Pitty volta ao palco do Planeta Atlântida para celebrar seus hits e a turnê atual, Matriz, que reforça uma das bandeiras da roqueira baiana: o amor-próprio e o respeito às diferenças. Esses temas permeiam as letras e o discurso da também integrante do Saia Justa, do GNT, que se apresenta neste sábado (2) no festival realizado na Saba, em Xangri-lá.
Conversamos com Pitty sobre o atual momento das mulheres e também sobre seus gostos e hábitos.
Você está se preparando para lançar um álbum novo. O que dá para adiantar? Vai ter novidade no palco do Planeta Atlântida?
Vai ter, sim! Superanimada com esse show. E com o disco, que está ficando lindo. Está se configurando uma obra que eu estou bem ansiosa pra compartilhar. Tem uma história ali a ser contada, profunda, com novidades sonoras e com essência também.
No documentário De Volta ao Ventre, lançado no ano passado, você fala sobre voltar ao trabalho depois de ter sua filha, Madalena, e como conciliar tudo é sempre um desafio. Como você lida com as cobranças?
Normalmente, as cobranças são mais internas. É eu comigo mesma. As externas a gente vai aprendendo a não deixar interferir. O que importa são as nossas escolhas e como a gente lida com elas. Fui encontrando meu caminho de volta entre o ser mãe e ser esse tanto de outras coisas que também amo ser: cantora, compositora, apresentadora, empresária, leitora, frequentadora de festas (risos). Me dei esse tempo, naturalmente. Os primeiros três anos da vida de um bebê são os mais importantes, e eu queria dedicar esse tempo o máximo possível para isso.
Apesar das crescentes críticas ao feminismo, percebemos que há uma união muito mais forte das mulheres. Como tem percebido esse momento?
Tenho percebido que muito se falou, alguns jargões e termos do feminismo se espalharam, mais mulheres tiveram contato com essas ideias. Isso é ótimo. Por outro lado, o mercado entendeu isso como uma oportunidade de negócio e transformou esses mesmos termos e jargões em slogans comerciais, o que contribui para o esvaziamento do assunto. É um paradoxo. Acho que temos que aproveitar a parte boa, que é ter mais mulheres que parecem dispostas a conversar e estudar sobre isso. Então, vamos conversar?
Como você vê essa repulsa que muita gente ainda tem ao feminismo?
Como ignorância e falta de informação, porque quem para pra se informar e ler um pouco percebe rapidamente que é um movimento que luta e trabalha para buscar a igualdade de gênero – e isso nunca pode ser ruim. Quem não quer o fim das desigualdades, sejam elas quais forem?
Para além da política, temos percebido um retorno do conservadorismo nos costumes ganhando força. Como você enxerga esse momento no que toca às mulheres?
Com uma certa angústia e cansaço. Tanto foi trabalhado, tantas gerações lutaram para que hoje nós tenhamos acesso aos direitos básicos... Essa sensação de retrocesso é frustrante. Deveríamos estar discutindo pautas que nos façam dar passos adiante, ao invés de gastar energia e tempo com assuntos velhos como cores de roupas apropriadas para meninos ou meninas, por exemplo. Que coisa mais velha. Direitos reprodutivos, igualdade de salários, proteção das mulheres em casos de violência, aprimorar e discutir prevenção e solução de feminicídios, mais espaço no poder, nos comandos das empresas, na política. Essas são pautas que acredito serem mais produtivas para evolução da igualdade de gênero.
360º com Pitty
Adoraria ter mais tempo para... assistir a filmes e ler livros.
O que não sai dos meus ouvidos: ultimamente, as músicas do meu disco novo porque estou aprovando a mixagem, então ouço mil vezes para ir corrigindo.
Jamais saio de casa sem... óculos escuros.
Peça-chave do meu closet: bota.
O que desperta meu instinto consumista: viagens e vinhos.
Não gastaria meu dinheiro com... carro.
Minha próxima viagem é para: Ainda não sei, mas queria que fosse para a Praia do Espelho (saudades sul da Bahia).
A frase que mais digo: Rapaz, não é bem assim.
A frase que mais escuto: Mamãe, mamãe, mamãe...
Meu maior luxo é... tempo para dormir (risos).
O que mais me inspira como profissional: descobrir sons novos.
Uma descoberta recente que quero compartilhar: uma banda chamada Baleia.
O que eu penso das redes sociais... com parcimônia, para continuar social (risos).
A lição mais difícil: ter que ficar de repouso na gravidez.
O último livro que li: Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço, de Adriana Negreiros.
Feminismo para mim... é poder existir.
A conquista que mais desejo para as mulheres: o direito de escolher a vida que quer viver.
Fica aqui um conselho para as mulheres: não acho que seja apropriado eu dar conselho, soa condescendente demais. Cada uma sabe a dor e a delícia de ser o que é. E vamos juntas!