Recentemente, eu passei uma noite em um ninho. Construído com galhos de eucalipto, ele foi instalado na lateral de um penhasco com vista para a Rodovia Pacific Coast, um grande emaranhado de gravetos em cima de pilares retorcidos. O vento norte chiava pelos vãos entro os galhos e a neblina descia sobre meu rosto e o saco de dormir, mas eu podia ver as estrelas através da pequena entrada do ninho e ouvir o som dos elefantes-marinhos quilômetros abaixo de mim, em uma canção de ninar sem igual.
Projetado e construído por Jayson Fann para o resort Treebones (com suas paisagens fantásticas), o ninho, que custa US$ 110 por noite, sempre está cheio. Fann, um construtor de ninhos, artista, educador comunitário e músico de 40 anos, afirmou que o ninho é tão popular, que já foi palco de casamentos e, inevitavelmente, já ajudou a gerar bebês, conforme atestam as fotos enviadas por pais orgulhosos.
De casulos New Age e brinquedos instalados nos quintais de gente rica, a instalações públicas feitas a partir dos galhos de árvores derrubadas por furacões, passando por objetos de arte contemporânea que podem ser comprados ao lado de Richters e Oldenburgs, os ninhos humanos parecem ter entrado na moda.
Na primavera deste ano, um fabricante de ninhos da África do Sul chamado Porky Hefer, que já trabalhou como diretor criativo da Ogilvy & Mather e Bozell, levou seus ninhos para um tour por feiras de design, da Design Miami/Basel e Collective 1 em Manhattan, à Design Days e, Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde uma frequentadora de salto alto subiu em seu ninho de couro vazado e ficou lá por meia hora.
- Acho que ela não tinha percebido que estava usando vestido - afirmou acerca de sua estadia prolongada no ninho.
- Provavelmente são o antídoto mais puro para os grandes prédios de concreto e aço que pouco a pouco tomam todas as cidades e megalópoles do planeta - falou Chee Pearlman, consultora de design e curadora.
Mas não é apenas o apelo do objeto feito artesanalmente - galhos e argamassa ao invés de vidro e aço - que torna os ninhos tão desejáveis. São os designs sofisticados nos quais se baseiam. Afinal, ninhos como os de Fann e Hefer estão longe de ser objetos inacabados. Assim como os ninhos que serviram de inspiração (dos pássaros tecelões, no caso de Hefer), esses casulos humanos são estruturas feitas cuidadosamente a partir dos materiais que estão à mão. Blogs de design estão cheios de exemplos: os ninhos de Fann, por exemplo, são firmes como bunkers de concreto; o eucalipto, abundante no norte da Califórnia, não é apenas adorável, mas firme e duro como aço.
- Os pássaros foram os primeiros arquitetos. Criando exemplos fantásticos e extremos de arquitetura modular e design paramétrico muito antes de qualquer crítico inventar esses termos. Eles também são os engenheiros summa cum laude, capazes de transformar materiais de construção baratos e leves nas casas mais duráveis e aconchegantes. Tudo isso sem nem um projeto em CAD, sem os quais os estudantes de hoje estariam perdidos - afirmou Pearlman.
Na pré-história, naturalmente, os homens nasciam em ninhos e nós os fabricávamos com muita destreza. Grandes símios como chimpanzés e bonobos ainda fazem ninhos complexos e adoráveis. O melhor da arquitetura moderna, como as casas de Frank Lloyd Wright, obtém muito sucesso porque oferece novos modelos de ninhos e tudo aquilo que os cerca, o que o geógrafo britânico Jay Appleton chamava de "prospecto e refúgio" - galhos aconchegantes e vistas abertas - que são familiares em função de nossos códigos evolucionários.
Em 2011, três homens adultos, um naturalista, um ornitologista e um engenheiro construíram um ninho de andorinha para abrigar seres humanos no Zoológico de Lincoln Park, em Chicago, e acamparam lá como parte da série de TV do canal Nat Geo Wild "Live Like an Animal". Durante uma entrevista por telefone concedida diretamente de sua casa na Inglaterra, James Cooper, o engenheiro, recordou como eles construíram o ninho com cordas elásticas e cana-de-feijão e o rechearam com "edredons, penas e travesseiros e mais um monte de coisas fofas".
Ele acrescentou:
- Basicamente, éramos três ingleses idiotas tentando nos comportar como andorinhas. Bebemos muito néctar, o que causa efeitos estranhos ao humor. A coisa mais interessante sobre tentar viver como um pássaro é que quando estamos lá no alto, cercados por animais de zoológico, nos sentíamos no lugar mais seguro e aconchegante de todos. A última coisa que queríamos era descer, sair daquela coisa e ficarmos entre os animais.
Mas o ninho não era grande o bastante para os três e ele foi mandado embora logo no começo. Cooper passou o resto da noite em um banco, tentando dormir entre os rugidos dos leões.
Janine Benyus, bióloga e autora vencedora do prêmio National Design Award do ano passado por seu trabalho com biomímica (ou seja, design que toma a natureza como fonte de inspiração e inovação), afirmou que invejava noites como essa e como a que eu passei no ninho em Treebones.
- Ai meu Deus! Eu também quero. A luz atravessando os galhos. Durante 99,9% de nosso tempo na Terra, éramos caçadores e coletores. Vivíamos em árvores. O que você vivencia ao olhar para os galhos dos ninhos é uma série de padrões fractais que evoluíram há milênios. Os biólogos dizem que somos adaptados pela evolução para preferir paisagens com esse tipo de padrão fractal - disse.