Há pouco mais de duas semanas, circula nas redes sociais uma polêmica que entrelaça Neymar e Felipe Neto, entre outras celebridades e influenciadores do Brasil, com cassino virtual. Até clubes de futebol estão no meio. Além disso, a empresa envolvida na história, Blaze, acumula reclamações na web e processos por roubo na Justiça.
Embora relatos negativos sobre a plataforma sejam noticiados desde o ano passado, a repercussão mesmo começou com um vídeo intitulado "BLAZE — Tire dos Pobres e dê aos Influencers", publicado em 22 de maio no canal do YouTube de Daniel Penin. Desde então, a atuação da empresa entrou em debate. Houve influenciadores que defenderam a Blaze, como Felipe Neto e Jon Vlogs, enquanto outros reavaliaram ou deram explicações sobre a parceria.
A seguir, saiba mais sobre a polêmica envolvendo a Blaze e influenciadores do país.
O que é a Blaze
Em operação no Brasil desde 2019, Blaze é uma plataforma de cassino virtual e de apostas (especialmente esportivas). Embora os jogos de azar sejam proibidos no país, o site se ampara por uma brecha na legislação por ter sua sede no Exterior e funcionar exclusivamente online. Segundo dados divulgados pela empresa, a plataforma acumula 40 milhões de usuários.
No site, a Blaze diz que é operada pela Prolific Trade N.V., com sede em Curaçao — ilha holandesa no Caribe conhecida como um paraíso fiscal.
Não se sabe quem comanda a empresa, de fato. Em alguns comunicados à imprensa, divulgou-se que o holandês Nick van Gorsel seria o cofundador.
Influenciadores e clubes na jogada
Sem responsáveis legais no Brasil, ao menos que tenham sido divulgados, a Blaze foi promovida por celebridades no país. A lista de influenciadores que fizeram publicidade para a empresa passa por nomes como Viih Tube, Jon Vlogs, Carlinhos Maia, Gkay, MC Poze do Rodo, MC Mirella, Mel Maia, entre outros.
Um dos maiores youtubers do país, Felipe Neto começou a parceria com a plataforma em outubro de 2022. Pouco tempo depois, chegou a alegar que o portal de jogos de azar poderia ser uma opção de "renda extra" para as pessoas.
Em dezembro do ano passado, Neymar Jr. se tornou embaixador da Blaze. Curiosamente, o contrato do jogador não envolvia a promoção da empresa no Brasil, mas sim globalmente. No entanto, o site Similar Web aponta que 97% dos visitantes do site da Blaze são brasileiros.
Além disso, a Blaze também passou a patrocinar clubes brasileiros, como Santos, Botafogo e Atlético-GO.
O vídeo viral
Até 22 de maio, Daniel Penin era um youtuber mais conhecido por vídeos que versavam sobre dicas de empreendedorismo, marketing e crescimento pessoal. Sua primeira entrada no canal data de 28 de outubro de 2022, intitulado "Como começar a vender no mercado de encapsulados?".
Com "BLAZE — Tire dos Pobres e dê aos Influencers", Penin traz um conteúdo fora do comum dentro da proposta original do canal. No vídeo de 34 minutos, ele apresenta uma investigação aprofundada sobre a plataforma de apostas e cassino. Como motivação, o youtuber alega que recebeu uma oferta de R$ 300 mil para fazer uma publicidade da Blaze, mas que recusou e resolveu investir em um conteúdo crítico. Ele cita ainda ter percebido que outros conteúdos falando da empresa foram silenciados.
Chamando atenção para os influenciadores patrocinados pela Blaze, Penin aponta que uma das maneiras de pagamento do site seria a seguinte: cada vez que um apostador perde dinheiro na plataforma, celebridades como Neymar e Gkay supostamente receberiam comissão.
No vídeo, ele chama atenção para o emaranhado de empresas por trás da Blaze, o que dificulta atestar quem seria o verdadeiro dono ou principal representante no Brasil. Até por isso, as reclamações de usuários que Penin expõe no vídeo, principalmente envolvendo saques e dificuldades dos clientes em receber seus fundos, ficariam sem retorno. Por fim, Penin conclui que não tem informações suficientes para afirmar quem comanda a Blaze.
Antes do viral
Desde 2020, a Blaze acumula mais de 24,7 mil reclamações no site Reclame Aqui. O Portal do Bitcoin, em parceria com a rede global de jornalistas que investigam crimes transnacionais OCCRP (Organized Crime and Corruption Reporting Project), divulgou um levantamento que lista 15 processos judiciais contra a Blaze em oito Estados brasileiros: São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Ceará, Paraná, Distrito Federal, Mato Grosso e Pernambuco.
Segundo a publicação, a Justiça costuma ser procurada por usuários brasileiros "que reclamam que a empresa tomou decisões arbitrárias com o dinheiro que eles depositaram na plataforma". No entanto, como a sede é em Curaçao, é improvável que a Blaze seja acionada judicialmente. Fora que a empresa não tem sede e nem uma presença oficial no Brasil.
Desde o ano passado, reportagens publicadas no Portal do Bitcoin apontam que clientes da Blaze reclamam de sumiços de saldo nas contas. Em agosto de 2022, a empresa entrou em contato com o portal por meio de uma notificação extrajudicial, afirmando que "não rouba os saldos de clientes e que as dificuldades de saques muitas vezes ocorrem por incompatibilidade dos dados fornecidos no cadastro com os pedidos no momento da transferência".
Repercussão
Após o vídeo de Penin, diversas críticas sobre a Blaze foram direcionadas aos influenciadores patrocinados pela empresa. Internautas cobraram explicações das celebridades, além de questioná-las se conheciam o dono do cassino.
Em um primeiro momento, Felipe Neto defendeu a Blaze. "Um dia vocês vão descobrir que os ataques à Blaze foram coordenados. Há intenção por trás, há interesse. A Blaze é igual a todos os sites de apostas e cassinos do mundo. Por que perseguir só um site? Todos são cassinos, todos têm reclamações (como qualquer empresa), todos representam risco, nenhum pode ser processado porque não há regulação no Brasil, todos estão em paraísos fiscais justamente pela falta de regulação", escreveu o youtuber no Twitter, na última segunda-feira (5).
Felipe realçou ainda uma necessidade de regulação das casas de apostas e cassinos online. "Enquanto a regulação não acontece, a mentira reina. A mentira é fazer você pensar que a Blaze é a grande vilã da internet, enquanto todas as concorrentes continuam fazendo literalmente a mesma coisa sem qualquer cobrança de ninguém", tuitou. Entretanto, nesta quinta-feira (8), ele começou a apagar registros de publicidade da Blaze em suas redes sociais.
Outros influenciadores, como Maicon Küster e Peter Jordan, afirmaram que iriam encerrar a parceria com a empresa. Já Neymar não comentou o assunto e limitou comentários no Instagram.
Mais um vídeo
Na última quarta-feira (7), Penin publicou outro vídeo sobre o caso. Intitulado "BLAZE — A Face do Dono (Parte 2)", ele expõe uma nova investigação para achar um brasileiro ligado à empresa. Sem revelar o nome ou alguma face, o youtuber descobre um sujeito que estaria associado ao domínio blaze.com.br, que aparentava ser conhecido por influenciadores que divulgam a Blaze.
No entanto, Penin frisa que não dá para apontar que essa pessoa seja o dono da empresa. O youtuber fecha o vídeo alegando que, se as ameaças que ele vem recebendo persistirem, ele divulgará outro material expondo nomes e corrupções envolvendo a plataforma.
Apesar de toda a polêmica, até o momento, a Blaze não fez qualquer manifestação sobre o caso.