Afinal, "pãe" existe? É elogio ou romantiza a ausência paterna e a mãe sobrecarregada? Um post da atriz e influenciadora Samara Felippo levantou uma discussão sobre o tema nas redes sociais.
No último domingo (8), Dia dos Pais, ela fez uma postagem em que exalta as mães solo e rejeita a expressão "pãe", que junta as palavras pai e mãe. Segunda a atriz, "o que existe é mãe solo, solo de sozinha, porque também não existe mãe solteira, porque minha maternidade não tem nada a ver com meu estado civil e porque tem muita mãe casada e solo".
Decidimos ouvir a opinião das leitoras da Revista Donna sobre o tema. Chamar de "pãe" pode ser considerada uma homenagem ou fortalece a mentira da "supermulher" que dá conta de tudo? Abaixo, veja os relatos de sete mulheres que integram o Grupo de Mães Donna no Facebook:
"Concordo que a lacuna paterna fica nas crianças que não têm a presença do pai. Até mesmo por questões que a psicologia explica: a mãe não consegue desempenhar os dois papéis no desenvolvimento da criança. Fui mãe solo da minha primeira filha. Já meu segundo filho tem o pai presente, e a diferença é bem visível. Mas também não acho que chamar de 'pãe' seja romantizar a vida da mãe sobrecarregada. Há muitas mães que gostam de ser chamadas assim, e eu respeito. Não sinto falta que falem que fui pai e mãe para minha filha. Mas algumas pessoas falam, e eu respeito esse reconhecimento, não vou criar uma discussão em torno disso. Ainda acho que a mãe não faz os dois papéis, mesmo que queira. A criança sente falta do pai e fica um trauma, uma lacuna enorme".
Caren Souza, 42 anos, jornalista, de São Leopoldo. Mãe da Mariana, 21 anos, e do Vicente, quatro anos.
"Elogio é presença! Presença de pai ou de mãe. Se a mãe assume a carga da falta da presença do pai, é por não ter de opção. Mas não acho que precisemos assumir uma denominação diferente de mãe. Sou mãe. E gosto de ser chamada assim".
Carolina Albuquerque, 44 anos, formada em Geografia, de Porto Alegre. Mãe da Julia, de 10 anos.
"Acredito que existam bons pais e boas mães. Não existem mães e pais que substituem a ausência de ninguém. Acho muito importante para a saúde dos filhos que esteja claro isso. Eu sou mãe solo e fui em vários eventos que o pai deles não esteve presente, mas jamais o substituí. Importante que eles e eu possamos compreender que todos temos limites e que precisamos lidar com eles. Acho que a romantização da maternidade faz mal pra todos. Então, não sou 'pãe'. Sou uma mãe presente que ampara meus filhos".
Cintia Jardim, 47 anos, jornalista, de Porto Alegre. Mãe do Mateus, 20 anos, e das gêmeas Helena e Alice, de 16 anos.
"Não há como substituir a ausência de uma parte. Ou seja: por mais que o esforço seja válido, e o amor muito grande, a ausência do pai não se anula. Fico feliz da Samara ter dito que existem mães solo casadas, já que é fato que a sociedade acredita que nos mulheres nascemos com o 'chip da maternidade'. É como se, assim, fosse fácil dar conta da atenção aos filhos, coisa que faz com que homens não mudem a rotina e sua vida com a paternidade. Crendo que apenas a mãe basta. É difícil!
Daiane do Amaral Costa Coradi, 39 anos, corretora de seguros e investimentos, de Canoas. Mãe da Maria Luiza, 11 anos, e João Pedro, seis anos.
"Acho, inclusive, uma sacanagem com as mães solo esse termo, 'pãe'. Se na mãe, de forma geral, já se coloca uma sobrecarga imensa e uma falsa ideia que ela dá conta de tudo, o que se espera de uma 'pãe'? Sempre se romantiza as ausências. Sejam ausências de pessoas, seja de políticas públicas. Se elogia, se dá nome bonitinho para quem tem que ralar muito mais para não olhar para as ausências e faltas. Mais fácil elogiar e homenagear do que fazer uma análise mais realista e buscar mudar as realidades complexas".
Renata Zardin Flores, 40 anos, auxiliar administrativa, de Porto Alegre. Mãe da Morgana, 14 anos, e do João, oito anos.
"Sou filha de mãe solo, via meu pai no máximo uma vez a cada dois meses e olhe lá… E por mais que minha mãe se desdobrasse, fica a lacuna, sim! Presença paterna não tem como substituir, eu tive um avô muito presente, mas ele sempre foi avô. Também acho que não devemos romantizar esse esforço dobrado que mães solo, mesmo as casadas, exercem. Pais não têm que ajudar, têm que dividir e não é só dividir nas tarefas, é na preocupação, no planejamento. Percebo que o cérebro das mães está o tempo todo ligado nas necessidades dos filhos, porém, vejo que ainda estamos muito distantes de termos o mesmo grau de envolvimento dos pais".
Aline Sayuri de Bastiani, 37 anos, analista de marketing, Porto Alegre. Mãe de uma menina de quatro anos.
"Mesmo que faça tudo sozinha com a criança, a mãe não é o pai, ela é uma mãe sobrecarregada. A falta do pai não pode ser negociada transformando a mãe nos dois papéis, não é justo, pois o genitor fica como livre de qualquer obrigação, enquanto a mãe faz uma função que não existe. A palavra 'pãe' não substitui essa falta na vida da criança, muito menos na função de criação".
Faheana Thönnigs, 29 anos, empresária, de Novo Hamburgo. Mãe da Helena, 11 anos, e da Esther, seis anos.
"Temos que parar de romantizar a mãe guerreira. Não é guerreira, é esgotada, esfarrapada, cansada e, por vezes, perdida. Não é elogio, é catástrofe mesmo".
Maria Tereza Passuelo de Freitas, 53 anos, gerente de TI, de Porto Alegre. Mãe de Arthur, de 12 anos, e Thiago, sete anos
"Antes não me importava em ser chamada de guerreira ou 'pãe'. Hoje em dia, dispenso esse tipo de elogio. A sobrecarga materna é algo muito sério e não preenche a lacuna que fica da falta de pai. Quando escuto isso, digo que sou só mãe mesmo. Já é o bastante para uma mulher que não tem a intenção de virar heroína ou mártir. Falei sobre isso com minha filha de7 anos no Dia dos Pais, pois ela ouviu um áudio de alguém me parabenizando por eu ser pai e mãe. Eu disse a ela que ela tem pai e que eu sou só a mãe. Ela sabe que o pai é ausente, mas concordou comigo. E ficou aliviada por eu falar isso pra ela. E eu por não assumir algo que não é meu."
Claudia Trojahn, 46 anos, fisioterapeuta, de Porto Alegre