O ator Elliot Page, de 34 anos, conhecido por filmes como Juno e A Origem, estrela a capa mais recente da revista Time. Na entrevista para a publicação, a primeira desde que revelou ser transgênero em dezembro do ano passado, o artista se emocionou antes mesmo da primeira pergunta.
— Desculpe, vou ficar emocionado, mas tudo bem, certo? — disse ele, sorrindo em meio às lágrimas, conforme descreveu a jornalista Katy Steinmetz.
Na conversa, o ator relembrou que, aos nove anos de idade, ficou feliz ao ter permissão para cortar o cabelo curto. Isso porque ele "sempre se sentiu um menino", e chegava a perguntar para a sua mãe se ele "poderia ser um menino" algum dia. Só que, aos 10 anos, começou a conquistar seus primeiros papéis em filmes com personagens femininos.
— Claro que eu tinha que ter uma certa aparência — explicou ele.
Questionado como foram os dias após falar publicamente sobre sua identidade de gênero nas redes sociais, ele resumiu:
— Sentimento de verdadeira excitação e profunda gratidão por ter chegado a este ponto da minha vida, misturado com muito medo e ansiedade. O que eu esperava era muito apoio e amor e uma enorme quantidade de ódio e transfobia. Isso foi essencialmente o que aconteceu.
Ao falar sobre os anos em que sua carreira decolou e ensaios para revistas e aparições em tapetes vermelhos viraram rotina, Elliot relatou:
— Simplesmente, nunca me reconheci. Por muito tempo, não conseguia nem olhar uma foto minha — afirmou, acrescentando ainda que também era difícil assistir a seus filmes, especialmente aqueles em que ele desempenhava papéis mais femininos.
Quando apareceu em sucessos de bilheteria como X-Men: O Confronto Final e A Origem, Elliot estava sofrendo de depressão, ansiedade e ataques de pânico. Ele não sabia "como explicar às pessoas que, embora (fosse) um ator, apenas colocar uma camiseta de mulher o deixaria tão mal". Em parte, foi o isolamento forçado pela pandemia que trouxe à tona sua luta contra o gênero.
— Tive muito tempo sozinho para realmente focar nas coisas que penso. De várias maneiras, inconscientemente, eu estava evitando — refletiu ele, que se divorciou da coreógrafa Emma Portner no início deste ano, apesar de afirmar na entrevista que eles "continuam amigos íntimos".
Outra decisão foi fazer a cirurgia de retirada dos seios. Na época em que postou sua revelação no Instagram, estava se recuperando em Toronto, contou. Mas enfatiza que ser trans não significa apenas cirurgia. Para algumas pessoas, é desnecessário. Para outras, é inacessível. Apesar disso, Elliot descreve o procedimento como algo que, para ele, tornou possível finalmente se reconhecer quando se olha no espelho, proporcionando a catarse pela qual ele esperava desde o "inferno total" da puberdade.
— Transformou completamente a minha vida — garantiu.
Por fim, “vergonha e desconforto” deram lugar à revelação:
— Eu finalmente fui capaz de aceitar ser transgênero e me permitir tornar-me totalmente quem eu sou.
Ele descreve ainda que ser trans é "egoísta" em um certo nível:
— É para mim. Eu quero viver e ser quem eu sou.
Desde que revelou ser Elliot, o artista tem recebido muitas propostas de trabalho, o que o tem deixado empolgado.
— Estou muito animado para atuar, agora que sou totalmente quem sou, neste corpo. Não importa os desafios e momentos difíceis, nada equivale a sentir como me sinto agora —conta.
Por fim, questionado como foi finalmente cortar o cabelo curto, Elliot se emocionou mais uma vez:
— Eu simplesmente não poderia ter gostado mais — concluiu.