Bastou a atriz Taís Araújo postar uma foto de uma viagem com amigas – e sem os filhos – em sua rede social para o assunto vir à tona.
"Eu amo ser mãe e cuidar dos meus filhos. Amo ser casada e dividir minha vida com meu marido. Amo ser profissional... Mas amo também, por alguns dias, me dedicar exclusivamente a mim. Entrei no avião com uma culpa sem tamanho, com duas grandes amigas e nos jogamos por quatro dias no Deserto do Atacama. Voltei pra casa mais forte, feliz e descansada pra seguir a vida que eu escolhi: ser mãe, esposa, profissional e mulher", disse a mãe de João Vicente (cinco anos) e Maria Antônia (dois anos).
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A publicação teve mais de 83 mil curtidas e milhares de compartilhamentos, despertando o desejo de muitas mães que sonham com alguns momentos para chamar de seus.
Muitas vezes a falta de suporte, a rotina ou mesmo a insegurança em deixar os filhos para trás faz com que muitas acabem protelando esse sonho. Mas com organização e uma ajudinha extra é possível sim curtir dias de folga com as amigas (ou sozinha) sem culpa.
Ao estilo Thelma & Louise
A jornalista Priscila de Carvalho Serff, 34 anos, viveu essa experiência há pouco menos de uma semana.
Casada há quatro anos e mãe da pequena Sophie, de um ano e dois meses, mudou com o marido Adriano para os Estados Unidos com quatro meses de gravidez e hoje vive longe da família se dedicando ao trabalho e aos cuidados com a filha.
– Não tenho trabalhado com uma rotina fixa, o que me permite ficar bastante com ela. E aqui, como não temos nem empregada e nem babá, quando ela está comigo, está 100% comigo.
O convite para curtir uns dias de folga surgiu da amiga Bárbara Casara, madrinha de casamento do casal. Ela estava saindo para três semanas de férias e deu carta branca a Priscila para escolher o destino da terceira semana ainda sem programação. A escolha das duas foi Miami e, de lá, fizeram uma road trip de conversível – tipo Thelma & Louise – para Key West.
Para o marido, que no início achou que era uma brincadeira Priscila explicou que precisava se reencontrar depois desse ano quase que exclusivamente como mãe sem ajuda e sem família. Teve total apoio.
– Resolvi não pensar muito. Depois de conversar com o Dri simplesmente tentei ajudar na organização da semana deles, mas não fiquei remoendo o que poderia ou não acontecer. Pra dizer a verdade fiz questão de pensar em todas as coisas boas que a viagem traria pra toda a família. A maior preocupação dele era vestir a Sophie. Então, deixei os looks prontos, separados por dia da semana. Também deixei comida pronta para várias refeições.
Nos falávamos pelo WhatsApp o dia todo, mas normalmente fazíamos Facetime uma vez por dia. Na primeira noite, acordei duas vezes de madrugada para ver ela pela babá eletrônica mas depois foi melhorando e fui relaxando mais a cada dia. Não sofri por nenhum momento. Sabia que estava todo mundo bem. Para as mamães que estão lendo agora Priscila só tem um conselho:
– Vai! Basta pensar em mim que deixei um pai sem ter ninguém pra socorrer. E ele sobreviveu! Algumas amigas têm babás ou avós que já conhecem a rotina da criança. Assim, eu faria umas três viagens dessas por ano. Brincadeiras à parte, é um momento importante na relação de pai e filho também. Eu percebi claramente que os laços entre eles se estreitaram, existe uma cumplicidade entre eles agora.
De volta ao lar, Priscila se diz mais leve e descansada e com a melhor lição: de que a mãe e mulher podem coexistir sem problema nenhum.
– Voltei pronta para mais um ano e pouco – brinca ela.
Em tempo, mais algumas reflexões de Priscila sobre a experiência:
– Foi um pouco triste ver que ela abraçava o celular quando fazíamos Facetime, talvez eu não fizesse Facetime de novo.
– O papai precisou montar alguns looks sozinho e se saiu superbem. Foi muito importante para ele ganhar confiança como pai e nos métodos dele. Acho que a gente centraliza muito e não deixa eles fazerem do jeito deles.
– Achei que dormir uma noite inteira seria a melhor parte, mas melhor que isso foi poder ficar na cama até a hora que eu quisesse.
– O que eu tenho mais escutado das minhas amigas é que os maridos jamais topariam. Eu acho que a maioria nem chega a tentar. Confiem nos papais, talvez eles gostem mais do desafio do que a gente imagina.
A experiência virou blog
A professora Universitária Anelise Zanoni, 37 anos, mãe do Noah de 11 meses decidiu dividir suas experiências com viagens no blog TravelTerapia e a primeira viagem sem o filho – ela foi participar de um Congresso em Caxias do Sul – despertou o interesse das mães que queriam também um momento só seu. Para as mamães que buscam dicas de viagem ela ressalta:
– Existem algumas coisas básicas e muito importantes nesse momento. Entre elas, estar preparada emocionalmente para a viagem (e saber se este é o momento certo), ter uma rede de apoio para quando viajar, e, principalmente, aproveitar o momento de distanciamento para cuidar de si mesma. Durante a viagem apresentei meu trabalho no congresso, interagi com pessoas que não via há tempo, bebi vinho, jantei o que eu queria e dormi uma noite inteira. Foi libertador – brinca ela.
A psicóloga Cristiane Bortoncello, dá dicas práticas de como preparar a criança – e as mães – para esse momento:
- É importante que esse período de separação da criança vá começando gradativamente. Deixar ela com alguém por um dia e ir, aos poucos ampliando esse afastamento para um final de semana, uma semana. Essa separação é importante para o desenvolvimento e regularização do controle emocional;
- Se possível, manter a criança em seu ambiente (sua casa);
- Manter a rotina de horários, bem como ritual de sono e banho;
- Deixar tudo anotado (nome e telefone do pediatra, de outros médicos, o que fazer em caso de emergência);
- Caso a criança vá a escola, deixar o nome da escola, da professora e os contatos;
- Deixa um cartaz, em forma de calendário com desenhos e figuras lúdicas indicando o dia de ida e volta da sua viagem. Assim a criança pode ir acompanhando (algumas empresas já vendem esse artigo);
- Conversar com a criança e deixar claro que você vai, mas volta e que vai entrar em contato;
- Usar e abusar da tecnologia, fazer ligações de vídeo mas cuidar para não se estender muito na ligação para não deixar a criança vulnerável;
- Colocar perfume em uma camiseta ou bicho de pelúcia que servirá de acompanhante da criança na sua ausência;
- Comprar um presente e mandar foto para mostrar que mesmo não estando lá ela está sendo lembrada;
- Deixar atividades, pelo menos uma vez na semana, divertidas e diferentes para o tempo passar mais rápido;
- E lembrar, se a criança está com um cuidador em quem confia, bem alimentada e bem cuidada, tudo estará certo.
Mais colunas da Vanessa:
Vanessa Martini é mãe do Theo e jornalista. Tem um blog, o Mãezinha Vai Com As Outras, onde divida a rotina e os aprendizados da maternidade. Escreve semanalmente sobre o assunto em revistadonna.com.