A apresentadora Fernanda Lima compartilhou, nesta quinta-feira (30), um texto comovente para o pai, Cleomar Lima, que está internado com coronavírus. Na carta aberta, publicada em seu perfil no Instagram, ela pede para que ele reaja à doença e relembra momentos da relação dos dois.
Entre as lembranças, estão o apoio do patriarca para que ela se mudasse para o Japão, aos 14 anos, para seguir a carreira de modelo; o momento em que Cleomar ensinou Fernanda a nadar e quando ele a incentivou a dirigir de Porto Alegre até São Paulo para que conquistasse mais independência.
"Reage pai, reage por favor... Tu me fez coragem, tu me fez valente e destemida... Agora coloca em prática tudo o que me ensinou... Escrevo essa linhas para fazer uma homenagem ao meu careca e principalmente para compartilhar com as pessoas a difícil realidade de ter um familiar doente... Porque mesmo o meu pai tendo condição de ter atendimento particular, nem assim está conseguindo escapar da gravidade da doença", explicou.
Fernanda ainda pediu aos seguidores que permaneçam em casa e se cuidando, como recomendam os órgãos de saúde.
"Cuide dos seus, ligue pros seus e, se puder, fique em casa mais um pouco. Melhor sermos prudentes do que negligentes. E se puder, ajude quem precisa", solicitou.
Nos comentários, famosas como as cantoras Sandy e Gaby Amarantos e as atrizes Tainá Müller, Leticia Sabatella, Nathália Dill e Carolina Ferraz deixaram mensagens de conforto para Fernanda.
Gaby relatou a luta do irmão, também diagnosticado com covid-19:
"Fê, meu irmão estava mal pela covid-19 e ele é do grupo de risco, diabético, hipertenso e faz diálise três vezes por semana. Mas quando eu postei pedindo vibrações, algo miraculoso aconteceu, ele sentiu tanto amor e energia de cura das pessoas que reagiu e graças aos medicamentos e profissionais da saúde que estão na luta, hoje está em casa. Minha família a eu estamos emanado amor e cura e pedindo a Deus pelo seu pai!", disse a cantora.
Veja o post de Fernanda:
Leia o texto na íntegra:
"Reage pai. Já tem quase 30 dias que falamos pela última vez. Ele isolado num quarto de hospital com covid-19. Parecia sereno, ainda assim senti um certo medo no fundo de seu olhar, embora ele disfarçasse para eu não perceber. Eu na rede com a Maria. Ele olhava a netinha e comentava a alegria de termos um novo bebê na família. Me disse que comprou o presente de aniversário dos guris... Que logo que estivesse bem, viria trazer pessoalmente e que não deu tempo de escrever o cartão pra eles.
Reage pai... Falou que assim que chegasse em São Paulo iríamos novamente passar uma madrugada no mercado Ceagesp, como fizemos quando eu estava grávida, quase parindo e ele não me deixou ir sozinha. Enquanto eu comprava plantas e terra, ele sentado junto aos carregadores em seus carrinhos perguntava sobre como era o cotidiano de suas vidas. Sempre curioso e empático. Volta e meia me chamava pra provar uma cocada ou um caldo de cana... Eme chamava do mesmo jeito de sempre... “Naninhaaaa”, eu ouvia a distância aquela voz animada.
Reage pai... Ele sempre gritou com alegria quando avistava um amigo de longe. Eu me escondia de vergonha mas ele não tava nem aí. Nenhum encontro passava em branco. Reage pai... Meu pai e essa vontade de viver, esse jeito intenso e alegre de passear pela vida, seus planos feitos com um ano de antecedência. 'Todas as datas justificam celebração, minha filha'. Dias antes de ir para o hospital já rabiscava uma lista de convidados do próximo aniversário em fevereiro de 2021...Nunca vi alguém assim, tão feliz e contente, sempre pronto pra um abraço um beijo ou mesmo um forte aperto de mão, sempre olhando nos olhos, com carinho e muita ironia.
Reage pai... E os aniversários? Sagrados. Queria sempre celebrar junto, mas se não dava, era o primeiro a ligar, a meia noite em ponto. Não só para a família mas para os amigos, não só os dele mas os meus. Ele parecia mais amigo dos meus amigos do que eu... Enquanto eu sempre preferi ficar mais perto dos mais velhos, da paz e da calmaria, ele prefere os jovens, a novidade, a bagunça, o barulho e a confusão.
Reage pai... Coruja, cada vez que chega na minha casa, além de muito pinhão na mala, pra alegrar meu paladar, vem com um bolinho de fotos pedindo para eu escrever uma coisa bonita para alguém que ele conheceu em algum cantinho do Brasil que disse a ele gostar do meu trabalho. Quer afagar, agradar, fazer rir e chorar de emoção... Quer todos os sentimentos sempre vivos e pulsantes... Sempre.
Reage pai... No último por do sol que vimos juntos ele olhava a bola de fogo e dizia: 'O que a gente pode querer mais da vida minha filha?' Reage pai... Ainda tá fresco na minha memória o olhar dele pra Maria recém nascida. Eu sentia naquele olhar que ele revivia o meu nascimento. Ele sempre me diz o quanto eu fui desejada e bem-vinda. Obrigada pai. Suas palavras fizeram e fazem toda a diferença.
Reage pai... Quando eu era criança, me jogava na água ainda pequenina, sem boias, para aprender a bater pernas e braços sozinha. Aprendi e a partir daí meu lugar preferido é dentro d’água. Medrou quando eu fui chamada a virar modelo e viajar o mundo, mas me deixou voar por confiar na criação que me deu. Enquanto isso me escrevia cartas para solidão não me entristecer. Na época, eu esperava 8 dias para uma carta dele chegar do Brasil ao Japão. Todas datilografadas naquela máquina que ele insistiu que eu aprendesse a bater. Nas rápidas ligações dizia como um mantra: 'Mantenha os pés no chão, minha filha'.
Reage pai... E para testar minha coragem e capacidade de independência na cidade de São Paulo, me colocou no volante de um Fiat Uno (eu nunca tinha dirigido em viagens longas), sentou do meu lado e la fomos nós de Porto Alegre até SP, 18 horas de muita conversa.
Reage pai, reage por favor...Tu me fez coragem, tu me fez valente e destemida... Agora coloca em prática tudo que me ensinou... Escrevo essa linhas para fazer uma homenagem ao meu careca e principalmente para compartilhar com as pessoas a difícil realidade de ter um familiar doente... Porque mesmo o meu pai tendo condição de ter atendimento particular, nem assim está conseguindo escapar da gravidade da doença. Reage pai... Já sei que quando sair dessa, vai zoar: 'nem o corona me derrubou'.
Reage meu véio amado. Tá difícil, dói muito, passa um filme na cabeça... Sentimentos de amor misturados com a dor de uma tragédia humanitária, regida por alguns com descaso e irresponsabilidade. Essa subnotificação de infectados que confunde o senso de direção da gente... Ainda não consigo aceitar a teimosia e descrença dele na quarentena. Discutimos um pouco no telefone, mas ninguém segurava ele, que subestimou a gravidade da situação e contraiu o vírus que o colocou nessa situação...
Reage pai. Te amo.
Cuide de sua saúde mental, respire fundo vez por outra (pra não dizer sempre), evite brigas e discussões, alongue o corpo, escreva alguma coisa, faça um chá, chore se sentir vontade, tome um pouco de sol mesmo que pela janela, cante ou dance uma música que você adora... Tente fazer um hoje melhor do que ontem.Só nos restou o presente. Cuide dos seus, ligue pros seus, se puder, FIQUE EM CASA MAIS UM POUCO. Melhor sermos prudentes do que negligentes. E se puder AJUDE QUEM PRECISA. São muitas instituições se desdobrando para arrecadar o básico para aquelas famílias que já não tem o que comer ou beber. E são muitos.
Vamos em frente! Sairemos dessa"