Estamos criando uma geração de crianças que se acham importantes demais. Geralmente eles têm todas suas vontades atendidas – quase imediatamente – pela família e acabam levando essa percepção para sua rede de relacionamentos, seja na escola ou com os amiguinhos. Para os pais, é importante perceber essa atitude nos filhos e entender que, se eles tiverem todas suas vontades satisfeitas, crescerão despreparados para enfrentar a vida.
Para a psicóloga Veronica Ezequiel, especializanda em Problemas do Desenvolvimento na Infância e na Adolescência, o termo Geração do Eu está associado, entre outras coisas, ao uso excessivo das novas tecnologias.
– Podemos pensar que muitas vezes os dispositivos tecnológicos são utilizados para suprir a ausência dos pais. Ausência física devido a longas jornadas de trabalho, mas também ausência psíquica. O que vemos, muitas vezes, são famílias reunidas em um mesmo cômodo da casa, cada um, entretanto, capturado por algum dispositivo tecnológico, como smartphones ou tablets. Isso se torna especialmente preocupante quando atinge bebês e crianças pequenas – comenta a psicóloga.
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Não raro, flagramos, em um restaurante ou em uma viagem de carro, uma criança hipnotizada por um iPad. Tal atitude teria o propósito de entretê-las e diante de um almoço estendido só com adultos ou um longo percurso a percorrer. O resultado são crianças que crescem com uma visão totalmente equivocada de suas qualidades, com dificuldade para lidar com tédio, frustrações e críticas e para aprender com seus erros. No futuro, podem acabar não se acertando na carreira ou no relacionamento amoroso. São esses jovens que acabam propensos à depressão.
Verônica alerta que o isolamento e a falta de interesse por brincadeiras sem os eletrônicos podem ser indícios de que algo não vai bem com seus filhos. É preciso estar atento! Veja algumas dicas:
1. Compreenda que o tempo livre, quando se trata de crianças pequenas e bebês, é algo precioso. É diante de "não ter o que fazer" que crianças podem ter espaço para criar algo novo. Bebês são muito bons nisso! Não é à toa que se divertem muito com sucata mesmo quando têm a sua disposição uma variedade muito grande de brinquedos cheios de luzes e sons. Mas, para isso, esses bebês precisam do olhar do outro, de alguém que tenha disponibilidade para lhes acompanhar e sustentá-los emocionalmente nessa aventura.
2. Crie narrativas. Para as crianças um pouco maiores, quando a curiosidade e o interesse por jogos eletrônicos naturalmente aparecem, é necessário que os pais ajudem-na a montar narrativas a respeito dessa experiência. Que falem sobre esses jogos, que se divirtam juntos, que partilhem de uma experiência comum para que a criança não caia no vazio e no isolamento.
3. Mostre a seu filho que é preciso compartilhar. Faça-o ajudar a juntar roupas e brinquedos que não usa mais e doe para crianças carentes. Eles precisam entender que dividir e trabalhar em equipe é a melhor forma de obter resultados.
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Vanessa Martini é mãe do Theo e jornalista. Tem um blog, o Mãezinha Vai Com As Outras, onde divida a rotina e os aprendizados da maternidade. Escreve semanalmente sobre o assunto em revistadonna.com.