Defensora das causas femininas, a atriz Emma Watson escreveu uma carta aberta em defesa do direito ao aborto. O texto é uma referência ao polêmico caso da dentista Savita Halappanavar, que morreu em 2012 após ser impedida de fazer um aborto legalmente na Irlanda. O episódio chocou o país e movimentou diversas ativistas na época, que pediram para o governo legalizar a interrupção da gravidez, se assim for a vontade da mulher.
Emma foi convidada pela Revista Porter a escrever uma carta aberta a Savita: "Foi uma grande honra ser convidada pela Porter a prestar meu respeito ao legado da Dra. Savita Halappanavar, cuja morte empoderou a determinação de ativistas para mudar as leis de aborto irlandesas e lutar pela justiça reprodutiva pelo mundo", escreveu a atriz em sua conta no Instagram.
Savita estava grávida de 17 semanas, quando passou por complicações na gestação e foi levada para o hospital. Ela pediu por um aborto, mas os médicos alegaram que ela não corria risco de vida. Ela morreu em 28 de outubro de 2012.
Em maio deste ano, quase 70% dos eleitores irlandeses votaram a favor da possibilidade de interromper a gravidez até a 12° semana de gestação. O resultado foi saudado em todo o mundo como uma vitória pelos direitos das mulheres.
Leia a carta de Emma:
Querida Savita Halappanavar,
Você não queria se tornar o rosto de um movimento; você queria um procedimento que salvasse sua vida. Quando a notícia da sua morte foi divulgada em 2012, o apelo urgente da ação de ativistas irlandesas reverberou em todo o mundo - e revogou a 8ª emenda da Constituição irlandesa.
Uma e outra vez, quando nossas comunidades locais e globais choram juntas uma morte trágica devido à injustiça social, nós pagamos tributo, mobilizamos e proclamamos: descanse no poder. Uma promessa para o falecido e uma convocação para a sociedade, nós cantamos: nunca mais. Mas é raro que a justiça realmente prevaleça para aqueles cujas mortes simbolizam a desigualdade estrutural. Mais raro ainda é uma vitória feminista histórica que encoraja a luta pela justiça reprodutiva em todos os lugares.
Sua família e amigos foram gentis e nos estimularam ao compartilhar sua memória. Eles nos disseram que você era apaixonada e vivaz, uma líder natural. Ouvi dizer que no Diwali, em 2010, você ganhou a bailarina da noite, passando a coreografar rotinas com crianças da sua comunidade. Eu vejo o vídeo de vocês dançando no desfile do Dia de São Patrício de Galway, em 2011, e vou às lágrimas por seu sorriso de mil watts e entusiasmo palpável.
Compartilhando seu luto e esperança com o mundo, sua família apoiou publicamente a campanha Juntas pelo Sim. Comemorando a revogação, seu pai expressou sua “gratidão ao povo da Irlanda”. Em reciprocidade, ouvi os "repelentes" da Irlanda dizerem que eles devem uma grande dívida para com sua família.
Uma nota em seu memorial em Dublin dizia: "Porque você dormiu, muitas de nós acordamos”. Que a 8ª emenda possibilitava a valorização da vida de um feto em gestação sobre uma mulher viva era um chamado de despertar para uma nação. Para você, e aqueles que foram obrigados a viajar para o Reino Unido para ter um aborto seguro e legal, a justiça foi conquistada com dificuldade.
Da Argentina à Polônia, as leis restritivas ao aborto punem e colocam em risco meninas, mulheres e grávidas. Ainda assim, a lei do aborto na Irlanda do Norte antecede a lâmpada. Em sua memória e em direção à nossa libertação, continuamos a luta pela justiça reprodutiva.
Com todo meu amor e solidariedade,
Emma Watson
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