A eterna Serena van der Woodsen, do seriado Gossip Girl (Thimothy A. Clary/AFP) No red carpet com o marido, o ator Ryan Reynolds
Mariane Morisawa Especial, Los Angeles (EUA), Especial
Blake Lively está no paraíso. Ela é a protagonista do filme A Incrível História de Adaline, dirigido por Lee Toland Krieger, seu retorno após o término da série Gossip Girl, em 2012, que a tornou famosa como a personagem Serena van der Woodsen. No filme, em cartaz em Porto Alegre, a atriz interpreta a mulher do título, que para de envelhecer aos 29 anos, em 1908, e precisa mudar de identidade frequentemente para seu segredo não ser descoberto. Mãe de uma filha, Adaline evita o amor para não passar pela perda, até conhecer o charmoso Ellis Jones (Michiel Huisman, que também conquistou a Khaleesi de Emilia Clarke na série Game of Thrones, da HBO).
O período que Blake passou fora da televisão e do cinema foi produtivo, no entanto. Fashionista na vida real, a californiana de 27 anos abriu o site Preserve (preserve.us), com peças cuidadosamente selecionadas, para o qual codesenhou com a grife Amour Vert o vestido pêssego que usava no dia desta entrevista a seguir, em Los Angeles, na Califórnia (EUA). Em janeiro, deu à luz sua primeira filha, James, com o ator Ryan Reynolds. Sorridente, Blake conversou com Donna sobre o filme, a carreira, envelhecimento e família.
Donna - Qual sua influência nos figurinos do filme?
Blake Lively - Michiel Huisman diz que não conseguiram encontrar fita isolante forte o suficiente para evitar minha influência. Primeiro, do ponto de vista superficial, não posso acreditar que posso usar peças do início do século 20 até agora! Mas a história de cada figurino, o que diz sobre o papel da mulher em épocas diferentes, é muito interessante e me ajuda muito como atriz. Quando começamos o trabalho, Adaline ia se vestir de forma muito contemporânea. Quase como se fosse Serena van der Woodsen, com skinny jeans e trench coats. Mas essa mulher é uma senhora, ela não se vestiria assim. Então resolvemos que em cada época ela carregaria algo dos períodos anteriores.
Donna - Ao longo do tempo, as mulheres conquistaram muito espaço na sociedade, não?
Blake - Sim, veja o que aconteceu recentemente, com o anúncio da candidatura de Hillary Clinton à presidência (dos Estados Unidos). É para ter orgulho. Ao mesmo tempo, o fato de precisarmos ter orgulho de cada avanço chateia um pouco. Não sei se você leu Half the Sky, de Sheryl WuDunn e Nicholas Kristof, mas deveria, porque ele vai mudar sua vida. E o livro fala de como mais mulheres morreram por serem mulheres nos últimos 50 anos do que homens nas duas Guerras Mundiais. É muito chocante o papel que a mulher tem na sociedade ainda hoje. Mas há progresso.
Donna - Então você está empolgada com a candidatura da Hillary Clinton?
Blake - Sim. Acho que não importa de que lado esteja, democrata ou republicano, o fato de nunca ter havido uma mulher comandando este país, quando existem mulheres liderando famílias, companhias, suas próprias vidas... O que faz com que se pense que os homens estão mais qualificados para serem presidentes?
Donna - Você ficou um tempo sem atuar. Suas prioridades mudaram?
Blake - Minha vida pessoal sempre é minha prioridade. Quando estava fazendo o seriado (Gossip Girl), me consumia muito, não tinha muito tempo para a vida pessoal. Mas, ainda assim, eu tentava arrumar tempo. Não era legal trabalhar tanto, 16 a 18 horas por dia por 10 meses, porque não tinha como ser boa. Em certo momento, começaram a me dar os diálogos logo antes de gravar. Era importante para mim não embarcar de cara no próximo projeto. Por isso comecei minha companhia, para me manter criativa e não ter de comprometer meu trabalho. Quando li Adaline, ainda não queria voltar. Mas não tinha como dizer não. E não era meu plano tirar folga depois de Adaline, mas é que eu estava grávida (risos).
Donna - Do que gosta e do que desgosta em estar de volta?
Blake - Não gosto de fazer as pessoas esperarem porque preciso alimentar o bebê. Isso é horrível, porque parece que sou uma diva (risos). Mas tenho sorte de fazer um trabalho em que posso fazer uma cena e correr para meu bebê. Claro que é duro. Minha prioridade já era minha família, mas, quando você olha para aquela criança, é difícil de fazer qualquer outra coisa. Vocês têm sorte de eu estar aqui! Se a vissem, tenho certeza de que entenderiam!
Donna - É tão maravilhoso que não dá para ficar sem seu bebê?
Blake - Sim, mas é duro também, de vez em quando acontecem acidentes com cocô e vômito. Se alguém fizesse isso comigo, daria um safanão. Mas é meu bebê! É maravilhoso porque, mesmo quando é difícil, é maravilhoso.
Donna - Como a maternidade transformou sua vida?
Blake - Agora me atraso mais para as entrevistas. Meus peitos estão incríveis. Venho de uma família muito próxima. Vou ter de pagar muita terapia para meus sobrinhos e sobrinhas mais tarde, porque dizia que eu era a verdadeira mãe deles, que só os tinha emprestado para a mãe deles. Uma vez pintei o cabelo da mesma cor da minha irmã e tirei uma foto com seu marido e seus filhos. Achei engraçado na hora, mas que coisa horrível, era como no filme Mulher Solteira Procura... (risos) Nem ela tinha uma foto com a família! (risos) A história de amor romântica do filme é bonita, mas a mais bela para mim é aquela entre mãe e filha.
Donna - A filha de Adaline está bem frágil, velhinha e não cuida da saúde. Tendo uma filha agora, entende melhor os sentimentos da personagem?
Blake - Como mãe, você só quer proteger seu filho. Isso deve ser duro, vê-la ficar cada vez mais frágil e próxima da morte. Ainda não tinha minha filha nos meus braços quando rodei o filme, mas ela já estava na minha barriga. Significou muito para mim rodar esse filme e pensar na relação entre mãe e filha.
Donna - Você é jovem e linda: como encara o envelhecimento, tema do filme?
Blake - Nunca tive medo de envelhecer até começar a dar entrevista sobre esse filme! (risos) "Como se sente pelo fato de sua carreira acabar em dois anos, quando fizer 30?", as perguntas vão mais ou menos nessa linha. Para mim, cada ano que ganho é mais empolgante, porque tenho mais oportunidades, mais papéis. Essa obsessão com a juventude não existe só em Hollywood. O filme pega essa ideia e diz que o tempo só é valioso por causa das pessoas que amamos. Sem elas, todo o tempo do mundo não vale nada.
Donna - Mas você se preocupa com isso?
Blake - Eu digo que não agora, mas me pergunte em dois ou 10 anos, quando eu tiver pés de galinha! É fácil de dizer agora que adoro envelhecer. Mas também aprendi que, até você passar pela experiência, é muito difícil de falar sobre o assunto.
Donna - Tem algum segredo de beleza?
Blake - Ai, meu Deus! Minha mãe é a MacGyver da beleza, usa o analgésico Advil em líquido como blush. Passou cinzas de um cinzeiro como sombra uma vez. Ela sempre dá um jeito! (risos) Não vou sugerir nada disso. Sempre uso um bom batom e uma boa máscara. E Advil, vai que!
Donna - Nem parece que você teve um bebê, você está incrível.
Blake - Ainda estou uns nove quilos acima do meu peso.
Donna - Imagine!
Blake - Verdade! Mas está tudo concentrado no meu peito esquerdo. Você se veste apropriadamente, se conforma de que certas coisas não têm a mesma aparência de antes e espera que tudo volte ao lugar depois.
Donna - Com o bebê, tem tempo para cozinhar e assar bolos?
Blake - Ficou bem mais difícil, tenho de fazer tudo com uma mão só! Adoraria que ela cozinhasse comigo, que fizesse bolos, no futuro. Mas, se ela quiser só brincar com bonecos GI Joe e carrinhos, tudo bem! Fico feliz com o que ela quiser.
Donna - Já sentiu mágica na sua vida?
Blake - Totalmente! Minha mãe me educando! Ela é Willy Wonka! Ela é feita de magia, sempre preenche sua vida com magia.
Donna - De onde veio a inspiração para seu site Preserve?
Blake - Sou péssima em folgas. Queria algo criativo, que me tomasse todo o tempo. Essa é minha ideia de folga! Comecei essa companhia inspirada pela minha mãe. A maneira como ela nos criou foi sempre tentar criar um momento especial. Seja com uma refeição, com um arranjo de flores, ou fazer um vestido. Nunca teria tanta habilidade, mas foi inspirador crescer nesse ambiente. Foi algo que sempre fiz na minha vida, agora estou compartilhando.