Com espaço destinado a negócios de 11.870 metros quadrados (área bruta locável) na primeira fase de revitalização, as charmosas edificações do Cais Mauá vão concentrar operações de gastronomia, cultura, serviços, moda, decoração e design, além de nove praças que vão abrigar espaços para crianças, bicicletários, aparelhos de ginástica e áreas gramadas
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Um sonho antigo dos porto-alegrenses está próximo de se tornar realidade. A revitalização do Cais do Porto da capital gaúcha está prestes a sair do papel. Criado pelo escritório Jaime Lerner Associados em parceria com o espanhol b720 Fermín Vázquez Arquitetos, somado à coordenação local da VRP Arquitetura, o projeto contempla soluções para a urbanização da área, com recuperação dos 11 armazéns, focando em espaços de lazer, cultura, gastronomia, serviços e comércio. Nove praças vão abrigar atrações para crianças, bicicletários, aparelhos de ginástica e áreas gramadas para convívio. A operação, capitaneada pela empresa Cais Mauá do Brasil, renova este espaço público para moradores e turistas à beira do Guaíba.
Com previsão de início para o fim deste ano, as obras serão realizadas com o objetivo de recuperar as características originais da antiga zona portuária, em especial as dos armazéns, construídos entre 1917 a 1927. O trabalho prevê, por exemplo, a complexa renovação da estrutura dos galpões usados como armazenamento, composta de peças metálicas rebitadas em ferro, importadas de Paris e montadas no local à época.
A pintura amarela será mantida, bem como os paralelepípedos de todo o calçamento do local, exigência do tombamento como patrimônio histórico. Também o pé-direito de sete a dez metros dos armazéns será mantido, mas a criação de mezaninos metálicos em seus interiores, com estruturas independentes, geram espaços novos dentro dos galpões.
Metal e vidro vão compor tanto o pórtico principal de acesso ao Cais quanto as novas construções que vão conectar um armazém a outro, mantendo visualmente o caráter de arquitetura industrial destas construções. Os antigos vitrais também serão mantidos após restauração.
Na área externa, uma grande pedra rosa de granito será preservada, bem como quatro dos 11 guindastes existentes. Para proteção de quem circula nessa região junto ao Guaíba, um guarda-corpo metálico, com passa-mão de madeira e fechamento em tela, foi planejado para interferir o mínimo possível no visual.
Sonho compartilhado
- A ideia é criar um grande passeio junto ao Guaíba e devolver este espaço para convívio da população - explica o arquiteto Rodrigo Poltosi, responsável pela coordenação local do projeto, que completa: - Desde a faculdade, os alunos costumam estudar soluções para o Cais. É um sonho dos arquitetos mexer nessa área.
Rodrigo destaca outro desafio do projeto arquitetônico e de urbanização da área: conciliar a infraestrutura subterrânea de luz, gás e cabeamentos preexistente com as exigências técnicas do patrimônio histórico. Há dois níveis de tombamento na área do Cais Mauá: o federal (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan) e o municipal (Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural, a Ephac), com diretrizes que guiaram as intervenções.
Inspiração em bons exemplos
Um grupo de executivos e equipe técnica, liderados pelo presidente da Cais Mauá, André Albuquerque, realizou visitas a quatro portos revitalizados para buscar referências para a operação comercial e de entretenimento em Porto Alegre. Os destinos escolhidos foram Victoria & Alfred Waterfront (Cidade do Cabo), Porto Antico (Gênova), Inner Harbor (Baltimore) e Port Vell (Barcelona).
- Queremos trazer o melhor para Porto Alegre. Cada local visitado foi escolhido por apresentar um diferencial - diz Albuquerque.
Barcelona foi realmente a grande inspiração. Também lá, a cidade ficava separada do rio por um muro. Aqui, o muro da Mauá não será derrubado, por se tratar de proteção contra cheias, mas trechos serão abertos na extensão.
- Pontos estratégicos estarão no eixo da Igreja das Dores, na Rua Caldas Jr, ruas importantes do Centro que terão vista direta para o Guaíba - diz Rodrigo.
Quanto à infra-estrutura, dois armazéns serão destinados a operações culturais, como saraus e eventos artísticos, por exemplo, sendo que outras áreas vão abrigar lojas de departamentos, moda e design, entre outras. Uma praça de alimentação com até 11 empreendimento de fast food está prevista.