Martha Medeiros
Eu devia ter uns 14 anos e estava numa festa em que meus pais também estavam. Até que tocou uma música. Percebi que era da banda preferida deles. Então olhei para o meio do salão e, ato contínuo, tapei os olhos, abrindo uma fresta entre os dedos para ter certeza: eles estavam dançando. Meu pai, minha mãe. Dois matusaléns beirando os 40 anos, parecendo um casal de travoltas. Que mico. Aliás, naquela época não se dizia “que mico”. Não lembro a expressão que se usava para a sensação de querer cavar um buraco e sumir. Será que minhas amigas estavam percebendo o “tio” e a “tia” jogando a cabeça para trás e os braços para o alto? Acho que não, elas deviam estar chocadas com os próprios pais, que também combatiam a morte ao som dos Bee Gees. Hoje esse constrangimento adolescente tem nome: cringe.