado, dando ouvidos aos desejos da mãe e com o mínimo de intervenções possível, é um serviço que pode ser prestado mesmo em hospitais.
— Temos que tentar criar um ambiente diferente. As maternidades podem criar salas de parto com decorações diferenciadas. É possível criar um ambiente seguro e acolhedor para a mulher — defende o médico, lembrando que há uma lei nacional de 2022 que garante à mãe o direito a um acompanhante antes, durante e após o nascimento do bebê.