A arquiteta e designer Roberta Banqueri vem a Porto Alegre nesta terça-feira (26), a convite da Casa de Alessa, para apresentar sua mais nova coleção, chamada Tupiniquim, a um grupo de 40 convidados da Capital. A linha de móveis já recebeu dois prêmios na 11ª edição do Brasil Design Award, no final de 2021: assinados por Roberta, o sofá Oca e a poltrona Cacau levaram o bronze na categoria Design de Produto.
A coleção evidencia elementos brasileiros e foi concebida em conjunto com a Più Mobile. Desde 2015, ela também faz parte da Associacão Brasileira de Design de Interiores (ABD), onde integra voluntariamente a diretoria do escritório regional de São Paulo.
Donna conversou com Roberta sobre o novo trabalho e sua visão sobre o design e a arquitetura nacional. Confira!
Como foi concebida a coleção Tupiniquim? Quais são as influências e inspirações?
Roberta - Da minha primeira coleção no design chamada Ponto — que marcou o ponto de partida, inicial e também ponto final da minha fase em maior parte como arquiteta e gestora (20 anos) — para a nova coleção Tupiniquim, já vinha pensando na valorização de elementos brasileiros de cada Estado, das culturas regionais e suas peculiaridades. Foi conversando com um amigo português sobre o Brasil e suas questões políticas, é que quis buscar mais conexão com as raízes e uma ressignificação da palavra Tupiniquim, muitas vezes associada de forma errada à cultura do país. Quero trazer a reflexão, um olhar mais acolhedor ao Brasil e sua cultura.
"Busquei uma conexão com a essência brasileira, a ressignificação e a reflexão sobre o País, com um olhar mais acolhedor."
ROBERTA BANQUERI
Arquiteta e designer que assina a coleção de móveis Tupiniquim
Como você transmitiu a ideia nos móveis?
Roberta - Na poltrona Cacau, por exemplo, faço referência à fruta, não só pelo nome mas por suas formas. A linha de sofás Abapo homenageia o quadro de Tarsila do Amaral (Abaporu). Quando olhamos para cada produto, é possível entender as formas nas quais me inspirei. Também trago reflexão sobre pontos não tão felizes, como na poltrona Limi. Quero falar das nossas limitações e também da resistência do brasileiro, que não desiste nunca. As pessoas se conectam com a história do produto. Outra alusão ao Brasil está no sofá Trespo, que remete à Praça dos Três Poderes. A peça traz acento solto, que não se prende nos encostos, reunindo o côncavo e o convexo. São três partes soltas que formam essa representação.
Materiais, cores e texturas?
Roberta - Após dois anos de pesquisas e desenho em 2019/2020, veio a pandemia e aproveitamos o tempo para aprimorar tudo antes do lançamento, em 2021. A coleção Tupiniquim mescla muita madeira com pedras exóticas brasileiras (pode ser conferido na linha de mesas Urbana Exótica). Dei uma pausa no uso do nero italiano, por exemplo, e exaltei pedras pretas, verdes e brancas exóticas. Entre os tecidos, a curadoria também é nacional, o que é bastante raro por aqui. Trabalhei com produtos ecológicos e curtume gaúcho para os couros.
Você é arquiteta e designer, como você define seu trabalho?
Roberta - Atuei por 20 anos com escritório e projetos de arquitetura, sempre com muita afinidade com projetos corporativos. Em 2010, percebi que a hotelaria de luxo cresceria muito, estudei esse mercado e complementei meu trabalho. Porém, estava com saudade de voltar à criação, e deixar um pouco o lado racional de atuar como gerente. Há sete anos, decidi seguir meu desejo de voltar a criar produtos pela fábrica. Estou muito feliz de ficar ali dentro, trabalhando, focada no design. Falta pouco para estar 100% só trabalhando no produto. Meu foco hoje é o mercado de design assinado, com propósito e produtos diferenciados, autorais, que aliem conforto à beleza, cumprindo a função do sentar e aconchegar.
Como você vê o mercado nacional moveleiro hoje?
Roberta - O mercado nacional está amadurecendo, é um momento de muita junção entre o designer e a fábrica. Há um entendimento de que essa união é importantes para todos da cadeia de produção. Tenho a ambição de trabalhar cada vez mais focada no desenvolvimento e criação junto às fábricas, quero pensar junto para inovar em tecnologia. Temos todas as condições de exportar ideias e tecnologias.
Quais são seus próximos projetos?
Roberta - Estarei na semana da DW! São Paulo Design Weekend (de 4 a 11 de setembro deste ano), onde vou levar uma linha de cadeiras fabricadas com a Doimo, uma empresa brasileira/italiana. Será feita no Brasil com toda a validação de qualidade da Itália. Serão peças com muito metal, couro e excelente ergonomia.