Em 26 de janeiro, Bianca Scheren completou 20 anos. A festa em família costuma ser grande, já que a data também marca o aniversário de seus pais, Rosane e Valmor. Só que a celebração em 2019 foi ainda mais especial: na noite anterior à comemoração, a modelo natural de Estrela foi coroada como Miss Rio Grande do Sul.
– Foi nosso presentão. Qualquer decisão que tomei na minha vida a família sempre esteve do meu lado me apoiando. E o povo de Estrela foi muito receptivo, fez festa junto. O título é nosso, não é meu – conta Bianca, que desfilou pela cidade de cerca de 30 mil habitantes em um caminhão de bombeiros.
A jovem vai representar o Estado em 9 de março no Miss Brasil, com cerimônia realizada no palco do São Paulo Expo Imigrantes e transmissão pela Band. Alcançar a disputa nacional era o objetivo desde o ano passado, quando ela bateu na trave no Miss RS ao ser escolhida para o posto de vice. Determinada, Bianca tinha certeza de que sua hora ia chegar:
– Depois do segundo lugar, acendeu aquela chama. Pensei em retornar tipo em 2020 ou 2021, só que sou muito guiada pelos meus sentimentos e emoções, foi algo que senti, tinha que ser agora. Estou feliz por ter tido a coragem de voltar depois do vice.
Ainda pequena, Bianca avisava para quem quisesse ouvir em Estrela que seria "miss tudo" quando crescesse. Aos quatro anos, durante um concurso na cidade, pediu para desfilar pelo palco. E foi aí que a paixão pelas passarelas começou. Logo depois, ela passou a modelar e a carreira decolou: na adolescência, morou na Argentina e na Itália para trabalhar na área.
– Amadureci muito com essas experiências, me tornei mais mulher mesmo – avalia Bianca.
Com o investimento na vida de modelo, os concursos de beleza ficaram em segundo plano. Bianca puxa na memória apenas uma competição escolar na qual foi premiada rainha. A decisão de retomar o sonho de ser miss se deu na volta ao Brasil, aos 18 anos, quando surgiu a oportunidade de ser eleita a mulher mais bonita de sua cidade. E como a gaúcha sempre cuidou do corpo, da saúde e da alimentação, a transição para o mundo das misses não foi difícil. Ela tem acompanhamento de personal trainer e nutricionista, além de adorar academia – no Instagram, a guria divide seu dia a dia com quase 20 mil seguidores. A rotina se intensificou mesmo nas últimas semanas, com o foco no Miss Brasil. Para se dedicar à disputa, Bianca conta que, inclusive, trancou a faculdade de Ciências Contábeis:
– Preciso focar agora, o título é responsabilidade, encaro como trabalho. Quero entrar de cabeça, estar 100%.
A preparação é liderada por um nome de peso: a gaúcha Priscila Machado, eleita Miss Brasil em 2011 e a melhor brasileira colocada no Miss Universo desde então ao conquistar o terceiro lugar. Além dela, a jovem é acompanhada de perto por seus coordenadores municipais, Marco Aurélio Hauschild e Diogo Fagundes.
– Não tem como não admirar a Priscila, é a minha maior inspiração. Minha equipe está pegando muito junto comigo, estou muito segura. Me espelho na Gabriela Markus (Miss Brasil 2012), que também foi incrível, e uma inspiração recente é a Monalisa (Miss Brasil 2017). Ela foi eleita com 18 anos, me vejo nela nesta questão da juventude. Mostrou que não era despreparada e imatura, mas que era determinada. Idade não significa nada – ressalta Bianca.
A supremacia gaúcha no concurso – são 13 títulos – não assusta a jovem e converte-se em ânimo para encarar uma rotina agitada. Até o dia 9, a agenda inclui reforço de exercícios, ainda mais cuidados com a alimentação, aulas de inglês e, principalmente, desenvolvimento da oratória. A figura da miss representa muito mais do que uma mulher bonita, defende a jovem:
– Estudo bastante posicionamento, comunicação, para saber me expressar, me comunicar em frente às pessoas. Uma miss é isso, é comunicação, precisa ser comunicativa. Sei que estética e o corpo são muito importantes, mas precisa ter um diferencial. Vou ser eu mesma, não vou criar uma personagem, mas quero caprichar na desenvoltura.
Bianca acredita que as misses precisam encontrar sua singularidade, o que a faz ser única, para assim conquistar jurados e público. Por isso, é uma entusiasta do novo momento dos concursos de misses, que passaram a exaltar a diversidade. No último Miss Universo, foi a primeira vez que uma transexual, a Miss Espanha, participou da competição. Também chamou atenção o cabelo curtíssimo da Miss Vietnã, uma das cinco finalistas.
– É maravilhoso ver a desconstrução de um padrão de beleza. Na época da Martha Rocha, a miss tinha um padrão, com medidas exatas. Hoje em dia, isso tem sido desconstruído. Essa edição do Miss Universo prova isso, prova que estamos evoluindo e desconstruindo. Esse padrão de miss inalcançável, irreal, não existe mais. Torna mais humano, somos todos diferentes. As mulheres podem ser diferentes.
E apesar de estar no "padrão" aceito socialmente, Bianca fala abertamente sobre as inseguranças que enfrentou com a aparência durante a vida. Caso seja eleita Miss Brasil, traçou um objetivo: não quer influenciar apenas pela beleza, mas ser um exemplo de mulher de atitude.
– Já tive vários problemas com a autoestima, de não me sentir confiante sobre quem eu sou. É uma pressão social, uma cobrança. De entender que a Bianca é humana, não é perfeita, ela tem defeitos. Entendi que não preciso ser igual a ninguém. Sou Bianca e não quero que as pessoas sejam iguais a mim, se espelhem em mim como um padrão, mas sim como uma pessoa legal, extrovertida, que pensa para frente.