
"Uma vez que havia chance de parto prematuro dado um diagnóstico de líquido amniótico em quantidade aumentada, estávamos desde fevereiro com tudo organizado e amigos e familiares sob alerta para, no caso de rompimento de bolsa, termos alguém pronto para vir a nossa casa ficar com o filho mais velho, Gael, que completa dois anos neste domingo. Além disso, tínhamos contratado uma pessoa já nossa conhecida pensando que, quando a Serena chegasse, poderíamos nos dedicar exclusivamente às crianças.
Acho que o que mais me tocou, quando surgiu a preocupação com o coronavírus, foi a sensação de que, nesta gestação, nunca podíamos ficar tranquilos. Então, conversamos com a obstetra e entendemos que mostrava ser mais sensato agendarmos uma cesárea e evitarmos a ida para o hospital no ápice da pandemia. Serena nasceu, então, no dia 22 de março.
O segundo baque trazido pelo vírus foi vermos que nada mais seria como havíamos organizado. Tivemos que dispensar nossa funcionária e percebemos que não poderíamos contar com nossa rede de apoio e que teríamos que dar conta de duas crianças em casa por tempo indeterminado. Por sorte, minha mãe conseguiu ficar as duas semanas iniciais aqui conosco e nossa comadre ficou aqui com Gael nos dias em que estivemos no hospital. Meu irmão se isolou completamente, inclusive da namorada (que é da área da saúde), para vir aqui todos os dias nos ajudar.
Não foram permitidas visitas no hospital, principalmente dos avós, grupo de risco para a covid-19. Fomos também orientados a ficar somente o casal e o bebê no quarto, sem revezamento de acompanhante, para diminuir o fluxo de pessoas no hospital. Naquele momento, tudo pareceu muito estranho e senti medo.
Agora, passado o parto, não diria que foi solitário. Pelo contrário, acho que foi um momento muito bonito e intenso. Penso, também, que após uma gestação tão estressante como a da Serena, a gente merecia celebrar entre nós, com a tranquilidade e toda a concentração, a confirmação de que ela é saudável".