No fim da década de 1970, cerca de 5% das fertilizações in vitro eram exitosas. Recentemente, o índice de sucesso saltou para algo em torno de 50%. O avanço da ciência acompanhou as necessidades da sociedade permitindo, através de cada vez mais precisão, que casais realizem o sonho de ter filhos mesmo em cenários que antes pareciam impossíveis.
Essa confiabilidade faz com que mais pessoas procurem as técnicas de reprodução assistida com segurança. Mas não só isso: a quebra de alguns tabus também se mostra fundamental. Segundo a ginecologista Mariangela Badalotti, diretora da Clínica Fertilitat – Centro de Medicina Reprodutiva de Porto Alegre, as pessoas estão perdendo o constrangimento que havia em admitir a dificuldade para ter filhos.
– A reprodução era muito machista. A “culpa” era da mulher. Havia muita dificuldade de admitir socialmente a infertilidade masculina, que era muito associada à potência sexual, mas hoje essa barreira caiu. Antigamente era uma briga para o homem fazer o chamado “espermograma”, hoje é um exame de primeira consulta que aumenta a visibilidade do problema, caso haja – enaltece Mariangela.
Atualmente, a técnica mais utilizada é a fertilização in vitro, que vem ganhando incrementos importantes. Também é possível fazer a análise genética dos embriões antes de transferi-los para o útero - o chamado teste genético pré-implantacional. A sua aplicação é mais comum em casais de idade avançada e tem como objetivo identificar os embriões mais adeptos a gerar criança saudável.
No entanto, o trabalho em torno da reprodução assistida tornou-se ainda mais abrangente. Segundo Mariangela, mesmo que o objetivo final continue sendo a gravidez, os meios para isso foram se diversificando. Antes o foco era todo na concepção propriamente dita, mas hoje cresce a demanda pela preservação da fertilidade e as possibilidades para casais homoafetivos ou pessoas sem parceiro ou parceira.
– Com a mudança desses valores sociais, a busca da maternidade solo, antes chamada de produção independente, também é favorecida pelo avanço das técnicas. Percebemos que número de pacientes que se beneficiam dele é crescente – completa a ginecologista.
Já a preservação da fertilidade tem nas mulheres o principal público, uma vez que são elas que se colocam no dilema entre carreira e maternidade. Para isso, a chance de congelar óvulos e engravidar um pouco mais tarde ajuda a encontrar um equilíbrio. De acordo com Mariangela, a procura por essa opção tem crescido pelo menos 50% ao ano desde 2018. Ainda que em escala menor, os homens também contam com a opção de congelar espermatozóides.
Depois de 35 anos e mais de 6 mil vidas geradas, a Clínica Fertilitat continua se atualizando e trazendo para o Brasil o que há de mais avançado no mundo quando o assunto é reprodução assistida. Tudo para realizar sonhos.
– Lidar com a vida já é algo fantástico. Ajudar a gerar a vida, então, é no mínimo encantador. As pessoas sonham com isso e nosso trabalho é ajudar a realizar esse sonho, que também é o nosso – conta Mariangela.
Tradição e confiança
A ginecologista lembra que a trajetória da equipe é marcada pelo pioneirismo. A clínica foi responsável pelo primeiro bebê de reprodução assistida da região sul do Brasil e pelo primeiro óvulo congelado do país. Além disso, foi a primeira da América Latina a promover a fecundação com um espermatozoide retirado diretamente do testículo, técnica empregada quando o homem ejacula, mas não saem espermatozoides.
São mais de 50 profissionais em uma equipe multidisciplinar que conta com médicos, psicólogos, nutricionistas, profissionais do setor administrativo, entre outros. Todos engajados na realização do sonho de muitas famílias. Essa relação os torna personagens importantes em muitas histórias.