No livro de ensaios de Ana Karla Dubiela, As cidades de Rubem Braga e W. Benjamin, encontrei uma crítica de Rubem Braga a uma reportagem da antiga revista Manchete que mostrava as “10 mais elegantes de 1967” e que assim foram analisadas por nosso cronista maior: “Que aura envenenada lhes tirou o encanto, e as deixou ali tão enfeitadas e tão banais, tão pateticamente sem graça, expostas naquelas páginas coloridas como risíveis manequins em uma vitrine de subúrbio?”. Ana Karla complementa: aquelas mulheres que um dia representaram o símbolo de perfeição e encantamento burgueses, que romantizavam a riqueza e o desnível social, agora denunciavam, em seus rostos caricaturais, a decadência de um tempo.
Quase posso visualizar a foto das madames, idêntica a tantas outras que costumavam ser publicadas nas colunas sociais, na distante época em que ter “berço” ou um sobrenome de peso justificava o destaque.
Mas a roda gira e esse tipo de jornalismo acabou. Foi substituído pela valorização de pessoas que alcançam prestígio por razões mais consistentes do que ter uma herança a caminho ou uma plástica bem-feita: ganha foco, hoje, os que contribuem para a sociedade através de suas habilidades, talentos, ideias. Nem é obrigatório um sobrenome; o apelido, às vezes, basta.
Ainda estamos no meio de uma pandemia e o item mais elegante do vestuário deixou de ser a bolsa de grife e o blazer de cetim de seda com estampa de leopardo, e sim a boa e indispensável máscara.
No vácuo, coube às redes sociais continuarem a dar uma forcinha para a vaidade sem motivo, com a vantagem de agora ninguém mais depender de um colunista social e de um fotógrafo para aparecer: é só tirar uma selfie, escrever a legenda e postar em sua própria página. Cada um de nós tem uma Ilha de Caras para chamar de sua.
A egotrip é uma tentação, eu sei. Por mais que se tente oferecer algum conteúdo aos seguidores, é difícil resistir e não postar aquela foto “de revista”, em que você está segurando uma taça de champanhota ao lado de 15 amigas durante o entardecer, em um coquetel à beira do Mediterrâneo. É de bom-tom? Consultas com a especialista em etiqueta virtual Keila Mellman, personagem oportuníssima da atriz Ilana Kaplan, e com a blogueirinha do fim do mundo, personagem da perspicaz Maria Bopp que, com sua ironia crítica, atinge em cheio a turma dos sem noção.
Ter nascido rico e lindo não é crime, ninguém precisa se atirar do alto da pirâmide. Porém, estamos em 2021: ostentar é cafona, aglomerar é perigoso e a insensibilidade diante do momento presente não é de bom-tom. Em caso de dúvida, siga Ilana e Maria, gurus da inteligência e do humor em tempos de pandemia – sim, ainda estamos no meio de uma pandemia e o item mais elegante do vestuário deixou de ser a bolsa de grife e o blazer de cetim de seda com estampa de leopardo, e sim a boa e indispensável máscara. E uma camiseta regata para facilitar a aplicação da vacina. No aqui e agora, gente com tutano é que está entre as 10 mais.