Uma recente pesquisa revelou que apenas 8% da população feminina do Brasil é empreendedora. É um número ainda baixo, mas bastante importante, principalmente entre as conquistas celebradas no Dia Internacional da Mulher. Esta pequena porcentagem, revelada pelo levantamento da Serasa Experian, pouco reflete o universo de Jeane Moura, criadora da DNA Natural, atualmente a maior franquia de alimentação saudável do país. Os números que a cercam são de gente grande. Ela comanda, pelo menos até o fechamento desta edição, 77 franqueados espalhados de Norte a Sul, tem previsão de chegar a 200 no fim de 2015 e quando dezembro terminar terá inaugurado as primeiras quatro unidades nos Estados Unidos.
A história da florianopolitana de 37 anos passa pelo estilo de vida literalmente transportado para seu negócio. A ideia de criar um espaço para servir saladas, sucos e grelhados, entre outras opções de um cardápio pensado para o bem-estar, surgiu em 2005. Recebeu o convite do shopping Iguatemi, na época em processo de construção em Floripa, para instalar uma lanchonete na praça de alimentação e não titubeou.
– Na casa da minha família sempre tivemos frutas no café da manhã, assim como sempre comemos salada. Quando surgiu a oportunidade da loja, comecei a pesquisar sobre este tipo de empreendimento, que nem existia no Brasil, era tudo muito novo – relembra.
Como na maioria dos cases de sucesso, a empresária agiu intuitivamente, apenas com a experiência de anos de trabalho no comércio. No currículo, Jeane foi de vendedora a gerente e se especializou no atendimento ao cliente. É viciada em resolver problemas. E lá atrás já vendia sanduíches e bombons para suas colegas de trabalho.
– Eu sempre fui de criar coisas, sempre gostei de inventar o que ia comer.
Antes de se tornar uma expert na alimentação saudável, ela trancou a faculdade de Administração na Universidade Federal de Santa Catarina e foi morar no Rio de Janeiro. Para ascender profissionalmente, precisou voltar para a capital catarinense. Veio finalizar os últimos semestres que faltavam na faculdade. Neste meio tempo, casou e teve um filho.
Quando a DNA nasceu, também havia um bebê em casa. Nos dois primeiros anos, e já era 2007, Jeane não arredou o pé do caixa, da cozinha, do balcão. Viu com seus próprios olhos o negócio tomar forma e crescer.
– Essa primeira loja foi um sucesso. Eu passei dois anos no caixa conversando com os clientes. Eles chegavam e falavam sobre o que mais gostavam, sugeriam mudanças. Na época, eu tinha mais de 50 fornecedores, cada um chegando em um horário diferente. Uma loucura. Foi uma fase intensa de testes – comenta.
Os mesmos clientes que apontavam mudanças no cardápio também se mostravam interessados em abrir outras unidades da DNA. Ainda no caixa, anotava estes nomes. Interessado, seu marido na época abriu a segunda loja, na Lagoa da Conceição. Um sucesso também imediato. A partir daí, a ideia toma outras formas, foi preciso formatar melhor o projeto, criar fichas técnicas, uniforme, se preparar para o crescimento que viria nos próximos anos.
– Em seguida, o shopping Beiramar me chamou alegando que os clientes estavam pedindo uma loja, mas eles não tinham espaço na Praça de Alimentação. Então, pensamos num modelo de quiosque e abri a terceira unidade. Quando eu vi tinha três formatos diferentes. E isso ainda é o meu diferencial em relação à concorrência.
Quando recebeu a proposta de um interessado em abrir uma unidade em João Pessoa, na Paraíba, mais uma vez, Jeane não pensou muito. Fez, o que ela admite, um caminho inverso no universo das franquias. O recomendado é crescer de forma aspiral, ou seja, a partir de suas cercanias. A experiência traumática a fez amadurecer.
– Foi um aprendizado de como não deveria ter feito. Mas se não fosse João Pessoa eu não teria hoje quase 25 lojas no Nordeste. Em Santa Catarina não cresci tanto quanto lá, é um absurdo o sucesso da alimentação saudável. São as lojas que mais vendem no Brasil – revela.
O meu cliente busca saúde, bem-estar e status. Antigamente, era bonito tirar uma foto fumando. Hoje, as pessoas têm orgulho de dizer que estão comendo bem.
Expansão internacional
Para quem quer abrir uma DNA Natural, recentemente eleita uma das 10 melhores franquias do país, é preciso desembolsar entre R$ 203 mil e R$ 300 mil para a instalação. O faturamento médio mensal é de R$ 110 mil com retorno entre 24 e 40 meses. Para Jeane, retornam os royalties de 5% do faturamento bruto.
Comandando uma equipe de 15 pessoas no escritório instalado no bairro Trindade, Jeane Moura mantém sociedade em apenas uma unidade, a de Jurerê Internacional, coincidentemente sua praia predileta na terra onde nasceu. Nesta loja, alguns testes da proprietária são colocados à prova.
– Eu testo todo dia, faço o que sempre fiz em casa. Ah, quero um produto novo, por exemplo, um suco pra memória. Aí eu falo com a minha nutricionista sobre as frutas que ajudam na memória, compro e faço os testes na minha cozinha. Sanduíches, pastas novas, tudo eu testo em casa. Gostei, mando para a nutricionista e vejo o que posso aplicar na DNA, fazemos uma segunda adequação, vai para a (definição) das calorias e do funcional para virar ficha técnica e entrar no mercado. Agora estou na fase de aceitar sugestões de franqueados.
Quando não está mergulhada no universo da alimentação saudável, Jeane, que finalizou recentemente um MBA em Franquia, costuma acordar sempre no mesmo horário. Às 5h ela pula da cama e, mais ativa do que em qualquer outro horário do dia, toma café da manhã e corre seus sagrados 10 quilômetros diários. O frescobol, outra de suas paixões, fica reservado para as tardes à beira-mar. Costuma anotar em um bloquinho suas ideias, surgidas geralmente ao despertar. Se o filho está em casa, cumpre as obrigações de mãe, responde e-mails e se prepara para ir ao escritório. Desde o final do ano passado tem tentado não responder mensagens à noite. Pode até deixá-las na caixa de saída, mas só serão enviadas no dia seguinte. É uma evolução. Para relaxar, costuma sair com as amigas para jantar e dançar. No Carnaval, por exemplo, passou pela passarela Nego Quirido. E não deixa de tomar seu vinhozinho ou umas doses de vodca com energético.
Conectada – diz que foi uma das primeiras brasileiras a adentrar o Facebook –, a empresária demorou até entregar para outra pessoa as postagens nas redes sociais da DNA. Em uma lista divulgada pela revista Exame, ficou na 21ª colocação no ranking de compartilhamentos entre 800 redes de franquias pesquisadas pela consultoria mineira Dito, credenciada pelo Facebook como desenvolvedora oficial de aplicativos. Até pouco tempo, era a própria Jeane quem respondia aos comentários. Passava cerca de três horas neste processo. Afinal, está em seu DNA essa relação com os clientes, desde sempre.
Disposta a expandir o empreendimento, neste ano Jeane se prepara para mais um salto. Vai abrir, até o final de 2015, as primeiras lojas nos Estados Unidos.
– Já estamos vendo pontos, fornecedores, começamos a negociar. Vamos abrir quatro lojas, começando pela Flórida, afinal, tem muito brasileiro por lá. Depois, Nova York e Califórnia – comemora, disposta a levar seus sucessos para os norte-americanos, incluindo o absoluto suco de açaí com guaraná, o mais vendido em toda a rede.
Outro braço surgido nos últimos anos foi o DNA Empório, uma loja que vende biscoitos integrais, grãos, frutas secas, castanhas, barras de cereais, chás, suplementos e produtos especiais sem lactose, sem glúten e diet. Quem comanda o negócio é o ex-marido e melhor amigo de Jeane. Ele cuida de tudo. Ela apenas licenciou a marca. Algumas unidades, inclusive, já contam com a lanchonete e o empório no mesmo endereço.
Com números tão sedutores é natural que Jeane venha sofrendo o assédio de grandes grupos, interessados em comprar a rede de franquias.
– Faz um ano e meio que estou sendo assediada. Talvez se eu chegasse no meu limite criativo poderia pensar em vender. Tenho dúvidas se continuaria com a mesma qualidade. Não quero sair e correr o risco de o negócio desandar.
E o que você quer?
– A marca vai fazer oito anos, é muito nova, ainda posso crescer muito. Tenho o projeto de ser uma McDNAs – ri, em alusão à poderosa rede de fast food norte-americana, enquanto passa a mão no braço tatuado. Nele, três estrelas estão desenhadas: uma pra ela, outra pro filho e a terceira para a DNA Natural.